775 - ANCELOTTI

Apesar de ter dado os primeiros passos nas divisões inferiores do “Calcio”, as boas prestações que foi conseguindo durante esses anos levá-lo-iam a despertar a cobiça de outros clubes. No Parma, onde faria a transição das “escolas” para o patamar sénior, Ancelotti haveria de conquistar a fama de jogador combativo. Curiosamente, contrastando com essa apreciação, o seu papel dentro de campo até era mais dado a funções ofensivas. Nessas tarefas, o médio ajudaria o clube a atingir a “Serie B” e tornar-se-ia numa das principais revelações saídas do conjunto orientado por Cesare Maldini.
Já com o Inter de Milão na sua peugada, é a AS Roma que, para a temporada de 1979/80, consegue contratá-lo. Integrando-se com relativa facilidade, a sua presença no meio-campo romano torna-se num dos principais esteios da dupla vitória na Taça de Itália (1979/80, 1980/81). Sempre na senda dos sucessos, aos quais não é alheio o trabalho do técnico Nils Liedholm, Ancelotti enriquece o seu palmarés com a conquista do “Scudetto” de 1982/83. Ainda sob a alçada do treinador sueco, alcança novo triunfo na “Coppa”. Contudo, essa temporada de 1983/84 ficaria marcada pelas provas continentais. Conseguindo, resultado da vitória na época anterior, marcar presença na Taça dos Campeões Europeus, os “Lupi” atingiriam a final da referida prova. O centrocampista, lesionado, falharia o derradeiro encontro e, num desafio que até seria disputado no Olímpico de Roma, nada pôde fazer para evitar a derrota imposta pelo Liverpool.
Os últimos anos com a camisola da AS Roma, onde ganharia mais uma Taça (1985/86), elevariam o estatuto de Ancelotti. Com a chegada de Sven-Göran Eriksson à capital italiana, o médio vê a sua importância aumentar e passa a envergar a braçadeira de capitão. Estando, ou não, relacionado, é também durante esse período que a sua presença na equipa nacional começa a ser mais regular. Essa assiduidade levá-lo-ia a ser chamado aos principais certames para selecções. Pela “Squadra Azzurra”, o atleta é chamado ao México 86 – onde não chega a entrar em campo –, participa no Euro 88 e no Mundial de 1990.
Por altura desses dois últimos torneios, já Ancelotti tinha deixado a AS Roma para representar o AC Milan. A jogar pelos “Rossoneri”, as metas atingidas triplicariam o valor do seu currículo. Aproveitando o início do melhor período da história do clube, o médio acrescentaria ao seu rol de vitórias 2 “Scudettos” (1987/88; 1991/92) e 1 “Supercoppa” (1988/89). Todavia, e sem menosprezar tais vitórias, seria no plano internacional que o jogador conseguiria maior realce. As 2 Taças Intercontinentais e as 2 Supertaças ganhas nas campanhas de 1989/90 e 1990/91, seriam o reflexo dos sucessos conseguidos na disputa da Taça dos Campeões Europeus. Na referida competição, e tendo já vencido a edição de 1988/89, destaque para a final de 1990, onde ajudaria o seu clube a derrotar o Benfica.
Tendo “pendurado as chuteiras” no Verão de 1992, a sua carreira como treinador começaria de imediato. Nessas funções, o antigo futebolista, muito para além de igualar os sucessos alcançados dentro de campo, tornar-se-ia num dos melhores técnicos a nível mundial. Com um percurso que já o levou a disputar as melhores ligas, o seu currículo conta com títulos em Itália, Inglaterra, Espanha, França e Alemanha. Entre tantas vitórias, divididas por clubes como Juventus, Milan, Chelsea, Paris SG, Real Madrid ou Bayern Munique, há que destacar as 3 “Champions” conquistadas. A última final (2013/14), vencida ao serviço dos “Merengues”, seria disputada no Estádio da Luz e contaria com a presença e um golo de Cristiano Ronaldo.

774 - ROGÉRIO

Com especial aptidão para jogar no meio-campo, Rogério emerge das camadas jovens do União de São João com a fama de atleta voluntarioso. Essa característica, lado-a-lado com as suas qualidades técnicas, valer-lhe-iam a transferência para um dos maiores clubes brasileiros. Já no Palmeiras, onde chegaria em 1996 e passado um ano após a promoção ao patamar sénior, algumas coisas iriam alterar-se na sua carreira. Por exemplo, ao ser adaptado a lateral-direito, Rogério passaria a ser visto como um jogador de qualidades polivalentes. Também no que a vitórias diz respeito, a ambição do novo clube permitir-lhe-ia ganhar uma nova aura. Logo na primeira época consegue para o seu currículo o Campeonato Paulista; já em 1998, viriam as conquistas da Copa do Brasil e da Copa Mercosul, para, na temporada seguinte, ajudar a vencer a Libertadores da América.
Ora, o sucesso que alcançaria ao serviço do conjunto de São Paulo, levaria a que fosse chamado à selecção brasileira. Aliás, é já depois de ter conseguido 4 internacionalizações que, em 2000, a sua ida para o Corinthians fica envolta em polémica. Com a troca de clubes, e tendo como justificação a “lei do passe” (algo similar à antiga “lei da opção”, em Portugal), o Palmeiras exige o pagamento de uma elevada maquia. Os argumentos esgrimir-se-iam e o jogador diria que, por parte do seu antigo emblema, nunca houve vontade de prolongar o contrato e que, inclusive, treinava à parte do restante plantel.
O caso arrastar-se-ia durante anos a fio, até que, em 2011, a decisão acabaria por pender a favor do Palmeiras. Claro está que, durante esse longo hiato, o jogador não seria obrigado a interromper a carreira. No Corinthians, onde esteve até 2004, voltaria a engordar o seu palmarés, tendo conquistado mais 2 “estaduais” de São Paulo (2001; 2003) e uma Copa do Brasil (2002). Foi também durante esse período que Rogério passou por Portugal. Em ano e meio de “Leão” ao peito, ainda que longe de anteriores conquistas, o seu percurso haveria de ficar marcado por histórias importantes. A final da Taça UEFA de 2005/06 tornar-se-ia num desses momentos. Estando o referido encontro marcado para o Estádio de Alvalade, o favoritismo dos “Verde e Brancos” era enorme. A probabilidade de uma vitória leonina tornar-se-ia ainda maior quando, com 28 minutos decorridos, Rogério inaugura o marcador. O pior viria na 2ª metade do encontro. Com 3 golos, o CSKA de Moscovo conseguiria inverter o destino do jogo e o Sporting deixaria escapar o título europeu.
Foi em 2006 que o seu regresso ao Brasil aconteceu. Tendo assinado pelo Fluminense, o que restou da carreira de Rogério acabaria por ser vivido em constante corrupio. Já após ter representado mais uns quantos emblemas, o atleta, em 2008, decide pôr termo à sua actividade como futebolista. Contudo, e depois dessa primeira aposentação, o desafio lançado por uma outra estrela do futebol brasileiro fá-lo-ia voltar atrás. Vampeta, que por essa altura já tinha abraçado as funções de treinador, convida-o a jogar pelo seu clube. Essa aparição com as cores do Grêmio Osasco, faria com que o percurso de Rogério ganhasse novo folego, prolongando-se, ainda que pelos escalões inferiores, por mais alguns anos.

773 - ETTORI

Depois de ter entrado para a INF Vichy, famosa academia criada pela Federação Francesa de Futebol, a sua ida para o AS Monaco dar-lhe-ia a conhecer o único emblema profissional de toda a carreira. Tendo chegado para a campanha de 1975/76, as primeiras épocas no Principado não seriam fáceis para o guarda-redes. Com 20 anos de idade e sem conseguir um lugar no “onze” inicial, Jean-Luc Ettori, no final dessa temporada de estreia, veria ainda o clube descer de divisão.
Já o regresso ao escalão máximo do futebol gaulês, traria uma mudança de paradigma ao trajecto do guardião. Titular do conjunto monegasco, estatuto que conseguiria manter até aos últimos dias como atleta, Ettori tornar-se-ia peça fulcral nos sucessos alcançados durante essa temporada de 1977/78. Sendo a sua equipa uma das recém-promovidas à “division 1”, foram poucos a apostar no desfecho dessa época. A verdade é que, muito mais do que lutar pela permanência, ou fazer um campeonato tranquilo, o Monaco haveria de pasmar muita gente e conseguiria conquistar a Liga francesa.
Nisto de títulos, o percurso do guarda-redes ainda teria mais para contar. No cômputo da sua vida como futebolista, Ettori conseguiria arrecadar 3 Campeonatos (1977/78; 1981/82, 1987/88) e 3 Taças (1979/80; 1984/85; 1990/91). No entanto, houve outras situações, ainda que sem troféus, que marcariam a sua carreira. O Mundial de 1982 seria um desses episódios. Tendo conseguido, até ao começo do referido certame, alcançar apenas duas internacionalizações, o seu nome, ainda assim, seria incluído por Michel Hidalgo na lista de convocados. Mas se a chamada para a fase final, tendo em conta a sua qualidade, até seria bem aceite, já a escolha do seu nome para o “onze” inicial causaria algum espanto. Independentemente da surpresa, o que é certo é que das 7 partidas disputadas pela sua equipa, o guardião estaria presente em 6. Seria nessa caminhada, na qual ajudaria a França a chegar ao 4º lugar, que faria aquele que, por muitos, é recordado como o seu melhor jogo. Na meia-final disputada com a República Federal Alemã, conseguiria segurar a igualdade a 3 golos, arrastando o encontro para o desempate por grandes penalidades. Já no tira-teimas, o jogador seria incapaz de travar os adversários e, desse modo, falharia a presença no derradeiro embate do torneio.
Outra ocasião marcante, seria a final da Taça dos Clubes Vencedores das Taças de 1991/92. Nessa partida, marcada para o Estádio da “Luz”, Ettori, segundo palavras do próprio, viveria o pior momento da sua carreira. Num grupo que contava com jovens craques como Emmanuel Petit, Lilian Thuram, George Weah, Youri Djorkaeff ou, ainda, com o português Rui Barros, as projecções davam grandes chances aos monegascos. Todavia, um golo de Klaus Allofs e outro de Wynton Rufer levariam a mais uma desilusão.
Após essa final de Lisboa, o percurso profissional de Ettori começou a aproximar-se do fim. Tendo jogado 19 temporadas com as cores do seu clube, os números que alcançaria durante esses anos, levá-lo-iam a bater alguns recordes. 755 partidas em todas as competições, 602 das quais na Liga, fariam dele, com o terminar da época de 1993/94, o jogador que mais vezes vestiu a camisola do Monaco e o atleta com mais jogos na principal prova francesa.

772 - WYNTON RUFER

Num país onde o “rugby” é a modalidade com maior expressão, Wynton Rufer cresceria como adepto de futebol. Dando seguimento a essa paixão, seria no Wellington Diamond United que o avançado daria os primeiros passos como sénior. No emblema da capital neozelandesa, e em simultâneo com as presenças nas camadas jovens da equipa nacional, o avançado começaria a revelar um enorme potencial. Como resultado da habilidade demonstrada, o jogador acabaria por ser incluído nas convocatórias para a fase de apuramento do Mundial de 1982. Ainda assim, e apesar da sua estreia na selecção principal ter acontecido quando contava apenas 17 anos, a sua inclusão nessa fase adiantada da qualificação, causaria, entre os outros atletas, algum mal-estar. No entanto, essa desconfiança rapidamente desapareceria e o atacante, com os seus golos, tornar-se-ia decisivo para o sucesso do conjunto “Kiwi”.
Ainda antes da presença em Espanha, Wynton Rufer, acompanhado pelo seu irmão Shane Rufer, partiria para a Europa. A viagem até Inglaterra teria como destino o Norwich City. No emblema de Norfolk, e apesar de agradados os responsáveis técnicos, os dois atletas só vestiriam a camisola dos “Canaries” em jogos amigáveis. Tendo esbarrado em questões burocráticas, a transferência acabaria por não se concretizar e ambos os jogadores, após negada a Licença de Trabalho, regressariam a casa.
Alguns meses após a experiência no Reino Unido, é sem surpresa alguma que o nome de Wynton Rufer surge na lista de convocados para o Mundial de “nuestros hermanos”. A Nova Zelândia, estreante neste tipo de certames, acabaria por só averbar derrotas. Todavia, e apesar do desaire, a qualidade do jogador não sairia beliscada. Novos convites foram aparecendo e, numa altura em que representava o Miramar Rangers, surge a proposta do FC Zürich. Ora, tendo o seu pai nacionalidade suíça, a permissão para jogar no campeonato helvético seria conseguida com facilidade. Mais uma vez com o irmão como companheiro, Wynton Rufer partiria para nova aventura. Desta feita, e ao contrário da vivência anterior, o avançado tiraria enormes dividendos dessa sua participação. Ainda assim, e sendo considerado pela imprensa desportiva como a “descoberta do ano”, o jogador acabaria por envolver-se numa enorme polémica. Com o clube a querer impedir os irmãos Rufer de representar a selecção, atletas e dirigentes entrariam em rota de colisão. A contenda prolongar-se-ia durante anos a fio e o desfecho, 5 anos após a sua chegada, levaria à rescisão do contrato.
FC Aarau e Grasshoppers, onde, em ambos os casos, teria como treinador Ottmar Hitzfeld, seguir-se-iam na sua carreira e serviriam para alavancar o melhor capítulo da sua vida profissional. Já no Werder Bremen, onde chegaria na temporada de 1989/90, os seus golos ajudá-lo-iam a consagrar-se como um dos mais valiosos avançados a actuar na Europa. Os troféus conseguidos pelo emblema germânico haveriam de colorir o seu currículo. Contudo, a conquista da “Bundesliga” em 1992/93, as 2 Taças da Alemanha (1990/91; 1993/94) e ainda as 2 Supertaças ganhas (1993/94; 1994/95), seriam suplantadas por outra vitória. Com a derradeira partida marcada para o Estádio da “Luz”, os “Die Grün-Weißen” tinham pela frente o Monaco de Rui Barros. Um golo de Klaus Allofs e outro de Wynton Rufer serviriam para resolver a final europeia e a Taça dos Vencedores das Taças de 1991/92 seria entregue ao conjunto alemão.
Já depois de deixar o Werder Bremen, o percurso do avançado passaria por diversos emblemas. JEF United (Japão) e Kaiserslautern precederiam o regresso ao seu país. De volta à Nova Zelândia, assinaria pelo Central United. Pouco tempo depois, decide assumir outras responsabilidades e passa a conciliar o papel de jogador com o de técnico. Nessas novas funções representaria o North Shore e ainda os Auckland Kingz. Destaque também, ele que seria eleito pela FIFA como o melhor futebolista do século XX na Oceânia, para a sua passagem pelo comando da selecção da Papua-Nova Guiné.

771 - STEVIE CHALMERS

Filho de David Chalmers, um antigo futebolista do Clydebank, Stevie começaria a sua carreira por modestas colectividades juvenis. Já com 23 anos e a jogar no Ashfield, decide tentar a sorte naquele que era o clube do seu coração. Ao contrário do que tinha acontecido com o seu pai, os testes feitos com a equipa do Celtic correriam de feição e o jovem avançado seria aceite no emblema de Glasgow.
Antes da chegada do técnico Jock Stein ao clube, Stevie Chalmers, que era ponta-de-lança, haveria de ser testado noutras posições. Com o Celtic a atravessar momentos conturbados, a condução da equipa era, igualmente, dada a algumas confusões. Ora, seria num desses episódios que o jogador seria adaptado a extremo esquerdo. Como era de esperar, a experiência seria desastrosa e o atleta acabaria por ser o alvo da ira dos adeptos. Ainda assim e tendo, no meio de tanta desorganização, servido como bode-expiatório, o atacante seria incapaz de uma atitude menos educada. Aliás, o avançado ficaria conhecido pela sua índole aprazível, bem-formada e generosa, servindo, ao longo da sua carreira, como o exemplo a seguir.
Com o passar dos anos, as críticas a Stevie Chalmers tornar-se-iam unanimemente positivas. O consenso que conseguiria reunir à sua volta dever-se-ia, maioritariamente, à sua afinada pontaria. Nesse campo, e nas 13 temporadas em que representaria os “The Bhoys”, o avançado acabaria por tornar-se num dos atletas com mais remates certeiros feitos pelo Celtic. Os seus 231 tentos deixá-lo-iam, por altura da sua despedida, como o 2º melhor marcador da história do clube. Todavia, e no cômputo dos golos por si concretizados, houve um que ficaria na memória de todos. No Estádio Nacional do Jamor, na final da Taça dos Campeões Europeus de 1966/67, o 1-1 entre a equipa escocesa e o Inter de Milão parecia querer levar o encontro para prolongamento. É então que, à entrada da pequena-área, Chalmers desvia um pontapé de Bobby Murdoch. O esférico acabaria dentro da baliza italiana e esse 2-1, conseguido nos momentos finais do encontro, faria com que o Celtic vencesse o troféu.
Numa carreira recheada de sucessos, foram muitos os momentos inesquecíveis. A 3 de Janeiro de 1966, o avançado haveria de fazer um “hat-trick” no “derby” de Glasgow. Desde então, mais nenhum atleta do Celtic repetiria tal feito, fazendo de Chalmers o 3º e último a consegui-lo. Ainda nesse mesmo ano, desta feita com a camisola do seu país, o jogador é escalonado para defrontar o Brasil. Estando os “Canarinhos” a preparar o Mundial de Inglaterra, o “amigável” com a selecção da Escócia previa-se um bom teste. No entanto, a resposta dada pela equipa anfitriã, que no primeiro minuto faz mexer o “placard”, surpreenderia toda a gente. O “Escrete” ainda empataria o encontro, mas o golo de Stevie Chalmers mereceria inúmeros louvores e, no final da partida, valer-lhe-ia a troca de camisolas com Pelé.
Após ter vencido 6 Ligas, 4 Taças da Escócia, 5 Taças da Liga e a já referida Taça dos Campeões Europeus, o avançado acabaria por deixar o Celtic. A perna partida no decorrer da temporada de 1969/70, faria com o atleta começasse a perder algum espaço. É então que, para a época de 1971/72, aceita o convite do Morton e assume o cargo de treinador-jogador. Antes de regressar a Parkhead, desta feita como técnico das camadas jovens, o atacante haveria de ter uma passagem pelo Patrick Thistle, onde terminaria a sua carreira como futebolista.

770 - PICCHI

Aquando da sua estreia na equipa principal do Livorno, Armando haveria de partilhar o balneário com o irmão. Mas ao contrário de Leo, que nessa temporada de 1953/54 punha termo à sua caminhada, o mais novo da dupla Picchi estava ainda a dar os primeiros passos como profissional.
O pior é que, com o clube a militar entre a “Serie B” e a “Serie C”, a carreira de Armando Picchi parecia querer arrastar-se pelos escalões inferiores do “Calcio”. Só em 1959, meia dúzia de épocas após a sua promoção aos seniores, é que da divisão maior chega o primeiro convite. O SPAL, emblema recém-promovido ao patamar máximo do futebol italiano, decide apostar na sua contratação. O salto de dois patamares não assusta o atleta e, sem grandes dificuldades, consegue conquistar um lugar no “onze” inicial.
A sua permanência na equipa de Ferrara seria curta. Para esse facto contribuiria, e muito, a boa prestação que o conjunto conseguiria nessa temporada de 1959/60. O 7º lugar, melhor classificação de sempre do clube, faria com que os seus jogadores começassem a ser cobiçados por outros emblemas. O Inter, onde Helenio Herrera estava a preparar uma revolução, vai buscá-lo para reforçar o sector mais recuado. No conjunto de Milão, Picchi, que já tinha ocupado posições no meio-campo e na direita da defesa, passa a cumprir as funções de líbero.
No “catenaccio” imaginado pelo técnico argentino, Picchi, com todo o seu pragmatismo, passa a ser o jogador que serve de salva-vidas. Curiosamente, e não tendo como missão jogadas muito bonitas, o defesa até era um atleta que, sempre que podia, saía com a bola dominada ou tentava pô-la de forma jogável nos seus companheiros. Ainda assim, como poderão recordar aqueles que ainda o viram jogar, as suas maiores habilidades eram a força física e a maneira simples como tirava as bolas da grande área.
Foi nesses exercícios defensivos que o atleta auxiliou o Inter numa das fases mais prolíferas da história do clube. Apesar ter participado na obtenção de 3 “Scudettos” (1962/63; 1964/65; 1965/66), seria nas competições internacionais que alcançaria os maiores feitos da sua carreira. Já depois de ajudar à conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1963/64, logo no ano seguinte, e frente ao Benfica, Picchi consegue mais uma vitória na referida competição. Já na edição de 1967, numa final disputada no Estádio Nacional, o defesa, que por essa altura era também o capitão de equipa, vê o seu grupo ser batido pelos escoceses do Celtic. Contudo, e muito mais que a derrota, a sua atitude surpreenderia muita gente. Esmagado pelo poderio adversário, Picchi, como haveria de relembrar o seu colega Tacisio Burgnich, claudicaria e desiste de lutar por um resultado positivo – “Lembro-me que, a certa altura, Picchi virou-se para o nosso guarda-redes e disse: «Giuliano, deixa estar, deixar estar. Mais cedo ou mais tarde vão marcar o golo da vitória.» Nunca imaginei ouvir aquelas palavras. Nunca imaginei que o meu capitão dissesse ao nosso guarda-redes para deixar cair a toalha ao chão. Mas aquilo apenas mostra o quanto estávamos destruídos naquele momento. É como se não quiséssemos prolongar a agonia”*.
Seria no final dessa temporada de 1966/67, que o atleta deixaria o Inter para representar o Varese. A mudança de emblema levá-lo-ia também a fazer a passagem dos campos para a vida de treinador. A transição ocorreria ainda no seu último ano como futebolista, quando, após o convite dos dirigentes, assume o papel de treinador-jogador.
 Já no desempenho, em exclusivo, das funções de técnico, a progressão de Picchi dar-se-ia de forma espantosa. Uma temporada no já referido clube, outra no regresso ao Livorno e, para a época de 1970/71, a Juventus decide apostar na sua contratação. Tragicamente, a sua carreira terminaria de forma abrupta. Alguns meses após ter sido contratado pela “Vecchia Signora”, os médicos detectam-lhe um tumor em estado terminal. A sua morte, quando estava perto de completar 36 anos de idade, ocorreria em Maio de 1971.


*retirado do artigo de Luís Mateus, em www.maisfutebol.iol.pt, publicado a 15 de Abril de 2015

769 - BILLY McNEILL

Em 1957, contratado à equipa juvenil do Blantyre Victoria, apresenta-se no Celtic aquele que viria ser considerado o maior craque da história da colectividade. Curiosamente, os primeiros anos de Billy McNeill no emblema de Glasgow haveriam de ser muito conturbados.
Mesmo tendo conseguido, logo ao fim de um par de anos, ganhar um lugar no “onze” inicial, a balbúrdia em que o clube vivia, mantinha o jogador afastado da conquista de títulos. Com o seu descontentamento a atingir níveis insuportáveis, chegar-se-ia a falar da sua transferência para o Tottenham. No entanto, com a chegada de Jock Stein ao comando técnico da equipa, o cenário iria alterar-se radicalmente. A partir desse Março de 1965, o Celtic regressaria à senda dos sucessos. A primeira dessas vitórias, com o defesa a fazer o golo que decidiria o desafio, seria a Taça da Escócia de 1964/65. Daí em diante, o currículo de McNeill cresceria exponencialmente e os “The Bhoys”, durante a década seguinte, passariam a dominar o futebol escocês.
A preponderância que o atleta teve nessa ascensão é incontestável. Sendo um central que conseguia, tanto pelo ar ou com a bola no chão, impor-se a qualquer atacante, a sua importância em jogo era fulcral. Ainda assim, não foi só nos aspectos desportivos que Billy McNeill conseguiu destacar-se. Disciplinado tacticamente, era ele também que fazia cumprir a organização dentro de campo. A sua voz de comando, ou a maneira imperial como conduzia os seus companheiros, levá-lo-ia a assumir a braçadeira de capitão. Aliás, seria nessa condição que em Maio de 1967, participaria no maior feito do Celtic. Em Lisboa, no Estádio Nacional, estava marcado o embate entre a equipa escocesa e os italianos do Internazionale. Naquele que era o derradeiro jogo da Taça dos Campeões Europeus de 1966/67, e ao pé das estrelas “Nerazzurri “, a derrota da equipa de Glasgow era mais que certa. Todavia, McNeill era uma grande fonte de inspiração e como o próprio haveria de dizer – “A melhor coisa que tinha a fazer como capitão era mostrar à equipa que nós não tínhamos nada a temer”*. Independentemente do favoritismo do Inter, a verdade é que o Celtic soube agigantar-se. Depois do encontro ter terminado com 2-1, Billy McNeill, já com os seus colegas nos balneários, subiria à tribuna de honra e, das mãos de Américo Thomaz , receberia o almejado troféu.
Voltando ao plano nacional, os títulos ganhos pelo jogador são reflexo de uma época gloriosa. O Celtic, tendo o defesa como um dos principais esteios dessas vitórias, conseguiria conquistar 9 Ligas consecutivas, 7 Taças e 6 Supertaças da Escócia. Para o jogador, tamanho sucesso só poderia resultar em diversas chamadas à equipa do seu país. Nesse campo, a estreia, num desafio frente à Inglaterra, aconteceria em 1961. Nos 10 anos seguintes, a sua presença na formação nacional foi uma constante. Billy McNeill acumularia 29 internacionalizações, faltando-lhe, nesse seu percurso, a participação num dos grandes certames para selecções.
Em 1975, na sequência de mais uma vitória na Taça da Escócia, Billy McNeill é levado em ombros pelos colegas. Esse encontro frente ao Airdrie, marcaria o fim da sua carreira como futebolista. Ora, e já depois de “pendurar as chuteiras”, não tardou muito para que o antigo defesa abraçasse novas funções. Como treinador, a sua vida também haveria de ter imensos sucessos. Após ter começado no Clyde, e de uma curta passagem pelo Aberdeen, o regresso à cidade de Glasgow levá-lo-ia à conquista de novos troféus. Nas duas passagens que teve pelo Celtic, McNeill venceria 4 Ligas, 3 Taças e 1 Supertaça. Destaque ainda para uma mão cheia de épocas nos campeonatos ingleses, durante as quais treinaria o Aston Villa e o Manchester City.

 
*retirado de www.thecelticwiki.com

768 - ROBERT JONQUET

Depois de ter mudado de residência para a cidade de Reims, onde o seu pai abriria uma barbearia, o jovem Robert Jonquet entra para as “escolas” do clube local. Tendo já passado por outros emblemas, é no Stade de Reims que acaba a sua formação. Ora, terminado esse capítulo, é também na referida equipa que o defesa faz a passagem para o patamar sénior.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial na Europa, o campeonato francês retoma o seu rumo. Foi exactamente nessa temporada de 1945/46 que Jonquet, treinado pelo antigo internacional gaulês Albert Batteux, faz a sua estreia na equipa principal. Sendo um defesa muito mais aprimorado que os restantes colegas de posição, a sua ascensão seria rápida. Elegante e capaz de tratar a bola com igual graciosidade, por norma, eram dele os primeiros passes no desenvolver das jogadas ofensivas. Essa sua capacidade, tal como a segurança defensiva que transmitia, ajudá-lo-ia a tornar o seu clube num dos melhores conjuntos franceses dos anos 50.
Para ser mais exacto, a soberania do Stade de Reims começaria ainda no final da década de 40. Na temporada de 1948/49, o emblema da zona de Champagne ganha o primeiro campeonato da sua história. O clube, tendo Jonquet como esteio defensivo, para além de vencer mais 4 edições da dita prova, conquistaria ainda 2 Taças de França e 3 Supertaças. Todavia, o sucesso não seria alcançado apenas nas competições internas. Aliás, o estatuto que a equipa conseguiria alcançar, reflexo de planteis que, ao longo dos anos, contaria não só com o central, mas também com craques como Kopa, Piantoni, Hidalgo ou Fontaine, seria resultado das excelsas campanhas continentais. Nesse campo, a Taça Latina conquistada no Estádio Nacional (1953), precederia mais uma final perdida com o Real Madrid (1955). Depois, e apesar de novas derrotas frente aos “Merengues”, os franceses marcariam presença na final da Taça dos Campeões Europeus de 1956 e 1959.
Também ao serviço da selecção francesa, Robert Jonquet seria digno de grandes louvores. Após a sua estreia a 17 de Dezembro de 1953, partida frente ao Luxemburgo, o defesa é chamado a disputar os Mundiais de 1954 e 1958 e o Europeu de 1960. Apesar dos bons desempenhos em todos os torneios, aquele que ainda perdura na memória dos adeptos é o Campeonato do Mundo organizado pela Suécia. Na disputa do dito certame, a França atingiria as meias-finais. Já no referido jogo, os gauleses seriam eliminados pelo Brasil, onde brilhava um jovem atleta de seu nome Pelé. A dúvida que ainda paira no ar é: o que teria acontecido se, nessa partida, Jonquet não tivesse contraído uma grave lesão? Bem, o que nos contam as crónicas, é que os “Les Bleus” estavam a equilibrar a contenta. É então que, com o “placard” a marcar 1-1, Vavá atinge o defesa, fracturando-lhe a perna. A partir desse momento, a circunstância altera-se e a “Canarinha” acaba por vencer o desafio.
Seria depois de todas essas façanhas que, em 1960, Robert Jonquet deixa o seu clube para envergar outras cores. No Strasbourg disputaria os últimos jogos como futebolista e daria os primeiros passos na carreira de treinador. No desempenho dessas novas tarefas, e longe da ribalta que viveu dentro de campo, o antigo internacional regressaria ainda ao Stade de Reims. Depois, desiludido com a faceta capitalista do desporto, passaria apenas a colaborar com clubes amadores.

767 - ROGÉRIO de CARVALHO

Tendo deixado os estudos após concluir a 4ª classe, Rogério de Carvalho começa a trabalhar no Grémio das Carnes, no Rossio. Alguns anos mais tarde, e tendo como colega Fernando Peyroteo, foi por ele convidado para jogar uma partida de futebol entre os funcionários. O atleta do Sporting ficaria de tal maneira impressionado que, na sequência do desafio, dirige-se ao jovem jogador e convida-o a participar num treino do seu clube. Todavia, o dia das provas não correria de feição. Haveria dizer-se que os outros jogadores o tinham “sabotado”; haveria dizer-se que, durante o tal treino, ninguém lhe passou a bola; haveria dizer-se que ao saber do interesse do clube do seu coração, nem pensou duas vezes e preferiu o Benfica.
A sua estreia com a camisola das “Águias” aconteceria no Outono de 1942, mas numa altura em que a sua carreira já contava com alguns anos. No Chelas FC, onde o seu irmão Armindo França era a estrela do conjunto, Rogério de Carvalho tinha a fama de futebolista de fino recorte. Com uma técnica de excelência, rápido, ágil e com habilidade para o golo, o avançado era conhecido pela maneira subtil como tratava a bola. Por essa razão, o técnico Janos Biri daria ao jovem atleta uma oportunidade no “onze” inicial. Começando como extremo direito e, já mais para o fim dessa temporada, mudando-se para a ponta oposta, o atacante não decepcionaria. Aliás, ao apontar um golo na final da Taça de Portugal de 1942/43, seria fulcral na conquista da primeira “dobradinha” do futebol benfiquista.
Curiosamente, foi na disputa da Taça de Portugal que Rogério de Carvalho estabeleceu um recorde. Os 15 golos que conseguiria concretizar nas 8 finais que disputou, fazem dele o atleta com mais remates certeiros nesses desafios. Claro está que a sua carreira não se resume a esse pormenor. A sua qualidade era tal que, passados 5 anos após a sua entrada no Benfica, e numa altura em que já tinha feito a estreia pela selecção nacional, do outro lado do Oceano surge uma nova proposta – “Um dia entra-me um tipo todo aprumado no ‘Grémio’ e diz que quer conversar comigo. Eu topei-lhe logo a pinta: fatinho branco, bem engomado, bigodinho… era brasileiro. «Oi, seu Rogério, eu venho do Botafogo, conhece?» Conheço, conheço. «Nós queremos contratar um jogador estrangeiro, e você é o cara». Disse-lhe que não. E ele voltou lá, duas ou três vezes, e quando me ofereceu cinco mil cruzeiros – uma fortuna!, que você nem faz ideia – de ordenado, casa em Copacabana, e tudo pago, não pensei duas vezes e fui.”*.
Pela primeira vez, um futebolista português atravessava o Atlântico para envergar a camisola de um emblema brasileiro. Num clube onde o craque maior era o internacional “canarinho” Heleno de Freitas, a estrela “lusa” adaptar-se-ia facilmente. Todavia, com a sua esposa gravida, o desejo de que o seu filho nascesse em Portugal, fá-lo-ia voltar a Lisboa. Depois desses meses no estrangeiro, é em Março de 1948 que Rogério de Carvalho veste novamente a camisola dos “Encarnados”.
Não muito tempo após o seu regresso, a contratação de Ted Smith daria um novo sentido ao seu desempenho. Entendo que as suas capacidades serviriam melhor noutra posição, o técnico inglês adapta-o a interior-esquerdo. É já nesse lugar que em 1950, o atleta ajuda o Benfica à conquista do seu primeiro título internacional. Em pleno Estádio Nacional, frente aos franceses do Bordeaux, as “Águias” são forçadas a uma finalíssima. Nesse derradeiro encontro, e depois de um segundo prolongamento, os portugueses lá conseguem bater os gauleses e, pelas mãos de Rogério de Carvalho, é erguido o almejado troféu.
A chegada de outro mítico treinador vai, mais uma vez, alterar o rumo da sua carreira. Com a vinda de Otto Glória, o Benfica torna-se num clube profissional. A exigência desse novo paradigma, com treinos duas vezes ao dia, impossibilitaria Rogério de Carvalho de compatibilizar a sua actividade profissional, com a prática do desporto. Sabendo que como vendedor de automóveis iria receber mais dinheiro, o atacante decide deixar o clube para dar continuidade à sua carreira noutro emblema.
É no Oriental, clube fundado pela junção do Chelas FC com outras duas colectividades, que o avançado passa os derradeiros anos como futebolista. Nessas 4 temporadas, para além de ajudar o clube a voltar à 1ª divisão, o antigo atleta do Benfica viveria um momento caricato. Aquando do reencontro com as “Águias”, o atleta afirmar-se-ia incapaz de defrontar o antigo clube. Os seus colegas, perante tal recusa, diriam que, assim sendo, também eles não entrariam em campo. Perante tal prenúncio, o avançado não teve outro remédio: cedeu e disputou o encontro.
Rogério “Pipi”, alcunha ganha pelo seu aspecto sempre aprumado, terminaria a carreira no final da temporada de 1957/58. Apesar de ter posto um ponto final ao seu percurso federativo, o antigo internacional continuaria adepto e praticante de diversas actividades desportivas. Um bom exemplo dessa dedicação, foi a admiração que manteve pelo ténis. Muito para além do futebol, foi nos “courts” da modalidade que, daí em diante, passou a distrair-se e a exercitar o corpo.

 
*retirado do artigo de Tiago Palma, em www.observador.pt, publicado a 30/05/2015

FINAIS EUROPEIAS EM PORTUGAL

Foi no dia 25 de Maio, que, há 50 anos, o Estádio Nacional acolheu a decisão da Taça dos Campeões Europeus. Celtic de Glasgow e Inter de Milão, com a vitória a sorrir aos escoceses, haveriam de disputar o derradeiro jogo dessa edição. Contudo, essa não foi a única final que o nosso país já acolheu! Desde os primórdios da Taça Latina, a uma das últimas edições da “Champions”, Portugal já assistiu em seu território à resolução de várias dessas contentas. Assim sendo, iremos dedicar este mês aos atletas que por cá passaram, naquilo que escolhemos chamar “Finais Europeias em Portugal”.