619 - ALEXANDRE

"O meu clube sempre foi o Varzim... as pessoas acham estranho eu não ter nenhum clube dos chamados grandes, mas é verdade. Para mim o futebol é o Varzim (...) é mais do que um clube... o Varzim é a minha vida (...) não seria feliz se jogasse noutro clube"*. – Poderia não escrever mais nada acerca deste jogador e, por certo, estava feita uma rigorosa biografia daquele que foi um dos últimos grandes símbolos do Varzim Sport Clube.
A dedicação que pôs dentro de campo, não se traduz (apenas) pelo número de anos em que envergou as cores varzinistas. Muito para além do que são as inquestionáveis (mais de) duas décadas e meias a jogar pelos poveiros há toda a uma postura. Encarnando todas os apanágios daqueles que diariamente enfrentam as batalhas do mar, Alexandre foi sempre um lutador. De entre todas as batalhas que travaria pelo seu Varzim, houve uma que ficou famosa! Lembram-se de: “Deixem jogar o Mantorras!”??? Pois é, essa frase proferida por Luís Filipe Vieira, no rescaldo de um Varzim x Benfica de 2001/02, haveria de pôr nas bocas do mundo o central varzinista. Talvez, tenha havido um pouco de exagero na maneira como o Presidente das “Águias” criticou a maneira de actuar do defesa. No entanto, Alexandre era isso mesmo… um batalhador; alguém que, muito para além de construir, estava em campo para impedir os assaltos adversários à sua baliza. Sem dúvida, Alexandre era contundente na hora de o fazer.
A época acima referida e a que daí se seguiria, marcariam a última presença do Varzim no escalão primodivisionário. Como é lógico, a despromoção sofrida pelo clube no final da época de 2002/03, levaria a que Alexandre nunca mais voltasse a pisar um relvado, naquela que é a mais importante competição futebolística nacional. Podê-lo-ia ter voltado a fazer? Claro que sim! Contudo, aquilo que para todos faria sentido, na mente de Alexandre equacionar-se-ia como uma ideia surrealista. Deixar o seu Varzim, para representar outro emblema de maior monta, muito mais do que ambição, na sua ideia, desenhar-se-ia com um disparate.
Eventualmente, e numa altura em que, já há muito, envergava a responsabilidade de uma braçadeira de capitão, acabaria por fazê-lo. A saída, como que adiar o incontornável fim de uma carreira, seria para o Esposende. Nesse mesmo emblema, faria a transição para outras tarefas. Como treinador, na temporada de 2011/12 daria os seus primeiros passos. Contudo, a paixão pelo Varzim fá-lo-ia regressar àquela que sempre foi a sua casa. Perto daqueles que tanto o admiram, Alexandre, excepção feita a uma curta passagem pelo banco de suplentes, tem abraçado as funções de Coordenador Técnico.


*Retirado da entrevista à Reporttv, a 16 de Abril de 2009

618 - HORÁCIO


Tal como o “cromo” que o antecedeu nesta nossa “colecção”, Horácio também haveria de começar nas escolas do Leixões. Nessa fornada que António Farinha, jornalista de grande nome da cena desportiva nacional, haveria de baptizar como os “Bebés do Leixões”, também estava o seu irmão. Tal como Chico Faria, Horácio escolheria o ataque como área para mostrar as suas habilidades com a bola.
Com uma baixa estatura, mas com uma capacidade de impulsão suficiente para ganhar a bola aos mais espadaúdos, Horácio era bom no jogo aéreo. Contudo, não era neste tipo de ofensivas que o atacante mostrava as suas melhores armas. Inteligente, com uma noção de espaço que o fazia encontrar os melhores sítios para se colocar; com uma técnica aprimorada e velocidade capaz de pôr uma defesa em alvoroço, Horácio era um belíssimo atacante.
A constância dos seus números, no que à 1ª divisão diz respeito, faz dele um dos melhores futebolistas que, entre os anos 60 e 70, passou pelos nossos campeonatos. Essa sua tenacidade, traduzida em mais de 3 centenas de partidas disputadas no nosso principal escalão, é reflexo de alguém que, acima de um qualquer truque, haveria de pôr o trabalho em posição de destaque.
Faltou-lhe, talvez, uma chamada à nossa principal selecção. Ainda assim, e apesar da merecida convocatória nunca ter aparecido, Horácio construiu uma carreira que encheu de orgulho todos aqueles que, das bancadas, vibravam com os seus ataques. Dividida a sua carreira entre alguns emblemas, seria no Leixões e, posteriormente, no Varzim que a glória deste avançado seria mais exaltada. Mais de uma década em Matosinhos e 6 temporadas passadas com as cores dos “Lobos do Mar”, fazem dele um dos históricos em qualquer um destes emblemas.
Claro, os golos, para alguém que deles depende crucialmente, são bastante importantes. Nesse campo, Horácio nunca fugiria às responsabilidades. Marcou… e muitos!!! Tantos que, por diversas vezes, seria, no seio das suas equipas, o melhor no cumprir desta tarefa. Ele, que nunca passaria de emblemas mais modestos, acabaria por atingir marcas impressionantes. Os 17 golos conseguidos em 1967/68 ou, igualmente pelo Leixões, os 15 tentos concretizados no campeonato de 1969/70, são testemunhos disso mesmo. Pelo Varzim, as marcas alcançadas, como são exemplo os 13 golos em 1976/77, fazem dele um dos melhores goleadores da história do clube, enquanto participante do nosso escalão máximo.

617 - LÚCIO


Decididos a formar um pequeno clube de rua, um grupo de adolescentes amantes do futebol, organiza-se para jogar um torneio da modalidade. Acabando, no seio de equipas constituídas por adultos, por vencer a dita competição, houve logo quem vaticinasse bom futuro para aqueles amigos. Lúcio, que apenas tinha ido para a baliza por não haver mais ninguém, acaba por merecer um tal destaque que, quase em seguida, é convidado para ir fazer testes a emblemas como o FC Porto e Leixões.
Como da sua Leça da Palmeira até ao Estádio do Mar, era uma distância mais curta, o jovem lá anuiu em mostrar as suas habilidades, num treino. A aptidão que mostraria na altura, levaria a que os responsáveis leixonenses quisessem acompanhá-lo a casa. A razão? Apenas uma! O de convencer a sua mãe a deixá-lo assinar pelo cube de Matosinhos!
Ainda com idade de juvenil, o guarda-redes entra directamente para a equipa de juniores. Essa ideia, a de que mostrava ser sempre melhor que os demais no seu escalão, leva a que, pouco mais de um ano depois de ter entrado para o clube, comece a treinar com a equipa principal. A definitiva transição acabaria, também, por não tardar. Contudo, e ao contrário do que, até então, tinha acontecido, Lúcio acaba por encontrar algumas dificuldades em impor-se. Esses obstáculos, normais a qualquer jovem futebolista, levá-lo-iam a Bragança.
No Desportivo transmontano, conquista a titularidade. Esse estatuto, faz com consiga o traquejo para que, na volta ao clube de origem, comece a jogar regularmente. No entanto, logo no ano seguinte ao seu regresso (1976/77), com o Leixões a encetar um plano para a conquista dos lugares “europeus”, Lúcio acaba por tornar-se na terceira escolha dentro do plantel. A tal ideia das competições europeias acaba por sair defraudada. O que realmente acontece, muito diferente do inicialmente desejado, é a descida do clube. Ainda assim, a dita despromoção acabaria por ter os seus aspectos positivos e Lúcio recupera a constância nas convocatórias.
Este episódio acaba por preceder um período em que o atleta, sempre com as cores do Leixões, passaria a disputar a 2ª divisão portuguesa. Ainda que afastado dos principais palcos nacionais, o nome do guardião continua a despertar o interesse de outros clubes. É nesta senda que, para a temporada de 1982/83, Lúcio volta à 1ª divisão. Quem o acolhe neste regresso, acaba por ser o Varzim. Na Póvoa, volta a mostrar todo o seu valor. A prova disso mesmo, ele que por várias vezes haveria de ser chamado à equipa olímpica, é a convocatória para a selecção principal portuguesa. Essa partida disputada em Milão, a contar para a fase de apuramento do Euro 88, haveria de ser o apogeu daqueles que foram, como o próprio haveria de descrever, “os melhores momentos da minha carreira"*.
Essas circunstâncias, a que o Varzim e as boas classificações que o clube conseguiria durante os anos 80, não são alheias, elevariam Lúcio à condição de um dos melhores de Portugal, a actuar na sua posição. O referido estatuto, mantê-lo-ia mesmo nas últimas épocas da sua carreira. Tanto no Tirsense, pelo qual disputaria a 1ª divisão, ou na derradeira passagem pelo Varzim, Lúcio manteria as suas qualidades intactas.
Mesmo depois de “pendurar as luvas”, o antigo internacional português seria incapaz de manter-se afastado da modalidade. Já há longos, nas funções de adjunto, que acompanha Carlos Brito. Essa experiência tem-no levado a diferentes clubes, como são exemplos o Rio Ave, o Estrela da Amadora, o Boavista, o Nacional, o Leixões e o Penafiel. Curioso é que, apesar de, nas tarefas de treinador, nunca ter defendido o Varzim, Lúcio continua a ser imensamente recordado. Esse carinho haveria de ser mostrado a Fevereiro de 2014, quando os “Lobos do Mar” o agraciariam com o prémio de “Atleta Honorário”. 


*retirado do jornal “Record”, a 17 de Fevereiro de 2014

616 - NÉLSON

A pergunta que, desde já, apraz fazer-se é: “O que é que, num mês dedicado ao Varzim, faz um futebolista que apenas lá jogou 2 anos?”. Bem, a resposta fica para daqui nada, mas para lá chegarmos teremos que recuar um bocadinho!
Era um jovem praticante das escolas do Marítimo, quando a habilidade que mostrava com a bola levou o Benfica a querer levá-lo para Lisboa. Irrequieto, tecnicista e com um enorme sentido de oportunidade, Nélson em nada parecia evidenciar os seus “tenros” 15 anos. Já na “Luz”, integrado nas camadas jovens do clube, o atacante iria demonstrar que aposta feita nele havia sido a mais acertada.
Como destacado elemento dos juniores “Encarnados”, Nélson via nele depositado grandes esperanças. A verdade é que na primeira metade dos anos 60, entrar para a equipa principal, ela que estava recheada de craques, não era tarefa fácil. Ora, deste modo, a solução encontrada pelos responsáveis das “Águias”, para que o atacante não estagnasse na sua evolução, seria a cedência a outro emblema. Seria por esse motivo que, por empréstimo, o jogador chegaria ao Varzim na temporada de 1964/65.
Na Póvoa, num plantel treinado pelo internacional Artur Quaresma, Nélson conseguiria destacar-se dos demais colegas de balneário. Com apenas 18 anos de idade, a maturidade e virtuosidade que já mostrava, acabariam por fazer com que os seus 11 golos no Campeonato o levassem a ser o melhor marcador da equipa.
As boas exibições feitas nessa sua época de estreia como sénior, conduziriam a que o Benfica, logo no Verão seguinte, o integrasse na categoria principal. O regresso à “casa” onde havia terminado a sua formação, resultaria num acréscimo para o seu currículo. Mas se a dita adição se traduziria pela conquista de 2 Campeonatos Nacionais, o que na realidade haveria de acontecer seria um pouco menos positivo.
Nomes como o de Eusébio ou José Torres ditariam que Nélson Fernandes não passasse de um suplente pouco utilizado. A estagnação a que parecia estar vetado no Benfica, levaria a que o jogador, com um longo caminho de aprendizagem pela frente, decidisse mudar de rumo. A solução para a continuidade da sua carreira, contrariando a máxima “Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz”, passaria por uma nova passagem pelos “Lobos do Mar”. Mais uma vez no Norte do país, desta feita orientado por Monteiro da Costa, Nélson volta à ribalta. Com exibições estonteantes, ele que já tinha passagens pelos diferentes escalões, volta a ser convocado para a Selecção Nacional. Desta feita na equipa principal, a sua chamada para disputar um “amigável” a 5 de Abril de 1969, acabaria por ficar na história. Se por um lado, esse jogo frente ao México representaria a estreia do atleta com a principal “camisola das quinas”, por outro, esse mesmo embate, faria com que, pela primeira vez, um futebolista do Varzim jogasse pelos “AA” de Portugal.
A primeira internacionalização de Nélson Fernandes, como que serviria de incentivo para que o Sporting se decidisse pela sua contratação. Em Alvalade, um pouco ao invés daquilo que tinha acontecido na “Luz”, acaba por conseguir destacar-se. Talvez por força da sua acrescida maturidade, talvez pelo recuo no campo a que seria sujeito, a verdade é que Nélson conseguiria impor-se como um dos titulares na equipa leonina.
A jogar a médio, na ala direita ou como “10”, Nélson passaria a ser um dos esteios do Sporting. O relevo que haveria de alcançar no seio do grupo, mesmo com a passagem de diferentes treinadores, traria ao (agora) médio mais alguns prémios. Novas chamadas à selecção portuguesa, 2 Campeonatos e 3 Taças de Portugal acabariam por ser o saldo de 7 temporadas de “Leão “ao peito.
Seria já depois deste longo período passado em Alvalade, no qual se inclui a habitual (para aqueles tempos) passagem pela liga norte-americana (Boston Minutemen), que a carreira de Nélson entraria na sua derradeira fase. Intercalando a 1ª divisão com os escalões secundários, o jogador vestiria diversas camisolas, nas quais podemos destacar as do Marítimo, Portimonense, Salgueiros, Tirsense ou Leça.

615 - VITORIANO

Tendo feito a sua formação no Varzim, haveria de ser chamado à primeira categoria na temporada de 1974/75. No entanto, muito mais do que o futebol, na vida de Vitoriano também havia a escola. Estudante aplicado, e percebendo que o tempo de que dispunha era limitado, acabaria por deixar o clube para se dedicar, com mais afinco, aos livros.
Apesar do assédio do Varzim, com os sentidos postos no seu regresso, Vitoriano foi conseguindo resistir à tentação de voltar a jogar como profissional. Ainda assim, havia que alimentar a paixão pelo futebol e durante os anos que se seguiriam, conciliando a actividade académica com a desportiva, o defesa foi jogando com as camisolas do Guilhabreu e Ribeirão.
O tão desejado regresso às lides varzinistas, aconteceria para a época de 1979/80. Por essa altura, quem estava aos comandos da equipa era António Teixeira. Imediatamente, o treinador viria em Vitoriano um grande jogador. Contudo, e ao contrário do que até então se passara, Teixeira encostaria o atleta à direita. Daí em diante, trocando o centro da defesa pelo lado destro, Vitoriano afirmar-se-ia como um indiscutível dos “Lobos do Mar”.
O estatuto de titular levá-lo-ia a metas maiores. Alcançaria a Selecção Nacional de “Esperanças” e, sonho de um qualquer futebolista português, despertaria a atenção dos denominados “Grandes”. Nesta senda, a mudança para o FC Porto aconteceria no Verão de 1984/85. Veloz, inteligente e, sobretudo, com uma atitude briosa, Vitoriano era o reforço certo para os “Dragões” de Artur Jorge. A concorrência que tinha na disputa por um lugar, era enorme. Mas ao contrário do que haveria de supor, João Pinto acabaria por nem ser a sua maior dor de cabeça. As lesões, isso sim, acabariam por ser o seu inimigo – “Eu entrei em Agosto, e em Outubro desse ano tive uma lesão grave, em que estive o ano todo parado. Fui operado ao músculo posterior da coxa. Recuperei alguma coisa em 1985/86 (…). No FC Porto nunca consegui estar a mais do que 60-70% do meu valor real. Fiquei menos rápido e com algumas dificuldades a nível psicológico, porque a jogar tinha sempre medo que [o músculo] rebentasse; tinha alguma dificuldade em tomar o jogo de forma aberta”*.
As lesões que o assombrariam durante esses anos de “Azul e Branco”, fariam com que não conseguisse celebrar o primeiro de 2 Campeonatos, que o FC Porto conquistaria entre 1984 e 1986. Só o regresso à Póvoa faria com que Vitoriano voltasse à sua velha forma física. Totalmente recuperado e no “onze” inicial, o lateral direito conquista, mais uma vez, o estatuto de indispensável. Vitoriano, que antes da ida para o Estádio das Antas já havia merecido o posto de “capitão” varzinista, voltaria a envergar a braçadeira.
Em 1990, com o clube na 2ª divisão, chega ao fim a ligação de Vitoriano ao Varzim. Esse defeso acabaria por marcar, também, o começo da última fase da sua carreira como futebolista. Seria, então, já depois de vestir as camisolas de Leça e, novamente, a do Ribeirão que Vitoriano se decide pela actividade de treinador. Nessas funções, ora como adjunto, ora nas camadas jovens, tem estado ligado ao clube do seu coração, ao Varzim Sport Clube.


*Retirado do programa "Preto no Branco", emitido na Varzim TV a 18/03/2014

614 - ALBINO

Fruto da formação do Leixões, seria no Varzim que, alguns anos mais tarde, faria a sua estreia na Primeira Divisão. Contudo, e se sua entrada nos grandes palcos lusos, seria feita à custa da equipa povoeira, o começo do seu caminho como sénior, isto no início dos anos 70, aconteceria no segundo patamar dos “nacionais”.
Seria dessa maneira que o Famalicão apadrinharia os primeiros passos da carreira de Albino. Ora como defesa, ora como médio, o corredor central do campo era a área predilecta deste jogador. Essas temporadas passadas no escalão secundário, dariam ao atleta o traquejo necessário para que nele voltassem a reparar. Boa capacidade aérea e descomplicado na hora de jogar a bola, Albino acabaria por despertar a atenção de alguém que já tinha trabalho perto dele.
Coincidência, ou não, quem o levaria para o Varzim, seria António Teixeira. O treinador que, quando Albino era júnior em Matosinhos, já havia orientado a equipa principal do Leixões, decidiria apostar em alguém que já conhecia. Essa época de 1976/77, marcaria tanto o regresso do Varzim à Primeira, como a estreia de Albino nessa mesma divisão. A maturidade que já apresentava, permitiria ao jogador ser um dos principais trunfos dentro do plantel. Regularmente no onze inicial, Albino acabaria por ser um dos esteios das boas classificações que a sua equipa conseguiria nos anos vindouros. O estatuto de titular mantê-lo-ia daí em diante. Ajudaria o Varzim a alcançar o 5º posto no Campeonato de 1978/79 e, juntando a tudo isso, os 7 anos que passaria na Póvoa, fariam do seu nome um dos mais acarinhados pala massa associativa e adepta.
Se os melhores ano da carreira de Albino seriam conseguidos com o listado alvi-negro, estes acabariam, também, por ser os únicos passados no patamar máximo do nosso futebol. Daí em diante Albino começaria, novamente, a vogar pelas divisões secundárias. O regresso a Famalicão marcaria esta última fase da sua vida profissional. Durante a mesma, vestiria ainda a camisola de uns quantos clubes. Entre estes, destaque para nomes como os do Trofense ou Paços de Ferreira.

613 - TORRES

Depois de, praticamente, percorrer todo o caminho da formação no Vitória de Guimarães, Torres haveria de chegar aos seniores vimaranenses no final dos anos 60. As primeiras temporadas como sénior, muito mais do que jogar na equipa principal, passá-las-ia a representar as “reservas”. No entanto, ao invés de ser um factor de desânimo, esta passagem traria ao defesa o traquejo necessário para o tornar num bom jogador.
Central que de permissivo, como se pede alguém na sua posição, pouco tinha, Torres primava pela inteligência com que encarava o jogo. Estas suas características, aliado a um bom físico, acabariam por conquistar um lugar no seio de um plantel bastante competitivo. Depois de alguns anos como escolha secundária, Torres haveria de conseguir impor-se como um dos principais esteios da equipa. Essa temporada de 1974/75, segundo o próprio refere, haveria de trazer uma mudança de paradigma à equipa, alteração essa que o levaria a disputar a final da Taça de Portugal, logo no ano seguinte – “a experiência de jogadores como Custódio Pinto, Tito e Rui Rodrigues mesclada com a irreverência de nomes como Ernesto, Abreu, Romeu, representavam a grande arma da equipa. [Mário Wilson] encontrou a fórmula ideal para a equipa fazer um campeonato entusiasmante que revolucionou o clube e a cidade, tendo sido foi importante para o futuro do clube"*.
Se os dois primeiros terços da carreira profissional de Torres, haveriam ser passados com as cores do Vitória de Guimarães, a última destas porções seria ao serviço do Varzim. A mudança ocorreria no defeso de 1979, para dar início a uma ligação que duraria 5 temporadas. Durante estas épocas, entre as 4 passadas na 1ª divisão e o deslise de uma descida, Torres acabaria por se tornar num dos nomes importantes na história do emblema poveiro. Também para o atleta, o clube representa um marco relevante na sua ligação com o futebol. Seria pelos “Lobos do Mar” que, sempre ligado à modalidade que o apaixona, faria uma mudança importante na sua vida.
Ora, seria para a temporada de 1984/85 que Torres passaria a assumir as responsabilidades de técnico. Ainda como adjunto, os primeiros passos que daria nestas funções, levá-lo-iam, passados uns campeonatos, ao comando do Vitória de Guimarães. Essa sua estreia como principal timoneiro de uma equipa, não poderia ter corrido melhor, com os minhotos a conseguirem chegar ao Jamor, e à final da Taça de Portugal de 1987/88.
Desde então, o percurso de José Alberto Torres tem passado mais pelas divisões secundárias portuguesas. No entanto, o grande destaque desta sua carreira acabaria, já em pleno século XXI, pela ida para Angola, onde treinaria o Progresso e o Petro do Huambo.

612 - ANTÓNIO TEIXEIRA

Natural de Lisboa, é descoberto após representar alguns emblemas da capital portuguesa. Depois dos modestos Águias do Alto Pina ou do Chelas, chega a vez de António Teixeira vestir as cores do Benfica. Entra para as camadas de formação do clube, onde se sagra campeão nacional de juniores, e, pela mão do inglês Ted Smith, acaba por ser promovido à categoria principal.
Avançado, que havia começado a trilhar caminho como extremo esquerdo, é no centro do ataque que começa a ganhar algum destaque. Contudo, a temporada em que sobe aos seniores “Encarnados” (1949/50) é, também, aquela em que o Benfica vence a Taça Latina. Ora, este contexto, o de uma equipa recheada de craques, acaba por não ser muito favorável à conquista de um lugar no seio do plantel. Nomes como os de Rogério de Carvalho, Arsénio, Julinho ou Espírito Santo, acabariam por não dar a António Teixeira muito espaço para progredir.
A falta de oportunidades, faz com que o atacante deixe o clube. Já com um Campeonato Nacional (1949/50) na bagagem, segue, então, para o Norte de Portugal. No Minho, acaba por vestir as cores do Vitória de Guimarães. A mudança, devolve ao atacante uma presença regular dentro de campo. Teixeira regressa aos golos e, no espaço de um ano, volta a ser cobiçado por outros “grandes” do futebol nacional.
É para a época de 1952/53 que António Teixeira ingressa no FC Porto. Afastado dos títulos há mais de uma década, os “Dragões” passariam a contar no sector ofensivo, com um atleta que, muito mais do que ser combativo e de possuir um belo remate, era um ás na finalização. O evoluir desta união acabaria por trazer os seus frutos. Em 1955/56, o FC Porto volta aos troféus, e logo com uma “dobradinha”. Os golos de Teixeira, somando-os aos do brasileiro Jaburú, haveriam de ser os principais impulsionadores deste sucesso.
Daí em diante, tudo mudaria para o avançado. A consolidação das suas exibições, que ajudariam à conquista da Taça de Portugal de 1957/58 e do Campeonato do ano seguinte, levá-lo-iam à elite do futebol nacional. Reflexo disso mesmo, seria a sua chamada à selecção portuguesa. Um golo frente à Itália, numa partida de qualificação para o Mundial de 1958, marca a sua estreia. Com a “camisola das quinas” jogaria mais 6 vezes. Talvez, não com a regularidade que merecia. Ainda assim, Teixeira será recordado como um dos melhores pontas-de-lança do futebol nacional, nos anos 50.
Depois de uma década com as cores do FC Porto, António Teixeira decide afastar-se dos rectângulos de jogo. Após um pequeno interregno, o antigo internacional decide-se pela vida de treinador. Passa pelo Sp. Braga. Orienta Leixões, FC Porto e Boavista, até que chega ao Varzim. Na Póvoa, os resultados do seu trabalho haveriam de o pôr na história do clube. Vence, na época de 1975/76, o Campeonato da 2ª divisão; devolve o clube, na temporada seguinte, aos grandes palcos nacionais; e, em 1978/79, com um 5º lugar na tabela classificativa, consegue levar os “Lobos do Mar” à melhor classificação de sempre na sua história.

611 - VARZIM S.C.

Quando, no começo do século passado, o futebol chegou a Portugal, rapidamente a sua fama alastrou-se aos quatro cantos do país. Não conseguindo mostrar indiferença a tão popular modalidade, alguns estudantes poveiros iniciariam a sua prática.
É de um grupo de entusiastas, que nasce um dos primeiros emblemas da Póvoa do Varzim. O União Foot-Ball Club começa por ser um dos pontos de congregação destes jovens. Contudo, a paixão que os levaria a fundar tal agremiação, acabaria por, também ela, originar algumas cisões no seio do conjunto. Ora, por acharem que eram sempre preteridos na altura da escolha dos “onzes”, alguns elementos do clube, haveriam de, noutro caminho, procurar o entusiasmo que os tinha levado a tal desporto. É deste modo que, aproximadamente, um ano após a criação do União Foot-Ball Club, surge o Varzim Foot-Ball Club.
 A 25 de Dezembro de 1915, davam-se os primeiros passos daquele que é, actualmente, o maior emblema da cidade nortenha. Depois de constituído, nada melhor do que uma partida de futebol para dar início às hostilidades. O adversário escolhido só poderia ser um e, desse modo, o primeiro jogo do Varzim haveria de terminar com uma vitória por 9-5, sobre o União Foot-Ball Club!!!
No entanto, não há zanga que separe os verdadeiros amigos. Como acordado em assembleia geral, aqueles que de costas viradas andavam, voltariam a dar as mãos. A 25 de Março de 1916, os elementos do União Foot-Ball Club e do Varzim Foot-Ball Club decidem acabar com a contenda que os havia separado. Fundem-se os clubes e o nome alterar-se-ia para Varzim Sport Club.
Após um caminho difícil, onde, durante a década de 40, até o futebol deixou de existir, o Varzim lá foi cimentando a sua existência. Um dos grandes pilares dessa história haveria de ser o actual estádio. Aprovada a compra dos terrenos em 1929, só passados muitos anos, precisamente em 1944, é que se dá início à construção da bancada central. Com o clube a subir os degraus das divisões, seria já com a chegada à 1ª Divisão que decisivos empreendimentos (construção de novas bancadas; relva; campo de treinos) haveriam de ser tomados para o imóvel.
A temporada de 1963/64, já depois de na época anterior marcar estreia na Taça de Portugal, traça um dos capítulos mais importantes na vida do Varzim. A primeira presença no patamar maior do nosso futebol e as 8 temporadas que, consecutivamente, aí passariam, fariam dos “Lobos do Mar” um dos clubes importantes no panorama nacional. Em termos de resultados, a melhor classificação de sempre, aconteceria já no final dos anos 70. Depois de um período de 5 anos sem marcar presença entre os “grandes”, o Varzim, pela mão de António Teixeira, sublinha o seu regresso. Esse trabalho, sempre pelo comando do antigo internacional luso, haveria de atingir o seu ponto máximo na época de 1978/79. O 5º lugar na tabela classificativa, seria demonstrativo da força de um grupo cheio de figuras primodivisionárias.
Após este período áureo e de, na segunda metade dos anos 80, voltar a marcar presença regular na 1ª divisão, as prestações do Varzim deixariam de ser condizentes com o seu estatuto e história. Nos últimos 28 anos, excepção feita a 3 temporadas (1997/98; 2001/02; 2002/03), o emblema poveiro viveria afastado das maiores decisões do futebol nacional. De salutar foi o regresso do clube, para esta época de 2015/16, aos campeonatos profissionais e à 2ª Liga. A esperança é que o “Alvi-Negro” das suas camisolas volte, o mais rápido possível, a abrilhantar os grandes palcos do futebol português.

CENTENÁRIOS - VARZIM S.C.

A entrada neste novo mês, marca mais uma efeméride para o futebol nacional. Sem conseguirmos ficar indiferentes àquilo que são 100 anos, o “Cromo sem caderneta” volta a juntar-se a mais uma bela celebração. Desta feita, a vez é do Varzim. Assim, Dezembro, mais uma vez, será dedicado aos “Centenários”.

610 - MANUEL MACHADO

Filho de um histórico do Vitória de Guimarães, o guarda-redes António Machado, a sua ligação ao futebol esculpir-se-ia de outras oportunidades. Sem grande carreira dentro das quatro linhas, ou, pelo menos, sem nada de relevante a apontar nesse contexto, Manuel Machado talhar-se-ia no banco dos suplentes.
Treinador de aferido em Portugal, o seu trajecto começaria a delinear-se no emblema onde seu pai é um símbolo. As camadas jovens vimaranenses, naquilo que era o começo dos anos 90, tornar-se-iam no seu tubo de ensaio. Depois veio a intermitência que, ora o punha como adjunto ou interino no Vitória, ora fazia dele o treinador principal de equipas de escalões secundários.
Após estes caboucos, Manuel Machado começaria a solidificar a sua carreira. A transição do Fafe para o Moreirense, haveria de se tornar num ponto fulcral do seu evoluir. Ao encetar esta nova etapa na 2ª divisão “B”, o sucesso que conseguiria ao serviço da formação de Moreira de Cónegos, chamaria a atenção para o trabalho perpetrado. Duas promoções consecutivas e a veleidade de, na época de estreia do clube na 1ª divisão (2002/03), conseguir um lugar tranquilo na tabela classificativa, convertê-lo-iam num treinador a ter em conta.
A partir desta altura, Manuel Machado cimentar-se-ia como um treinador de topo. A sua carreira, que jamais se afastaria do convívio dos grandes palcos, haveria de se construir de emblemas como os da Académica, Sp.Braga, Nacional, de uma curta passagem pelos gregos do Aris de Salónica e, claro, dos regressos a Guimarães. Seria mesmo na “Cidade Berço” que Manuel Machado daria um passo importante na consolidação do seu estatuto de primodivisionário. A obtenção de um 5º lugar na temporada de 2004/05, e a consequente qualificação para as competições europeias da época seguinte, seriam o sustento disso mesmo.
Hoje em dia no Nacional da Madeira, clube que conduziu à estreia europeia, Manuel Machado continua com uma postura singular e, de salutar no mundo do futebol, nada ortodoxa. Muito para além daquilo que põe em campo, da maneira ardilosa como monta as suas estratégias, há as acutilantes tiradas. Dono de uma eloquência distinta, a faculdade com que articula os seus raciocínios, faz dele um orador peculiar. Não é necessário muita pesquisa para que encontremos variadíssimos exemplos. Um desses momentos passar-se-ia após o embate contra o Sporting (2015/16), em que sofreria uma polémica derrota em Alvalade – “Isto deixa-me um pouco triste, ver este país de espinha dobrada, sempre a bater palmas aos Salgados e aos Azevedos e afins e que continua a espezinhar quem ganha o ordenado mínimo e que ainda tem de pagar impostos sobre isso."*.

 
*Em declarações à SportTV, a 21/09/2015

609 - PABLO SANZ


Natural da capital catalã, seria no Barcelona que Pablo Sanz daria os primeiros passos no futebol profissional. No entanto, a carreira do médio, apesar das qualidades que nele se reconheciam, haveria de esbarrar na equipa “B” “blaugrana”. Sem espaço para evoluir, a escolha do atleta, como para tanto outros ali formados, acabaria por ser a saída.
De malas aviadas para a capital espanhola, seria no Rayo Vallecano que encontraria abrigo. A temporada de 1997/98, era, desse modo, a oportunidade de Pablo Sanz fazer a sua estreia numa equipa principal. Ainda longe dos palcos maiores do futebol de “nuestros hermanos”, a continuidade no segundo escalão não desmoralizaria o jogador. Rapidamente, o centrocampista haveria de conseguir encontrar o caminho para o onze inicial, tornando-se numa das peças chave do plantel. A importância que granjeava dentro da dinâmica da equipa, faria de Pablo Sanz um dos principais responsáveis pelo regresso dos madrilenos à “La Liga”. Essa época de 1999/00, a da sua estreia no patamar maior, acabaria por mostrar que Pablo Sanz também era talhado para este tipo de desafios.
Num gruppo que foi contando com nomes como os de Lopetegui , o português Hélder (Sp. Braga; Boavista; PSG) ou o avançado angolano Quinzinho, as metas talhadas iam sendo cumpridas. Surpreendentemente, muito mais do que garantir a manutenção, o Rayo Vallecano ia conseguindo ultrapassar adversários de maior gabarito. Essas boas prestações colectivas, permitiriam a Pablo Sanz chegar às competições europeias, onde, para a temporada de 2000/01, atingiria os quartos-de-final da Taça UEFA.
Não só de alegrias foram feitos os 7 anos que Pablo Sanz passaria em Madrid. Em 2004, com o clube a viver a segunda despromoção num espaço de 2 anos, alguns adeptos acabariam por tomar atitudes desproporcionadas – “Foi o dia mais triste da minha vida: depois de sete anos no Rayo, sair do campo numa carrinha da polícia (…). Estávamos sitiados no campo. Tentamos ir por várias saídas, mas em todas havia gente a insultar-nos, gritando-nos. Fui o último a sair e um rapaz ou um homem, não me recordo bem, pediu-me a camisola. Ele estava à paisana e disse-lhe que não a podia dar. Então, agarrou-me o braço com força, insultou-me e vi que fazia um gesto para me agredir. Foi uma reacção instintiva e trocamos uns murros”*.
Este episódio, marcaria o derradeiro momento de Pablo Sanz com as cores do Rayo Vallecano. Curiosamente, a sua saída, apesar de inglória, acabaria por devolver o médio aos grandes palcos. O Numancia, que preparava a sua temporada 2004/05, haveria de ser a sua porta de regresso à primeira divisão espanhola.
Já com a barreira dos 30 anos ultrapassada, a carreira de Pablo Sanz não se prolongaria por muito mais tempo. Depois de representar o, já referido, emblema de Valência, o atleta acabaria por terminar a sua vida de futebolista ao serviço do Sabadell. Contudo, após um pequeno interregno, o antigo jogador haveria de voltar à modalidade, desta feita na condição de treinador.
Mormente ligado às equipas jovens, Pablo Sanz tem talhado o seu percurso como técnico. Essa experiência na formação, levariam a que a Federação da Costa Rica, em 2011, o escolhesse como coordenador dessas mesmas camadas. Seria, igualmente, para essas funções que o FC Porto, por indicação de Lopetegui, acabaria por o contratar. Pablo Sanz, com provas dadas nessas tarefas, é, desde 2014, o “Manager” da Academia  “Azul e Branca”.


*Retirado de http://getafeweb.mforos.com/  (22/06/2004), citando o jornal Marca.

608 - JOSÉ VITERBO

Apesar de só ter chegado à 1ª Liga na temporada passada (2014/15), para José Viterbo a história da Académica não era, de todo, estranha à sua própria existência. Se, por um lado, para documentar a sua ligação ao clube, tinha a presença nas balizas das equipas jovens, por outro, os anos que já tinha passado como técnico das camadas de formação, serviam para atestar o dito vínculo.
Mesmo sabendo desse passado comum, surpreendente foi a maneira como, desde o primeiro instante, Viterbo conseguiria manietar o público aos seus propósitos. A ideia de levantar a Académica, de a tirar das posições da despromoção, foi por si transmitida e acatada por os todos adeptos da “Briosa”. O veículo dessa mensagem, um só – a paixão que sempre nutriu pelo emblema conimbricense.
Depois de, no início do milénio, ter estado aos comandos da equipa “B” da Académica, os anos de separação entre o técnico e os “Estudantes”, prolongar-se-iam por mais de uma década. Contudo, o sonho de regressar àquela que sempre teve como sua casa, haveria de estar sempre presente. A prova seria o acordo que fez com Catarina Crisóstomo, a Presidente do seu último clube, antes do regresso a Coimbra – “Quando chegou ao Eirense foi bastante claro. Se tivesse algum convite para regressar à Académica, regressaria. A paixão é evidente e foi honesto a esse respeito”*.
Foi depois de muito vogar pelas divisões secundárias do nosso futebol, que José Viterbo voltou a sentir a emoção de estar à frente do clube do seu coração. Já após começar a época (2014/15) a treinar os “BB”, a demissão de Paulo Sérgio abrir-lhe-ia as portas da equipa principal. O começo, embebido na paixão que já descrevi, não poderia ter sido o melhor: 6 jogos sem perder e a Académica a ver-se livre dos lugares de despromoção. No final, o desfecho desejado por todos: a permanência entre os “Grandes”.
Mas, se a temporada transacta acabaria por se caracterizar pelo sucesso, já 2015/16 haveria de mostrar uma Académica bem longe da euforia do ano anterior. Os maus resultados, 5 derrotas nas 5 primeiras jornadas, ditariam o afastamento do técnico e a contratação de Filipe Gouveia. Contudo, e apesar deste desaire, a paixão de José Viterbo continua intacta. Prova são as suas palavras na hora do adeus – “Tomei a liberdade de pedir a demissão no final do jogo porque acho que é o melhor para a Académica (…).O mais importante é a Instituição e a minha decisão prende-se com o meu academismo. Não poderia prolongar no tempo outra decisão que não fosse esta”**.

 
*Artigo de Tiago Pimentel (Público), a 16/03/2015
**Artigo de Eduardo Pedrosa Marques (A Bola), a 20/09/2015

607 - GOUVEIA

A carreira de Gouveia, enquanto jogador profissional de futebol, haveria de desenhar-se com uma característica que aqui já falámos umas quantas vezes. Ora, 15 clubes como sénior e mais uns quantos nas camadas jovens, fazem do antigo médio uma espécie de “globetrotter”. Neste seu percurso, haveria de dar o salto para a categoria principal ao serviço do Varzim. Contudo, nessa temporada de 1991/92, Gouveia ainda estava a uma grande distância daquilo que viriam a ser as luzes da ribalta. AD Guarda, Amarante, União da Madeira e Paços de Ferreira haveriam de ser os capítulos que, entre a 2ª divisão “B” e a 1ª divisão, se seguiriam.
Foi com a camisola do Farense (1998/99) que o antigo futebolista chegou ao escalão máximo do nosso futebol. Requintado tecnicamente e com um bom entendimento das dinâmicas do jogo, Gouveia haveria de, desde logo, granjear algum destaque. O 11º lugar alcançado pelos algarvios na tabela classificativa, seria mais do que suficiente para pôr o centrocampista na rota de outros emblemas. O Belenenses, colectividade que se seguiria, serviria, então, de curta passagem para a Liga francesa.
Com o Montpellier a ocupar as últimas posições na tabela classificativa, o contrato assinado por Gouveia, como que a prever aquilo que acabaria por acontecer, seria apenas para o que restava da época de 1999/00. Findo esse período e confirmada a despromoção do emblema gaulês, o médio regressa a Portugal. No entanto, e ao contrário daquilo que tinha alcançado ao serviço dos clubes até aí representados, Gouveia não conseguiria impor-se como titular.
Apesar deste afastamento do “onze” inicial, o médio acabaria por sagrar-se campeão nacional (2000/01). Mas, se em termos de títulos tudo corria bem, a falta de jogos pelos “axadrezados” ditaria, ao fim de ano e meio, a saída de Gouveia. O regresso a Paços de Ferreira, mas, principalmente, as 3 temporadas ao serviço do Nacional, devolveriam o médio ao estatuto de imprescindível e classificá-lo-iam como um dos melhores na sua posição.
Já com a barreira dos 30 anos bem ultrapassada, Gouveia faz no Gil Vicente a sua última aparição na 1ª Liga. Depois de 2006, como que a entrar numa fase descendente da sua vida desportiva, o atleta começa a vogar pelos escalões secundários. Vizela, Desportivo das Aves e Vila Meã serviriam, desse modo, para completar a dezena e meia de clubes na sua carreira.
Como um verdadeiro apaixonado pela modalidade, não estaria muito tempo retirado do futebol. Logo na temporada seguinte à da sua despedida dos relvados, o Boavista volta a abrir-lhe as portas. Desta feita, o convite passaria por orientar as camadas de formação, nomeadamente os S-19. Ora, esta experiência com as jovens “Panteras” servira para dar início a uma carreira de treinador. Seria nessa senda que Gouveia, já no decorrer desta época (2015/16), receberia um convite da Académica. Na “Briosa” ocuparia o lugar deixado vago pela demissão de José Viterbo. O objectivo de tal união, será o de devolver o emblema aos bons resultados. Os mesmos que conseguiu em 2011/12, enquanto adjunto de Pedro Emanuel, e que permitiram aos “Estudantes” alcançarem a vitória na Taça de Portugal.

EQUIPAS TÉCNICAS 2015

Depois de mais um (não planeado) interregno, voltamos para vos dar a conhecer alguns dos "timoneiros" dos campeonatos profissionais. Treinadores Principais, Adjuntos, 1ª e 2ª Liga fazem, desse modo, parte do contexto para este novo mês. Assim sendo, não deixe de acompanhar em Novembro, as "Equipas Técnicas 2015".

606 - ZICO


De ascendência portuguesa, Zico tinha no seu pai um grande fã do Sporting. Talvez por influência dos relatos que ia acompanhando ao lado do seu progenitor, o jovem Arthur acabaria por eleger a dita modalidade, como a sua favorita.
Nesta senda, aos 14 anos de idade, e já depois de ter dados os primeiros passos na vertente de salão, Zico chega ao Flamengo. Atravessa as camadas de formação e, em 1971, faz a sua estreia pela equipa principal. Contudo, e apesar do talento que todos reconheciam nele, o seu físico franzino era um entrave à sua afirmação. Durante os 3 anos que se seguiriam, muito mais do que evoluir dentro de campo, o seu programa de treino passaria por trabalhos de fortalecimento muscular.
Em 1974, o atleta era já uma referência no meio campo dos “Rubro-Negros”. A sua técnica de passe, finta e, acima de tudo, o excepcional entendimento do jogo, rapidamente fariam dele um “habitué” entre o rol dos titulares.
Apesar do sucesso que ia tendo, inclusive com a conquista de alguns troféus – como são exemplo os 4 Campeonatos Carioca ganhos na década de 70 –, seria com a entrada nos anos 80 que a classe do médio explodiria. A “Era Zico”, como ficou conhecida, por essa altura, a série de sucessos do Flamengo, teria no jogador o principal impulsionador das vitórias. Os 4 Campeonatos Brasileiros, mas, principalmente, a conquista da Taça dos Libertadores e da Taça Intercontinental de 1981, transformariam Zico num dos maiores ídolos dos adeptos do emblema carioca.
Todo esse sucesso com a camisola do Flamengo, levá-lo-ia à selecção. Com a camisola “canarinha”, onde Zico era visto como um dos pilares, participaria nos Mundiais de 1978, 1982 e 1986. Jogou a Copa América de 1979 e, com tudo isto, acumularia 71 internacionalizações. Os 48 golos que concretizaria ao serviço do seu país, seriam suficientes para que, atrás de Pelé, chegasse ao 2º lugar (entretanto ultrapassado por Romário) dos melhores marcadores de sempre da selecção brasileira. Faltou-lhe, no entanto, um grande troféu. Numa selecção em que era sua a batuta, nunca teve o prazer de erguer uma das grandes Taças. Fica a consolação de, na sua estreia em Campeonatos do Mundo, ter recebido a medalha de Bronze.
Nisto de camisolas, Zico também vestiu as da Udinese e Kashima Antlers. Curiosa, seria a sua passagem por Itália… aliás, o que antecedeu a sua chegada. Ora, estando a Udinese disposta a pagar 4 milhões de dólares pela sua contratação, valor recorde à altura, os protestos de outros emblemas, relativamente aos valores envolvidos, levariam a Federação a cancelar a transferência. Este impedimento levaria a que os residentes locais se manifestassem. O grito de ordem era “Ou Zico ou a Áustria”, numa clara alusão ao tempo em que a região estava sobre o domínio do Império Austríaco. A ameaça de separatismo tomaria proporções tais que, o próprio Presidente italiano, Sandro Pertini, acabaria por intervir, autorizando a contratação do futebolista brasileiro.
É no Japão que Zico também tem um grande legião de fãs. A sua passagem pelo “País do Sol Nascente” ficaria marcada por dois momentos distintos. No primeiro, o médio acabaria por ajudar o Kashima Antlers, onde pôs um ponto final na vida de jogador, a transformar-se num dos emblemas de referência no Japão. O segundo capítulo desta sua passagem pelo Oriente, dar-se-ia já ao serviço da selecção. Convidado pelo dirigente máximo da Federação, antigo Presidente do Kashima, Zico assumiria as rédeas da equipa nacional. Ao “leme” da mesma, participaria no Mundial de 2006. Mas, o maior destaque, viria com a vitória dos nipónicos na edição de 2004 da Taça da Ásia.
Muito para além da sua carreira como futebolista, treinador ou, até, as suas participações no futebol de praia, Zico “fez uma perninha” no mundo da política. Entre 1990 e 1991, durante o Governo de Fernando Collor de Mello, Zico assumiria a pasta de Secretário Nacional do Esporte.

605 - WILMOTS

Seria no Sint-Truiden que daria os seus primeiros passos como profissional. Logo aí, a maneira lutadora como se acercava dos lances, as disputas guerreiras que travava com os oponentes e aquela força que o fazia nunca desistir de uma bola, valer-lhe-iam a atenção de outros clubes. 
Quem andava atento ao seu evoluir era o KV Mechelen (Malines). Aquele que, na transição dos anos 80 para os anos 90, era um dos emblemas de maior destaque na Bélgica, via no médio ofensivo muito mais do que um jovem com talento. Acreditando que era uma aposta segura, bastaria essa época de estreia, para que o clube onde militava Michel Preud’Homme contratasse Marc Wilmots.
A mudança de cores, traria para o atleta aquilo que qualquer jogador almeja na sua carreira. Logo nessa primeira temporada (1988/89), a Supertaça Europeia e o Campeonato da Bélgica entrariam para o currículo do médio. Mas se, por essa altura, a posição que mantinha no seio do plantel, ainda não permitia que começasse as suas partidas fora do banco de suplentes, os anos vindouros, mudariam, radicalmente, esse paradigma.
O aproveitamento que fazia das oportunidades que lhe eram entregues, acabariam por levar Wilmots a um lugar no “onze” inicial. Esse evoluir, cimentado na regularidade das suas prestações, transformariam os horizontes do médio em certezas bem assentes. A chamada à selecção nacional, a 26 de Maio de 1990, haveria de ser um desses momentos e um ponto importante para estatuto de estrela que aufere no futebol belga.
Como já dei a entender, a equipa nacional belga haveria de desempenhar um papel muito importante na sua vida. Não é para menos! Seria com a camisola dos “Diables Rouges” que Marc Wilmots participaria em 4 Mundiais (1990; 1994; 1998; 2002). Aliás, para ser correcto, houve uma quinta participação! Essa última, aconteceria no Verão de 2014. Ora, o Campeonato do Mundo organizado no Brasil, no qual Wilmots era o seleccionador belga, acabaria por devolver o seus país a um universo de onde andava afastado fazia 12 anos. Conseguiu levar a sua equipa aos quartos -de-final do torneio e, ao mesmo tempo, dava os passos necessários para que a Bélgica, como acontece actualmente (Outubro de 2015), ocupe o 2º posto do ranking FIFA.
Numa carreira que, por razão da sua eleição como Senador pelo Mouvement Réformateur”, sofreria um pequeno interregno em 2003, nem só de Mechelen e Selecção belga se fez a sua vida. Standard Liège e Schalke 04, os emblemas que mais partidas dão ao seu currículo, são também dois marcos da sua passagem pelos relvados. Pelos belgas ganharia apenas Taça do seu país. No entanto, o papel que desempenharia nos germânicos teria um peso bem maior. Muito para além da Taça da Alemanha conquistada, seria dele o derradeiro penalty que, frente ao Inter de Milão, desempataria a final da Taça UEFA de 1996/97. Por isso e pelo golo concretizado na 1ª mão, Wilmots será sempre recordado como o principal obreiro dessa vitória europeia.

POLÍTICA E FUTEBOL, parte II


Para o próximo fim-de-semana, está marcado em Portugal mais um acto eleitoral. Nesse dia 4, Domingo de Legislativas, o que se pede é que se escolham os deputados para o nosso parlamento. Aproveitando este mote, também o “Cromo Sem Caderneta” decidiu eleger mais uns quantos cromos. É deste modo que, durante o mês de Outubro, vamos regressar à “Política e Futebol”.

604 - GERD MÜLLER

Foi logo nos seus primeiros tempos de Bayern de Munique que o seu treinador, um jugoslavo de nome Cajkovski, o apelidou como o “pequeno gordo Müller”. Não muito agradado com o baptismo, o jovem futebolista ainda não se tinha apercebido que seria a sua fisionomia atípica, que haveria de o favorecer no mundo do futebol.
Ora, num atleta de alta competição, não se está à espera de ver umas pernas desproporcionalmente curtas; ninguém conta que 1,74m e 70 e alguns quilos possam fazer um grande adversário. Contudo, aquilo que parecia estranho aos olhos de muitos, talvez até ao próprio, era o que permitia a Müller destacar-se. O seu baixo centro de gravidade, aliado a um corpo robusto, dava ao avançado a habilidade de conseguir baralhar os seus oponentes. Ao mesmo tempo que ia mostrando alguma vantagem no contacto físico, as fintas curtas e estonteantes, a facilidade de rodar sobre si próprio, as arrancadas fulminantes e um pontapé fortíssimo, eram as suas qualidades. Os golos, que sucediam como resultado de todo o seu trabalho, não deixavam de ser o mais apetecível em si. Mas apesar dos resultados logo demonstrados no TSV 1861 Nördlingen, a sua transferência para o emblema de Munique não haveria de ser um “mar de rosas”.
Comparando Müller a um halterofilista, Cajkovski foi deixando o atacante fora das suas escolhas. Já a temporada de 1964/65 ia a mais de um terço, quando, dizem que por pressão do presidente, é dada ao atacante a sua primeira chance. Essa primeira partida de Müller, não digo que marque uma fase de viragem na história do Bayern. Contudo, é impossível de deixar de pensar que a mesma haveria de se tornar, pelo menos, num sublinhar daquilo que estava a acontecer no clube. Ora, numa altura em que os bávaros militavam apenas no segundo escalão germânico, aquilo que Müller trouxe ao plantel, foi o poderio atacante que faltava a esse grupo. Num balneário onde despontavam nomes como Sepp Maier ou Franz Beckenbauer, a contratação de um bom avançado foi o tónico necessário para fazer renascer o emblema. O primeiro resultado visível dessa renovação, seria a promoção à “Bundesliga”. A seguir, quase de rompante, começariam a surgir os títulos – colectivos para o Bayern, individuais para Gerd Müller.
Quando no início dos anos 80, ao serviço dos Fort Lauderdale Strikers (Estados Unidos da América), Müller pôs um ponto final na sua vida profissional, os números da sua carreira mostravam um êxito inequívoco. No seio de um Bayern de Munique que, na década de 70, dominaria o futebol alemão e europeu, os títulos acabariam por se suceder em catadupa. 4 Campeonatos, 4 Taças da R.F.A., 1 Taça dos Vencedores da Taças, 1 Taça Intercontinental e 3 (consecutivas) Taças dos Campeões Europeus, fariam do currículo do atacante um dos mais ricos da história da modalidade. No entanto, também pela selecção o seu trajecto foi de sucesso. Pela “Mannschaft” ganharia o Euro 72 e o Mundial de 1974. No dito Europeu, já depois do título de goleador conquistado no Mundial de 1970, também venceria a disputa para o Melhor Marcador. E se é para falar de metas individuais, então podemos referir os 7 troféus de goleador na “Bundesliga”, as 2 Botas d’Ouro, o Ballon d’Or da “France Football” ou, ainda, os 2 títulos de Melhor Jogador do Ano no Campeonato alemão!!!
Como curiosidade, e para reforçar a ideia da grandeza do jogador, há que dizer que muitos recordes, alguns que ainda se mantêm, foram da sua autoria. Foi, até 2006, o melhor marcador da história dos Mundiais, com 14 golos; a sua marca de 67 golos, prevaleceu até 2012 como a melhor numa só época; e, na agora denominada Liga dos Campeões, os seus golos, para além de o fazerem chegar ao topo da tabela dos melhores marcadores por 4 vezes, mantêm-no, ainda, como o atleta com melhor média de golos por partidas disputadas.