610 - MANUEL MACHADO

Filho de um histórico do Vitória de Guimarães, o guarda-redes António Machado, a sua ligação ao futebol esculpir-se-ia de outras oportunidades. Sem grande carreira dentro das quatro linhas, ou, pelo menos, sem nada de relevante a apontar nesse contexto, Manuel Machado talhar-se-ia no banco dos suplentes.
Treinador de aferido em Portugal, o seu trajecto começaria a delinear-se no emblema onde seu pai é um símbolo. As camadas jovens vimaranenses, naquilo que era o começo dos anos 90, tornar-se-iam no seu tubo de ensaio. Depois veio a intermitência que, ora o punha como adjunto ou interino no Vitória, ora fazia dele o treinador principal de equipas de escalões secundários.
Após estes caboucos, Manuel Machado começaria a solidificar a sua carreira. A transição do Fafe para o Moreirense, haveria de se tornar num ponto fulcral do seu evoluir. Ao encetar esta nova etapa na 2ª divisão “B”, o sucesso que conseguiria ao serviço da formação de Moreira de Cónegos, chamaria a atenção para o trabalho perpetrado. Duas promoções consecutivas e a veleidade de, na época de estreia do clube na 1ª divisão (2002/03), conseguir um lugar tranquilo na tabela classificativa, convertê-lo-iam num treinador a ter em conta.
A partir desta altura, Manuel Machado cimentar-se-ia como um treinador de topo. A sua carreira, que jamais se afastaria do convívio dos grandes palcos, haveria de se construir de emblemas como os da Académica, Sp.Braga, Nacional, de uma curta passagem pelos gregos do Aris de Salónica e, claro, dos regressos a Guimarães. Seria mesmo na “Cidade Berço” que Manuel Machado daria um passo importante na consolidação do seu estatuto de primodivisionário. A obtenção de um 5º lugar na temporada de 2004/05, e a consequente qualificação para as competições europeias da época seguinte, seriam o sustento disso mesmo.
Hoje em dia no Nacional da Madeira, clube que conduziu à estreia europeia, Manuel Machado continua com uma postura singular e, de salutar no mundo do futebol, nada ortodoxa. Muito para além daquilo que põe em campo, da maneira ardilosa como monta as suas estratégias, há as acutilantes tiradas. Dono de uma eloquência distinta, a faculdade com que articula os seus raciocínios, faz dele um orador peculiar. Não é necessário muita pesquisa para que encontremos variadíssimos exemplos. Um desses momentos passar-se-ia após o embate contra o Sporting (2015/16), em que sofreria uma polémica derrota em Alvalade – “Isto deixa-me um pouco triste, ver este país de espinha dobrada, sempre a bater palmas aos Salgados e aos Azevedos e afins e que continua a espezinhar quem ganha o ordenado mínimo e que ainda tem de pagar impostos sobre isso."*.

 
*Em declarações à SportTV, a 21/09/2015

609 - PABLO SANZ


Natural da capital catalã, seria no Barcelona que Pablo Sanz daria os primeiros passos no futebol profissional. No entanto, a carreira do médio, apesar das qualidades que nele se reconheciam, haveria de esbarrar na equipa “B” “blaugrana”. Sem espaço para evoluir, a escolha do atleta, como para tanto outros ali formados, acabaria por ser a saída.
De malas aviadas para a capital espanhola, seria no Rayo Vallecano que encontraria abrigo. A temporada de 1997/98, era, desse modo, a oportunidade de Pablo Sanz fazer a sua estreia numa equipa principal. Ainda longe dos palcos maiores do futebol de “nuestros hermanos”, a continuidade no segundo escalão não desmoralizaria o jogador. Rapidamente, o centrocampista haveria de conseguir encontrar o caminho para o onze inicial, tornando-se numa das peças chave do plantel. A importância que granjeava dentro da dinâmica da equipa, faria de Pablo Sanz um dos principais responsáveis pelo regresso dos madrilenos à “La Liga”. Essa época de 1999/00, a da sua estreia no patamar maior, acabaria por mostrar que Pablo Sanz também era talhado para este tipo de desafios.
Num gruppo que foi contando com nomes como os de Lopetegui , o português Hélder (Sp. Braga; Boavista; PSG) ou o avançado angolano Quinzinho, as metas talhadas iam sendo cumpridas. Surpreendentemente, muito mais do que garantir a manutenção, o Rayo Vallecano ia conseguindo ultrapassar adversários de maior gabarito. Essas boas prestações colectivas, permitiriam a Pablo Sanz chegar às competições europeias, onde, para a temporada de 2000/01, atingiria os quartos-de-final da Taça UEFA.
Não só de alegrias foram feitos os 7 anos que Pablo Sanz passaria em Madrid. Em 2004, com o clube a viver a segunda despromoção num espaço de 2 anos, alguns adeptos acabariam por tomar atitudes desproporcionadas – “Foi o dia mais triste da minha vida: depois de sete anos no Rayo, sair do campo numa carrinha da polícia (…). Estávamos sitiados no campo. Tentamos ir por várias saídas, mas em todas havia gente a insultar-nos, gritando-nos. Fui o último a sair e um rapaz ou um homem, não me recordo bem, pediu-me a camisola. Ele estava à paisana e disse-lhe que não a podia dar. Então, agarrou-me o braço com força, insultou-me e vi que fazia um gesto para me agredir. Foi uma reacção instintiva e trocamos uns murros”*.
Este episódio, marcaria o derradeiro momento de Pablo Sanz com as cores do Rayo Vallecano. Curiosamente, a sua saída, apesar de inglória, acabaria por devolver o médio aos grandes palcos. O Numancia, que preparava a sua temporada 2004/05, haveria de ser a sua porta de regresso à primeira divisão espanhola.
Já com a barreira dos 30 anos ultrapassada, a carreira de Pablo Sanz não se prolongaria por muito mais tempo. Depois de representar o, já referido, emblema de Valência, o atleta acabaria por terminar a sua vida de futebolista ao serviço do Sabadell. Contudo, após um pequeno interregno, o antigo jogador haveria de voltar à modalidade, desta feita na condição de treinador.
Mormente ligado às equipas jovens, Pablo Sanz tem talhado o seu percurso como técnico. Essa experiência na formação, levariam a que a Federação da Costa Rica, em 2011, o escolhesse como coordenador dessas mesmas camadas. Seria, igualmente, para essas funções que o FC Porto, por indicação de Lopetegui, acabaria por o contratar. Pablo Sanz, com provas dadas nessas tarefas, é, desde 2014, o “Manager” da Academia  “Azul e Branca”.


*Retirado de http://getafeweb.mforos.com/  (22/06/2004), citando o jornal Marca.

608 - JOSÉ VITERBO

Apesar de só ter chegado à 1ª Liga na temporada passada (2014/15), para José Viterbo a história da Académica não era, de todo, estranha à sua própria existência. Se, por um lado, para documentar a sua ligação ao clube, tinha a presença nas balizas das equipas jovens, por outro, os anos que já tinha passado como técnico das camadas de formação, serviam para atestar o dito vínculo.
Mesmo sabendo desse passado comum, surpreendente foi a maneira como, desde o primeiro instante, Viterbo conseguiria manietar o público aos seus propósitos. A ideia de levantar a Académica, de a tirar das posições da despromoção, foi por si transmitida e acatada por os todos adeptos da “Briosa”. O veículo dessa mensagem, um só – a paixão que sempre nutriu pelo emblema conimbricense.
Depois de, no início do milénio, ter estado aos comandos da equipa “B” da Académica, os anos de separação entre o técnico e os “Estudantes”, prolongar-se-iam por mais de uma década. Contudo, o sonho de regressar àquela que sempre teve como sua casa, haveria de estar sempre presente. A prova seria o acordo que fez com Catarina Crisóstomo, a Presidente do seu último clube, antes do regresso a Coimbra – “Quando chegou ao Eirense foi bastante claro. Se tivesse algum convite para regressar à Académica, regressaria. A paixão é evidente e foi honesto a esse respeito”*.
Foi depois de muito vogar pelas divisões secundárias do nosso futebol, que José Viterbo voltou a sentir a emoção de estar à frente do clube do seu coração. Já após começar a época (2014/15) a treinar os “BB”, a demissão de Paulo Sérgio abrir-lhe-ia as portas da equipa principal. O começo, embebido na paixão que já descrevi, não poderia ter sido o melhor: 6 jogos sem perder e a Académica a ver-se livre dos lugares de despromoção. No final, o desfecho desejado por todos: a permanência entre os “Grandes”.
Mas, se a temporada transacta acabaria por se caracterizar pelo sucesso, já 2015/16 haveria de mostrar uma Académica bem longe da euforia do ano anterior. Os maus resultados, 5 derrotas nas 5 primeiras jornadas, ditariam o afastamento do técnico e a contratação de Filipe Gouveia. Contudo, e apesar deste desaire, a paixão de José Viterbo continua intacta. Prova são as suas palavras na hora do adeus – “Tomei a liberdade de pedir a demissão no final do jogo porque acho que é o melhor para a Académica (…).O mais importante é a Instituição e a minha decisão prende-se com o meu academismo. Não poderia prolongar no tempo outra decisão que não fosse esta”**.

 
*Artigo de Tiago Pimentel (Público), a 16/03/2015
**Artigo de Eduardo Pedrosa Marques (A Bola), a 20/09/2015

607 - GOUVEIA

A carreira de Gouveia, enquanto jogador profissional de futebol, haveria de desenhar-se com uma característica que aqui já falámos umas quantas vezes. Ora, 15 clubes como sénior e mais uns quantos nas camadas jovens, fazem do antigo médio uma espécie de “globetrotter”. Neste seu percurso, haveria de dar o salto para a categoria principal ao serviço do Varzim. Contudo, nessa temporada de 1991/92, Gouveia ainda estava a uma grande distância daquilo que viriam a ser as luzes da ribalta. AD Guarda, Amarante, União da Madeira e Paços de Ferreira haveriam de ser os capítulos que, entre a 2ª divisão “B” e a 1ª divisão, se seguiriam.
Foi com a camisola do Farense (1998/99) que o antigo futebolista chegou ao escalão máximo do nosso futebol. Requintado tecnicamente e com um bom entendimento das dinâmicas do jogo, Gouveia haveria de, desde logo, granjear algum destaque. O 11º lugar alcançado pelos algarvios na tabela classificativa, seria mais do que suficiente para pôr o centrocampista na rota de outros emblemas. O Belenenses, colectividade que se seguiria, serviria, então, de curta passagem para a Liga francesa.
Com o Montpellier a ocupar as últimas posições na tabela classificativa, o contrato assinado por Gouveia, como que a prever aquilo que acabaria por acontecer, seria apenas para o que restava da época de 1999/00. Findo esse período e confirmada a despromoção do emblema gaulês, o médio regressa a Portugal. No entanto, e ao contrário daquilo que tinha alcançado ao serviço dos clubes até aí representados, Gouveia não conseguiria impor-se como titular.
Apesar deste afastamento do “onze” inicial, o médio acabaria por sagrar-se campeão nacional (2000/01). Mas, se em termos de títulos tudo corria bem, a falta de jogos pelos “axadrezados” ditaria, ao fim de ano e meio, a saída de Gouveia. O regresso a Paços de Ferreira, mas, principalmente, as 3 temporadas ao serviço do Nacional, devolveriam o médio ao estatuto de imprescindível e classificá-lo-iam como um dos melhores na sua posição.
Já com a barreira dos 30 anos bem ultrapassada, Gouveia faz no Gil Vicente a sua última aparição na 1ª Liga. Depois de 2006, como que a entrar numa fase descendente da sua vida desportiva, o atleta começa a vogar pelos escalões secundários. Vizela, Desportivo das Aves e Vila Meã serviriam, desse modo, para completar a dezena e meia de clubes na sua carreira.
Como um verdadeiro apaixonado pela modalidade, não estaria muito tempo retirado do futebol. Logo na temporada seguinte à da sua despedida dos relvados, o Boavista volta a abrir-lhe as portas. Desta feita, o convite passaria por orientar as camadas de formação, nomeadamente os S-19. Ora, esta experiência com as jovens “Panteras” servira para dar início a uma carreira de treinador. Seria nessa senda que Gouveia, já no decorrer desta época (2015/16), receberia um convite da Académica. Na “Briosa” ocuparia o lugar deixado vago pela demissão de José Viterbo. O objectivo de tal união, será o de devolver o emblema aos bons resultados. Os mesmos que conseguiu em 2011/12, enquanto adjunto de Pedro Emanuel, e que permitiram aos “Estudantes” alcançarem a vitória na Taça de Portugal.

EQUIPAS TÉCNICAS 2015

Depois de mais um (não planeado) interregno, voltamos para vos dar a conhecer alguns dos "timoneiros" dos campeonatos profissionais. Treinadores Principais, Adjuntos, 1ª e 2ª Liga fazem, desse modo, parte do contexto para este novo mês. Assim sendo, não deixe de acompanhar em Novembro, as "Equipas Técnicas 2015".