441 - CARLOS QUEIROZ

Para Carlos Queiroz, à imagem de tantos outros portugueses, também houve um antes e um pós 25 de Abril. Sem querer entrar no caminho das discussões ideológicas, sociológicas ou de entrar noutro campo qualquer que não o da bola, atrevo-me a dizer que para o jovem Carlos, a “Revolução dos Cravos” só veio trazer-lhe coisas boas.
Bem longe de Lisboa, em Moçambique, ainda jogou à baliza do Ferroviário da sua terra natal, Nampula. No entanto, seria com a vinda para Portugal e com a entrada para o Instituto Superior de Educação Física, que a sua vida, verdadeiramente, se alinhou com a do futebol.
Concluída a sua formação, e com o tão grato título de "Professor", para ostentar antes do nome, Carlos Queiroz haveria de ter a sua primeira experiência como técnico de uma equipa sénior, ao serviço do Estoril-Praia. Mas apesar de estar sob a alçada de Mário Wilson, e de, como seu adjunto, ganhar o traquejo necessário para alavancar a sua carreira, o seu destino parecia estar talhado para orientar as jovens promessas do nosso futebol. Ele que até já tinha tido algumas passagens pela formação de alguns emblemas, era, em 1987, convidado a integrar a Federação Portuguesa de Futebol.
Não foi necessário muito tempo até que a sua metódica maneira de compreender o futebol, começasse a dar frutos. Em Fevereiro de 1989, Portugal dava na Arábia Saudita, os primeiros passos para a conquista do Mundial de s-20. Por certo, poucos esperariam tamanho sucesso; poucos esperariam que num contexto com selecções como o Brasil, a Alemanha ou Argentina, os desconhecidos jovens portugueses conseguissem afirmar-se como os melhores. Tão poucos eram os que acreditavam, que nem mesmo Carlos Queiroz, já depois do troféu ganho, tomou consciência do feito - "Só começamos a perceber a verdadeira dimensão daquilo quando aterrámos em Lisboa. Ninguém estava à espera daquela recepção, daquela espontaneidade, daquela dimensão".
Apesar da pressão que estava sobre a sua cabeça, Carlos Queiroz não vacilou. Continuou a comandar os jovens "lusos" no caminho do sucesso, e em Maio desse mesmo ano, venceria o Europeu de s-16.
Depois de mais uma enorme conquista, a do Mundial de s-20, disputado em Portugal, Carlos Queiroz deve ter achado que já era tempo de se afirmar no universo dos seniores. O convite que surgiu era fácil de aceitar e, de alguma forma, dava continuidade ao trabalho que vinha a fazer. Foi então, com naturalidade, que aceitou o convite para dirigir a selecção principal. Contudo, os sucessos a que nos vinha habituando, acabaram por não ter seguimento, e Portugal falharia tanto o apuramento para o Euro 92, como para o Mundial de 1994, nos EUA.
O passo seguinte, e por sinal, até aos dias de hoje, o único à frente de um primodivisionário em Portugal, foi dado em Alvalade. Depois de, bem ao seu estilo e com uma declaração polémica - "É preciso varrer a porcaria que há na federação portuguesa" - ter abandonado o cargo de seleccionador, conseguiu pelo Sporting, apesar de nunca erguer o tão almejado troféu de campeão, o que a há muito já não se via por aquelas bandas: títulos. Venceu a Taça de Portugal de 1994/95, a Supertaça do ano seguinte e, até, seria consagrado com 2 Prémios Stromp. No entanto, isso não foi suficiente para convencer a direcção "Verde e Branca", de que ele era o homem certo para o lugar de timoneiro, acabando por ser despedido pelo Presidente Pedro Santana Lopes.
Este episódio marcaria o começo daquilo que tem sido a identidade da sua carreia, ou seja, um verdadeiro périplo pelo mundo fora. Esteve nos norte-americanos dos MetroStars, foi até ao Japão para comandar os Nagoya Grampus, passou pela selecção dos Emiratos Árabes Unidos, até que chegou ao leme dos "Bafana Bafana".
Na África do Sul voltou aos sucessos. Começou por conseguir apurar a equipa nacional para o Mundial de 2002. Mas quando tudo se conjugava para que fizesse a sua estreia em tão importante certame, estala uma polémica entre ele e os dirigentes da federação, e Carlos Queiroz vê-se afastado da fase final do torneio disputado na Coreia do Sul e Japão.
Mas há males que vêm por bem, e o seu afastamento abriria as portas de um dos maiores emblemas na Europa. No Manchester Utd, é certo que como adjunto de Sir Alex Ferguson, Carlos Queiroz vê a sua reputação subir em flecha. Foi tão boa esta sua subida que, passado um ano sobre a sua chegada a Inglaterra, surge o Real Madrid. Ora, este presente, que parecia tão bom, estava no entanto (meio) envenenado. Se bem se lembram, em 2003/04, vivia-se na capital espanhola o auge da era dos "Galácticos". Pelos "Merengues" alinhavam jogadores como Figo, Ronaldo, Beckham, Casillas, Raul, etc. Claro está, no meio de tantas estrelas, o choque de egos é, de igual forma, enorme. Carlos Queiroz seria incapaz de gerir todos esses caprichos e, ainda assim com uma Supertaça vencida, o seu reinado seria bem pequeno.
De volta a Old Trafford, ficou por lá durante quatro temporadas. Conquistou tudo o que havia para conquistar, mas aquilo que Queiroz mais queria, a promessa de que sucederia a Sir Alex Ferguson, essa, nunca se concretizaria.
Talvez farto de estar à espera, concorda com o regresso a Portugal e ao comando da "Equipa das Quinas". Na ressaca da era Scolari, Carlos Queiroz consegue a qualificação para o Mundial de 2010. Já na África do Sul, com uma equipa considerada das mais fracas dos últimos anos, consegue, ainda assim, atingir os oitavos-de-final. Mas, mais uma vez, a polémica já andava no ar. A querela, desta feita, começou por envolver o seleccionador e uma equipa da Autoridade Antidopagem de Portugal. A contenda que, ainda no contexto do estágio de preparação e entre as duas partes inicialmente envolvidas, se caracterizaria por uma acesa troca de insultos, pareceu, muito à custa do parco resultado conseguido no Mundial, alastrar-se a jogadores e dirigentes federativos. Tudo, em jeito de espiar os seus próprios pecados, parecia estar contra Carlos Queiroz. Como é lógico, o treinador ver-se-ia afastado do seu cargo e, pior ainda, entraria numa disputa judicial, por razão da suspensão aplicada pela, já referida, entidade de antidopagem.
Já depois de tudo isto, assumiu funções na selecção do Irão. Mais uma vez, contra todas as probabilidades, qualificou a selecção do Médio Oriente para o Campeonato do Mundo de 2014. Claro, há coisas que nunca mudam e Carlos Queiroz ainda recentemente se envolveu numa troca de palavras com os responsáveis directivos... tudo isto por causa da duração do estágio de preparação para o torneio disputado no Brasil.

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