786 - FILIPOVIC

Já depois de, em tenra idade, ter deixado Belgrado para morar no Montenegro, o regresso à capital da antiga Jugoslávia abrir-lhe-ia as portas do futebol. Nas “escolas” do Crvena Zvezda (Estrela Vermelha), Zoran Filipovic faria todo o seu percurso formativo. Com a naturalidade de um predestinado, seria com distinção que o avançado passaria todos os desafios dessa etapa inicial. Com 17 anos apenas, e aferindo todas as suas qualidades, dá-se a chamada à primeira equipa. A temporada de 1970/71 marcaria, desse modo, a subida da jovem promessa ao plantel principal. O jogo de estreia, disputado no âmbito das competições europeias, seria contra os húngaros do Ujpest FC. Contudo, a maior curiosidade deste episódio, prender-se-ia com o facto de o treinador adversário ser Lajos Baroti, o mesmo técnico que, anos mais tarde, apadrinharia a sua entrada no Benfica.
Não foi apenas no Estrela Vermelha que o ponta-de-lança conseguiria despontar prematuramente. Sendo um jogador que primava pela elegância dentro de campo, a sua impulsão, posicionamento e sentido de baliza faziam dele um avançado temido. Ora, tantos predicados, e revelados tão precocemente, levariam os responsáveis da selecção a chamá-lo a uma partida da qualificação para o Euro 72. Esse jogo frente à República Democrática Alemã, dando continuidade a uma série de chamadas nas camadas jovens, daria início a uma caminhada que, na minha opinião, ficaria um pouco aquém das espectativas. Com a principal camisola da Jugoslávia conseguiria atingir as 13 internacionalizações, um número que não faria justiça às suas capacidades.
Voltando ao Estrela Vermelha, 10 épocas a envergar a camisola vermelha e branca permitir-lhe-iam superar diversas metas. O tempo passado com os seniores, faria de Filipovic um dos atletas com mais jogos efectuados pelo emblema de Belgrado. Claro que no que diz respeito a remates certeiros, também os números apontariam a sua qualidade. Para além de ter conseguido sagrar-se o Melhor Marcador do Campeonato de 1976/77 (21 golos), a sua pontaria levá-lo-ia a conquistar o título de goleador máximo da história do clube nas competições da UEFA.
Só a falta de abertura entre o Bloco de Leste e a Europa Ocidental, é que impediria Filipovic de viajar até uma das ligas mais prestigiadas do “Velho Continente”. Esse constrangimento seria ultrapassado no início dos anos 80 e numa altura em que já contava no currículo com 3 Campeonatos e 3 Taças da Jugoslávia. Todavia, a sua transferência para os belgas do Club Brugge não correria de feição e, um ano após a sua chegada, o atleta estava de partida para outro país. Em Lisboa, e como já foi referido, reencontrar-se-ia com o técnico Lajos Baroti. Apesar de ter chegado “à experiência”, os bons resultados que, desde os primeiros dias, conseguiria demonstrar, fariam com que o contracto fosse assinado. Em boa hora aconteceu porque, nos anos vindouros, o avançado tornar-se-ia numa referência para o Benfica.
Apesar de uma primeira época positiva, a melhor temporada de Filipovic com as cores da “Águia” seria a de 1982/83. Com Nené como seu companheiro no ataque, o jogador seria essencial nas vitórias conseguidas. Muito para além da “dobradinha”, essa campanha ficaria marcada pela presença do Benfica na final da Taça UEFA. Para esse feito muito contribuiriam os seus golos. 3 nos quartos-de-final contra a Roma, e mais 1 nas meias-finais frente à Universitatea Craiova, empurrariam os “Encarnados” para esse derradeiro encontro. Na final, e apesar de ter disputado ambas as mãos, a sua veia goleadora acabaria por ser ofuscada pela defesa do Anderlecht.
Já depois de, na temporada seguinte, o seu desempenho pessoal ter ficado um pouco aquém daquilo que era esperado, o atleta muda-se para a cidade do Porto. Com mais um Campeonato (1983/84) na bagagem, a sua transferência para o Boavista como que marca a última etapa na sua carreira de futebolista. Seria também no Bessa que Filipovic faria a transição para as funções de técnico. Ainda como adjunto, o antigo avançado daria os primeiros passos de uma nova vida. Nessas funções de treinador, e como uma carreira que já vai longa, há que destacar as suas passagens não só pelo Campeonato Nacional, como por outros países. Salgueiros, Beira-Mar, Vitória de Guimarães e Benfica (adjunto de Artur Jorge) também fazem parte desse seu percurso. Claro está, há também que fazer referência às suas passagens pela Sampdoria, o regresso ao Estrela Vermelha ou o seu papel nas selecções da Jugoslávia e Montenegro.

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