436 - CRUYFF

Nem todos os bons jogadores dão bons treinadores, e nem todos os bons treinadores foram bons jogadores. Já Cruyff (ou Cruijff - maneira correcta de escrever) pode dizer-se que atingiu a excelência nos dois campos.
A sua história começa quando a sua mãe, empregada de limpezas no estádio do Ajax, pediu aos responsáveis que dessem uma oportunidade ao seu filho e que o observassem. Este momento curioso que, provavelmente, nenhum dos intervenientes pensaria resultar no que resultou, foi o primeiro passo para uma carreira brilhante. No entanto, apesar de todos reconhecerem a virtude do jogador, não podemos deixar de referir o papel preponderante que, no desenvolver das suas habilidades, teve uma das míticas figuras do desporto mundial, Rinus Michels. Foi o falecido técnico holandês que, praticamente desde a estreia de Cruyff nos seniores, comandou a equipa do Ajax. Foi esse grupo que, entre a última metade dos anos 60 e os anos 70, arrebatou o futebol holandês e europeu. Os números deste domínio são incontestáveis e por poucos alcançados: 8 Campeonatos da Holanda; 5 Taças da Holanda; 3 Taças dos Campeões Europeus (seguidas); 3 Supertaças europeias; 1 Taça Intercontinental.
É certo que no futebol, como em tantos outros desportos colectivos, um jogador só, pouco, ou nada, vale. E num balneário onde coabitavam nomes como os de Johan Neeskens, Ruud Krol, Wim Suurbier, Arie Haan, Johnny Rep ou Piet Keizer, pouco justifica que alguém se conseguisse destacar. No entanto, Johan Cruyff era de um outro universo. A prova estava na maneira com este se apresentava em campo. No ataque ou no apoio ao mesmo, ele era um jogador com uma percepção, uma inteligência e uma leitura de jogo, superior a qualquer um que, com ele, se apresentasse no relvado. Tinha também uma capacidade de passe geométrica, o que fazia com que, raramente, falhasse uma assistência. Ainda por cima, como um qualquer goleador, sabia aparecer na área de finalização e marcar golos.
Mas melhor do que estar a tentar descrever aquilo que ele sabia, é ver um qualquer filme que ilustre o que conseguia fazer pelas suas equipas. A dinâmica que imputava ao jogo, fazia com que a circulação da bola, e jogadores, se assemelhasse a um elegante carrocel. Foi neste esquema, em que as posições de campo, fora da rigidez a que podemos estar habituados, eram algo muito relativo, que cresceu a selecção holandesa, participante no Mundial de 74. A famosa "Laranja Mecânica", acabaria por perder o troféu, na final, para a equipa organizadora do torneio, a Alemanha. Contudo, o que ficou na retina de todos os que tiveram o prazer de ver as partidas da Holanda, foi um futebol elegante e, talvez, o mais bonito que a história da modalidade testemunhou.
Por altura deste Campeonato do Mundo, já Cruyff representava o Barcelona. Antes ainda, tinha tido o reconhecimento que merecia, e já tinha conquistado diversos prémios individuais, entre eles: o Ballon d'Or de 1971 e 1973 (haveria de vencer o 3º, nesse ano de 1974), 4 títulos de melhor jogador holandês (ainda ganhou um 5º no regresso ao seu país) e a Bota de Ouro de 1968.
Na Catalunha, para onde seguiu atrás do, já aqui falado, Rinus Michels, os triunfos sucederam-se. É certo que não ao nível daquilo que estaria habituado, mas, ainda assim, teve o mérito de ajudar a sua equipa a levantar uma "Copa del Rey" e uma "La Liga". Muito mais importantes do que estes "canecos", ou das 5 temporadas que por ali jogou, foi a admiração que conquistou entre os adeptos "Blaugrana" e, porque não dizê-lo, entre o povo catalão. Por isso mesmo teve a oportunidade de vestir, num encontro contra a Rússia, em 1976, a camisola da selecção daquela província.
Esta ligação com a dita região espanhola, voltou a ter um novo encontro já depois de Cruyff ter pendurado as chuteiras. Estou, como é óbvio, a referir-me à sua experiência como treinador.
Ainda antes da passagem pelo comando do Barcelona, bem à medida da sua polémica imagem, Cruyff já havia conquistado o seu primeiro título. A história conta-se depressa. Já depois de ter ido, ainda como jogador, de Espanha para os E.U.A., e de um novo regresso ao país de "Nuestros Hermanos" (Levante), Cruyff voltou ao seu Ajax. Só que, enquanto este planeava terminar ali a sua carreira, os dirigentes do emblema de Amesterdão não viram este fim com os mesmos olhos. Segundo dizem, por vingança, Cruyff rumou, então, aos rivais do Feyenoord, e em Roterdão, com a função de treinador-jogador, haveria de conquistar o Campeonato holandês de 1984. É verdade que a zanga não durou muito, e pouco tempo após esta vitória, em 1985, Cruyff já estava ao leme do Ajax, e pronto para vencer 2 Campeonatos e a Taça das Taças de 1987.
Como estava há pouco a dizer, a passagem pelo comando técnico do Barcelona, foi também ela marcada pelo sucesso. E se os títulos que ganhou (1 Taça dos Campeões Europeus; 1 Taça das Taças; 1 UEFA Supercup; 4 Campeonatos; 1 Copa del Rey; 3 Supertaças Espanha), mais uma vez, sublinham a sua mestria, já a maneira como pôs toda a equipa a jogar, é grande mostra que, mesmo do lado de fora do campo, Cruyff sempre foi fiel à maneira como interpretou o jogo e o tornou num espectáculo ainda mais apaixonante.

4 comentários:

Tiago Cardoso disse...

Sabia: ela tinha medo que ele andasse em más companhias, e quis pôr o filho numa actividade extra-curricular (relembro que ele ficou orfão de pai muito novo, daí que talvez também tenham vindo esse receio); ora, certo, certo, é que o mundo do futebol de 11 agradece esse receio!

(Retirado do Facebook, a 22/01/14)

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

É verdade aquilo que conta? Nunca tinha ouvido esta versão detalhada da história! Obrigado.

Tiago Cardoso disse...

Penso que sim.

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

É bem capaz... eu já tinha lido que tinha sido a mãe dele a ir falar com os responsáveis do clube, mas não sabia da história toda. Faz todo o sentido.