758 - CÂNDIDO de OLIVEIRA

Tendo ficado órfão ainda em tenra idade, Cândido de Oliveira entra para a Casa Pia. Na secular instituição, destacando-se no “jogo da bola”, aprimora o seu gosto pelo desporto. Na sequência dessa paixão, já em 1914, ingressa no Benfica. Parte integrante da equipa de futebol, o avançado chega a praticar atletismo e luta greco-romana. No entanto, é nos “campos” que merece os maiores louvores. Ajuda o clube a vencer os Campeonatos de Lisboa de 1915/16 e 1916/17 e a Taça de Honra de 1919/20.
Sendo um confesso benfiquista, chegando a herdar a braçadeira de Cosme Damião, Cândido de Oliveira tinha outro sonho. O desejo de criar um clube com antigos casapianos, levá-lo-ia a deixar as “Águias”. Em 1920 funda os “Gansos” e, logo na temporada de estreia, o grupo consegue vencer o “regional” lisboeta. Poucos meses depois, a 18 de Dezembro de 1921, dá-se outro momento alto na sua carreira. Para disputar aquele que seria o desafio de estreia da selecção “lusa”, Portugal desloca-se a Madrid. Frente à Espanha, num “onze” que contaria com 4 atletas do Casa Pia Atlético Clube, a escolha para “capitão” recairia na sua pessoa.
Apesar de contar apenas com 1 internacionalização, Cândido de Oliveira haveria de transformar-se numa das maiores figuras do futebol português. Entre outros papéis, o de treinador foi o que mais contribuiu para esse estatuto. Tendo passado grande parte desse percurso ao serviço da selecção, foi ele que comandou a primeira participação da “Equipa das Quinas” num certame internacional. Em Amesterdão, nos Jogos Olímpicos de 1928, o conjunto “luso” cairia nos quartos-de-final. Ainda que longe das medalhas, a participação de Portugal deixaria os adeptos muito orgulhosos. À chegada ao nosso país, milhares de pessoas esperariam pela comitiva e o técnico haveria de ser um dos mais ovacionados.
Nas referidas funções, Cândido de Oliveira também passaria por Belenenses, FC Porto, Académica e, como o primeiro treinador português no Brasil, pelo Flamengo. No entanto, seria ao serviço do Sporting que conseguiria os seus maiores feitos. Numa altura em que imperavam os “Cinco Violinos”, a sua estreia coincidiria com a vitória na Taça de Portugal de 1945/46. Contudo, o seu título mais famoso seria o Nacional de 1948/49. Num Campeonato que estava muito disputado, a deslocação à “casa” do Benfica revelava-se de importância fulcral. Nas vésperas dessa jornada, disputada no Campo de Jogos das Amoreiras, da direcção leonina surge a acusação que o treinador estaria a congeminar a vitória dos rivais. A verdade é que o jogo terminaria com a vitória do Sporting, por 1-4. No rescaldo da partida, e ainda nos balneários, o técnico apresenta a demissão. Passados uns dias, o dirigente que o acusou bate à porta de sua casa. Apresenta as desculpas e informa-o da sua própria renúncia. Então, pede-lhe para repensar a sua decisão. Cândido de Oliveira concorda, mas com uma condição. Também o dirigente teria de voltar atrás. Assim aconteceu e, depois das pazes feitas, regressariam os dois ao Sporting.
Muito para além do percurso feito nos campos de futebol, também fora deles a sua vida mereceu grande destaque. Com um carácter marcadamente bondoso, ficou conhecido por ajudar muita gente. Um bom exemplo aconteceria aquando do convite para orientar o Belenenses. Chamado a substituir Artur José Pereira, afastado por motivos de doença, Cândido de Oliveira abdicaria do seu pagamento. Exigiu, então, que o salário revertesse a favor do antigo treinador e fundador do clube.
Outra história curiosa prende-se com o seu envolvimento na 2ª Guerra Mundial. Tendo uma posição privilegiada dentro dos CTT, onde era funcionário desde os 19 anos, os Serviços Secretos Britânicos acabariam por pedir a sua colaboração. Na eminência que estava uma invasão alemã a Portugal, os ingleses, sem dar conhecimento ao Estado Português, incumbem-no de montar uma rede de comunicações e resistência. A PVDE (precursora da PIDE) acabaria por descobrir tais planos e Cândido de Oliveira seria preso. Diz-se que António Roquete, antigo futebolista internacional, velho protegido do treinador e, por essa altura, agente da “Polícia Política”, teria tido grande peso na sua detenção e posterior espancamento.
Traído por alguém que tinha como próximo, acabaria deportado para o campo de concentração do Tarrafal. Já com o desfecho da contenda a pender, cada vez mais, para os “Aliados”, Salazar dá instruções para a sua libertação. O Estado Novo concede-lhe o perdão. Oferecem-lhe também nova integração nos Correios, a qual recusaria. É então que, neste cenário, tem uma ideia que mudaria o cenário do desporto em Portugal. Tendo sido um dos pioneiros do jornalismo desportivo português, colaborando em publicações como “O Século”, “Stadium” ou “Diário de Notícias”, decide criar um novo periódico. A 2 de Janeiro de 1945, tendo a seu lado Ribeiro dos Reis e Vicente Melo, funda o jornal “A Bola”.

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