548 - LEAL

Ainda que a sua ligação ao Académico de Viseu não seja uma história muito longa, posso afirmar que Leal terá sido um dos mais notáveis atletas a vestir a camisola dos "Estudantes".
Contratado ao Viseu e Benfica, já depois de aí ter sido promovido à equipa sénior, Leal seria uma das peças fundamentais, naquela que foi a última subida, e presença, dos viseenses na 1ª Divisão. A jogar a central, o defesa seria um dos pilares dessa caminhada. Alto, possante e com uma colocação exemplar, a segurança que dava ao derradeiro sector da equipa, seria essencial ao sucesso do grupo.
Apesar de todos o considerarem como um esteio, a verdade é que a qualidade das suas exibições não seriam suficientes para que o Académico de Viseu conseguisse, ao fim da temporada de 1988/89, manter-se no patamar maior do nosso futebol.
Mesmo com o desaire da equipa, Leal conseguiria, e de que maneira, chamar a atenção de outros emblemas nacionais. Tão boas eram as referências deixadas por si, que logo o Sporting decidiu juntá-lo ao seu plantel. Mesmo não tendo um grande currículo primodivisionário, e, por conseguinte, com muitos a agoirar-lhe sérias dificuldades futuras, o defesa iria surpreender uma série de gente. Ainda assim, a sua passagem por Alvalade não deixa de ser curiosa. Pois, por razão da contratação de Luisinho, que acabaria por fazer dupla no centro da defesa com Venâncio, Leal parecia não ter espaço para se impor.
Seguro da sua qualidade, Manuel José haveria de o adaptar a lateral esquerdo. Foi nessa posição que, de "Leão ao peito", fez carreira. Sem grande velocidade, talvez o seu único ponto fraco, haveria de se afirmar pela segurança que dava a esse lado do campo. Assertivo na maneira de encarar os lances, a fiabilidade transmitida ao lado canhoto da defesa, levá-lo-ia a ser um dos nomes habituais na lista de titulares do Sporting. Consequência dessa regularidade, acabaria por ser a atribuição, em 1991, do Prémio Stromp para Atleta Profissional do ano.
Outra das distinções que acabaria por merecer, seria a convocatória para a selecção nacional. Com a "Camisola das Quinas" conseguiria um total de 15 internacionalizações, jogadas essas partidas na campanha de apuramento para o Euro 92.
Com o aparecimento de Paulo Torres e, ainda por cima, com a contratação de Vujacic, Leal começa a perder espaço em Alvalade. Com muito ainda para dar ao futebol, o seu lugar entre os emblemas da 1ª Divisão estava assegurado. Depois de Belenenses e Felgueiras, chega a vez de representar o Estrela da Amadora. Pelos da Reboleira, e com os trinta anos já para trás, Leal volta a afirmar-se como um dos melhores do Campeonato, a jogar... a defesa central!!!
Foi de volta à sua posição de origem que o internacional "luso" faria o restante da sua carreira. O fim, depois de ter vestido o vermelho do Santa Clara, aconteceria no regresso a casa. Seria em Viseu, novamente com as cores do Académico, que Leal, aos 38 anos e com o "términus" da temporada de 2002/03, decidira “pendurar as chuteiras”.

547 - RODRIGO

Depois de brilhar ao serviço das camadas de formação do Académico de Viseu, a sua integração na equipa principal, corria a temporada de 1965/66, seria entendida como o passo certo na progressão do atleta. Resultado de tais prestações, Rodrigo começa a ser cogitado noutros meios futebolísticos. Nesse sentido, a maior consequência desse sucesso, com o seu nome a aparecer na lista dos eleitos, faria sentir-se aquando da convocatória, por parte dos responsáveis técnicos da Federação Portuguesa de Futebol, para o Europeu de Juniores de 1966.
A notoriedade alcançada pelo jovem médio, logo nesses primeiros passos da sua carreira, faria com que outros emblemas da cena nacional, começassem por ele a despender uma atenção especial. Não foi necessário muito mais tempo, para que de outros patamares surgissem propostas concretas. Ora, seria assim que o médio, no Verão que se seguiria ao referido torneio jovem disputado na antiga Jugoslávia, deixaria a colectividade viseense para, desta feita, integrar o plantel dos "Estudantes" da cidade de Coimbra. Contudo, a mudança não traria os resultados esperados. Pouco utilizado, as dificuldades que haveria de experimentar, acabariam por ser maiores do que a esperança nele depositada.
Um ano após a sua partida, Rodrigo estava de volta ao emblema no qual tinha crescido. A evoluir na 2ª Divisão, a sua carreira desportiva haveria de sofrer um pequeno abalo, ao ser interrompida por "interesses da nação". Incluído nos contingentes militares enviados para as denominadas Províncias Ultramarinas, Rodrigo, por razão da referida "Missão de Soberania", acabaria por ser destacado para Angola.
Após o regresso à metrópole, o "trinco" romaria a outras paragens, um pouco distantes de Viseu. Contratado pelo Vitória de Guimarães para a época de 1971/72, Rodrigo faria, finalmente, a sua estreia na 1ª Divisão. Sem nunca chegar a ser um dos indiscutíveis da equipa, o centrocampista, com todo o mérito, acabaria por merecer o seu lugar no seio do plantel vimaranense. Talhado para tarefas mais defensivas, Rodrigo não deixava de ter qualidades técnicas invejáveis. Dono de um bom passe e com um entendimento de jogo capaz de fazer dele um bom distribuidor, o atleta ia conquistando o seu espaço.
Seria já depois desses três anos na "Cidade Berço", e duas curtas passagens pelo Sp.Braga e Famalicão, que, mais uma vez, o "negro" do Académico de Viseu voltaria a colorir a sua vida profissional. Ora, no final dos anos 70, os viseenses andavam em perseguição de algo que nunca antes tinham conseguido. Para cumprirem esse sonho, tinham agora ao seu serviço um jogador experiente, como o era, por essa altura, Rodrigo. Esse traquejo, incontestavelmente, acabaria por ser um dos pilares da tão almeja promoção ao patamar maior do futebol nacional.
A subida de escalão haveria de permitir a Rodrigo, ele que também era o capitão da formação beirã, jogar mais 4 temporadas (78/79; 80/81; 81/82) na 1ª Divisão. A última dessas épocas, com a descida do Académico de Viseu, marcaria o começo do fim da sua carreira. Esse viria a acontecer, não de uma forma vincada, mas numa espécie de passagem suave. Seria então ao serviço do Gouveia, cumprindo as tarefas de treinador e, ao mesmo tempo, as de jogador, que Rodrigo faria a transição das "quatro linhas" para o "banco" de suplentes.

546 - ACADÉMICO de VISEU

Quando um grupo de estudantes do Liceu Alves Martins e do Colégio da Via Sacra decidiram juntar-se para formar um clube, longe estariam de imaginar que tal ideia resultasse num dos emblemas centenários do desporto português.
A génese estudantil de tal agremiação, acabaria por justificar as cores negras dos equipamentos e a designação de Académico. A vontade de praticar desporto, sem se saber muito bem desde que altura, acabaria por ter o seu primeiro reflexo palpável, quando, a 7 de Junho de 1914, o conjunto de Viseu convida os de Tondela para um desafio de futebol. Desde aí, e durante mais de uma década, poucos são os registos das actividades promovidas pelos jovens entusiastas. Já o ano de 1927, marca um ponto de viragem na história do emblema beirão. É nesse ano que os estatutos do clube dão entrada na Federação Desportiva de Viseu, organismo que antecederia a Associação de Futebol daquela cidade. A data oficializada como a da fundação do recém-registado Clube Académico de Futebol, haveria de ser, segundo consta nos documentos, a de 1917. Esta falácia, juntamente com outras notícias que falam do surgimento em 1908, é só mais um dos dados que, durante anos a fio, lançou a confusão no que diz respeito à nascença do emblema viseense.
Sem que isso fosse de grave importância, e com a já referida data de 1914 mais comumente aceite para a da fundação do Académico de Viseu, a vida dos "Estudantes" continuaria a sua caminhada. Seria já para a temporada de 1935/36 que a notoriedade do clube ganharia, com a disputa da 2ª Liga, mais alguns pontos. Daí em diante, o nome do Académico de Viseu seria recorrentemente listado como um dos emblemas presentes nos campeonatos nacionais, sem, no entanto, conseguir alguma vez auferir do estatuto de primodivisionário.
Essa glória atingi-la-ia uma série de anos depois, terminava a década de 70. Após uma temporada bastante positiva, os da Beira Alta acabariam por assegurar, com a conquista do segundo posto na Zona Centro da 2ª Divisão, um lugar na Liguilha. Ao vencedor de tal torneio era atribuído, para a época que se seguia, a derradeira vaga no escalão maior do nosso futebol. O Académico de Viseu, ao ficar no primeiro lugar de tal classificação, acabaria por merecer tal prémio.
Como resultado do dito sucesso, para temporada de 1978/79, os "Estudantes" fariam a sua entrada nos palcos maiores do futebol português. Apesar de contarem com nomes de alguma monta no cenário nacional - casos de António Vaz, Teixeirinha, José Freixo, Rachão ou Joaquim Rocha -, a verdade é que os "Beirões", acabariam por ceder a alguma inexperiência.
Ainda assim, esta estreia serviria de mote para que, nos anos vindouros, o Académico se afirmasse como um dos habituais neste grandes cenários competitivos. Mas se os anos que se seguiram, com um total de 4 temporadas na 1ª Divisão, serviriam de pano para as melhores páginas da história do clube, a entrada num novo milénio, como que empurrou os viseenses para o abismo. Mergulhados numa gravíssima crise financeira, o ano de 2006 acabaria por determinar, por ordem judicial, a insolvência do emblema. Contudo, a vontade de um grupo de sócios haveria de dar a volta à situação, e, num verdadeiro conto de paixão e entrega, conseguiriam fazer ressurgir a alma do emblema estudantil.
A solução para o tal descalabro, passaria pelo acordo feito com Grupo Desportivo de Farminhão que, daí em diante, passaria a designar-se como Académico de Viseu Futebol Clube. Este ressuscitar começaria com o emblema a disputar as competições regionais do Distrito de Viseu. Daí para a frente, a vontade de devolver a grandeza de outrora ao escudo que mantinham nas camisolas, fez com que, numa ascensão transcendente, os homens à frente deste sonho conseguissem assegurar um lugar nos meios mais competitivos. O passo decisivo para cimentar o ressurgimento do Académico de Viseu, dar-se-ia em 2013/14, com o regresso do clube aos campeonatos profissionais e à denominada Liga II.

545 - FILÓ

Formado nas escolas do Sporting de Espinho, seria também no dito clube que Filó, corria a temporada de 1989/90, faria a transição para a categoria principal. Como é normal em jovens jogadores, os primeiros anos com os seniores acabariam por ser os da adaptação a uma nova realidade competitiva. Poucas vezes chamado a jogo durante essa fase, o jovem defesa acabaria por, durante duas épocas, ganhar experiência ao serviço do Fiães.
Depois do traquejo conseguido nos campos da 3ª Divisão, o seu regresso à "casa mãe" aconteceria numa fase ascendente para o Sporting de Espinho. A militar na Divisão de Honra, mas sempre com os olhos postos no patamar acima, os "Tigres" lá iam tentando acercar-se dos lugares cimeiros da tabela classificativa. A tão almejada promoção, numa altura em que Filó já era um dos nomes recorrentes na lista de convocados, aconteceria terminada a temporada 1995/96. Na época que sucederia, Filó continuaria a ser uma das peças fundamentais na manobra da sua equipa. Contudo, e apesar das exibições convincentes do atleta, o conjunto da Costa Verde claudicaria perante uma concorrência mais forte, não conseguindo evitar nova queda no segundo escalão.
Depois desta primeira experiência, e apesar de grande parte da sua vida como desportista estar ligada ao Sporting de Espinho, seria por outro emblema que, alguns anos passados , Filó voltaria aos palcos maiores do futebol português. Com as cores do Paços de Ferreira, já depois de uma passagem pelo Penafiel, o defesa (que também podia jogar a médio defensivo) acrescenta mais três épocas (2001/02; 2002/03; 2003/04) ao seu currículo primodivisionário. Pelos "Castores", a intermitência com que ia aparecendo em campo, nunca lhe permitiria atingir um patamar de importância tão vincado, quando, anteriormente já havia conseguido.
Seria já depois de terminado este capítulo, e numa altura que já tinha passado a casa dos 30 anos de idade, que Filó regressa ao clube que o lançara para o futebol. De volta ao Sporting de Espinho, sob aquele princípio de que "um bom filho a casa volta", Filó percorre os derradeiros passos da sua vida profissional dentro das quatro linhas.
Foi logo a seguir a essas duas últimas temporadas que, sem abandonar a modalidade que sempre o apaixonou, Filó decidiu seguir um novo rumo. Como treinador daria início à sua actividade no Lousada. De seguida, depois de comandar equipas como o Fiães, Paredes e Aliados Lordelo, deu-se novo regresso ao Estádio Comendador Manuel Violas. A passagem pelo "banco" do Sporting de Espinho acabaria, resultado das boas exibições da equipa, por dar alguma notoriedade ao antigo jogador dos "Tigres". No entanto, e apesar da boa prestação, a sua saída do clube, a meio da segunda temporada, haveria de ficar envolta em alguma polémica. Apesar da controvérsia, a verdade é que o convite da Naval 1º de Maio, com entrada directa para os campeonatos profissionais, era bom de mais para ser recusado. Depois de se consolidar neste escalão, e já neste novo ano (2014/15), Filó, ao leme do Freamunde, tem tudo para ser a grande surpresa da Liga II. Para já segue no topo da tabela e, quiçá, para o ano fará a sua estreia enquanto técnico, no principal patamar do nosso futebol.

544 - JOÃO CARLOS

Quando uma carreira desportiva fica, inteiramente, ligada a um só clube, então, é normal que a história desse jogador acabe por se confundir com o emblema em questão. No caso de João Carlos, o laço que o liga ao Sporting de Espinho vem desde que, nos escalões de formação, começou a dar os primeiros passos no mundo do futebol.
Em 1972 chegaria a vez de subir aos seniores. Desse modo, ainda na 2ª Divisão, daria início a um trajecto profissional que, durante década e meia, não conheceria outras cores. Nessa lógica, seria também com o listado dos da Costa Verde que João Carlos faria a sua estreia, corria a época de 1974/75, na Primeira Divisão. Ainda sem ser um dos nomes mais sonantes do plantel, o jovem médio, por essa altura, começava já a destacar-se pela sua aprimorada capacidade técnica. No entanto, seria aquando da segunda subida ao escalão máximo do nosso futebol (1977/78), que a sua presença no "onze" inicial do Sporting de Espinho começou a revestir-se de alguma regularidade.
Com o estatuto de indiscutível, João Carlos começou a ser um dos nomes com mais peso dentro do balneário. A humildade, a maneira como, dentro de campo, lutava pelo clube, ou a paixão que, fora dele, sempre mostrou pela equipa, serviriam para sublinhar essa sua importância. Sentiria, como ninguém, todas as alegrias e tristezas vividas e, acima de tudo, faria (e faz!) dos momentos altos do clube um dos maiores orgulhos da sua vida - “As subidas à I Divisão e as três épocas que passámos nesse escalão, quando o treinador era o Manuel José, são pontos altos da minha carreira”*.
Das 11 temporadas em que o Sporting de Espinho lutou nos maiores palcos do futebol português, 7 delas contam com o nome de João Carlos. No cômputo desses anos passados na Primeira Divisão, as cerca de 180 partidas que realizaria de "Tigre" ao peito, fazem dele, no que diz respeito ao dito escalão, o atleta com mais jogos disputados pelo clube. Ora, tais números são só mais um aspecto da sua relevância para a história da colectividade espinhense. Esse facto, como se tal fosse necessário, acabaria por pôr o antigo futebolista numa restrita lista de atletas que, acima de tudo o que foram no desporto, são, pela razão da sua paixão, exemplos a seguir e, como consequência de tal, símbolos maiores do Sporting Clube de Espinho.


* do artigo no "Público" (21/11/2014), por Manuel Assunção

543 - SPORTING ESPINHO


Foi a 11 de Novembro de 1914 que um grupo de jovens da terra, entusiastas do desporto e conhecidos pelos bravos embates frente a outras turmas do Porto, decide formar uma nova agremiação. Talvez pela ligação à "Cidade Invicta", tanto no quotidiano das pessoas, como na prática do tal "foot-ball", ser tão vincada, o recém-nascido Sporting Clube de Espinho começaria a sua vida ligado a Associação de Futebol do Porto.
Seria nesta condição que, poucos anos após o seu aparecimento, o emblema da Costa Verde conquistaria o seu primeiro grande troféu. Ora, depois de nas meias-finais ter eliminado o Boavista, o adversário que para o Sporting de Espinho se seguiria, era o Salgueiros. O derradeiro encontro da competição estava marcado para o Campo de Ramalde. Por coincidência, para esse mesmo dia estava agendada uma corrida de touros. É então que os representantes do Salgueiros, por certo mais interessados em tal evento, requerem um adiamento do jogo. Contudo, e apesar de verem recusado tal pedido, os de Paranhos decidem faltar ao jogo da final. Como é óbvio, e na sequência da tal falta, a Associação de Futebol do Porto acaba por atribuir a Taça de Honra de 1918 ao Sporting de Espinho. Ainda assim, os "Tigres" decidem, em jeito de tira-teimas, desafiar os adversários para um jogo. O embate, desta feita, seria marcado para o Campo da Avenida, na cidade de Espinho. O resultado, a favor dos da casa, acabaria por ficar em 4-0 e, para aqueles que haviam ficado com algumas dúvidas, consagraria o Sporting de Espinho como o justo vencedor.
Saltando até 1967, podemos recordar outro dos grandes momentos da história do clube. Na Taça Ribeiro do Reis, prova organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, a progressão do Sporting de Espinho ia de "vento em popa". Com tais prestações, para final da competição ficaria reservado um lugar para o clube. Em Lisboa, no Estádio da Tapadinha, decidia-se o destino do troféu. Ora, para além dos espinhenses, também tinha garantido a presença nesse último jogo, o Vitória de Setúbal. Como é óbvio, frente a um grupo onde nomes como os de Conceição, Jacinto João, José Maria ou Fernando Tomé eram estrelas, o Sporting de Espinho, por essa altura na 2ª Divisão, era visto como "carne para canhão"!!! No entanto, bastou um golo - concretizado por Jardim - para que o pequeno "David" saísse como ganhador de tamanha contenda.
Mas apesar destes momentos de sucesso, havia ainda um tal passo na vida do Sporting de Espinho que faltava dar. Esse, a tão almejada subida à 1ª Divisão, aconteceria já em 1974. Daí em diante, com algumas intermitências, o Sporting de Espinho começaria a entrar na rota dos palcos maiores do futebol português. O destaque das passagens, depois da inicial subida e de uma segunda presença na temporada 1977/78, aconteceria em 1979/80. Nessa época, que precederia outras quatro no principal escalão, os "Tigres" acabariam por fazer uma das melhores classificações de sempre no Campeonato Nacional. Num plantel comandado por Manuel José, e composto por históricos como João Carlos, Moía ou Raúl, uma série de bons resultados acabaria por levar o clube a uma honrosa sétima posição.
Depois de em 1996/97 ter marcado, pela última vez, presença no nosso principal escalão, o Sporting de Espinho acabaria por entrar numa rota negativa. Afectado, tanto no plano desportivo, como a nível financeiro, o clube da Costa Verde milita agora (2014/15) no Campeonato Nacional de Seniores. As perspectivas, com os de “branco e preto” a insistirem em permanecer nos últimos lugares da tabela classificativa, não se afiguram muito animadoras.
Noutro sentido, pensa-se na restruturação dos equipamentos, onde, um projecto para um novo estádio está na linha da frente dos planos directivos.
Claro, e apesar deste "blog" ser, maioritariamente, ligado ao futebol, não poderemos deixar de fazer referência àquela que é a modalidade que, além-fronteiras, tem erguido o nome do clube. No voleibol, o Sporting de Espinho é o emblema que, a nível nacional mais campeonatos venceu. Mas se isso não fosse motivo para aqui fizéssemos este pequeno apontamento, então a conquista da Top Teams Cup de 2000-01, faz com que os espinhenses sejam os únicos que em Portugal, possam ostentar a conquista de uma competição europeia.

542 - SKODA

João Rafael dos Santos - nome de guerra: Skoda - haveria de terminar a sua formação ao serviço dos "Leões de Faro". E se no Farense pôs fim a essa etapa, seria também nos da capital algarvia que o atleta faria a sua estreia entre os seniores. Algumas épocas depois, com o clube a manter-se sempre no segundo escalão nacional, já o centrocampista era um dos nomes em destaque no seio do plantel. Ora, com a referida teima do Farense em fugir à promoção, que melhor haveria de surgir para o jogador, do que uma proposta do Boavista? Com novo contrato assinado, malas na mão e, agora que estava na melhor montra do futebol português, com o futuro a sorrir-lhe, o sucesso esperava-o na cidade do Porto. Mas se esta era a sua, legítima, expectativa, então, o passo que acabava de dar serviria para o esconder atrás de outros, bem mais experientes na matéria da bola. Pouco utilizado por Henrique Calisto, a sua vida no Estádio do Bessa era tudo menos um sonho. Sem se conseguir impor, talvez com algumas dificuldades em adaptar-se à nova realidade, mas, essencialmente, tapado por nomes como os dos internacionais João Alves e Rui Palhares, Skoda acabaria por regressar ao seu Algarve.
Um ano após a sua partida para o Norte do país, Skoda estava de volta. No entanto, aqueles que pensavam que o regresso seria para o clube da sua terra, e que o tinha lançado na roda do desporto, acabariam por ver o médio a assinar pelos rivais do Portimonense. Mais uma vez, os primeiros tempos no clube não haveriam de correr de feição. Já a sua afirmação, com Skoda a confirmar-se como um dos elementos mais preponderantes na dinâmica da equipa, ocorreria nessa tão mítica temporada para os "Alvi-Negros"... a de 1985/86. Ironicamente, aquele que ficaria, para a história do Portimonense, como um momento inesquecível, Skoda não o viveria. A eliminatória frente ao Partizan de Belgrado estava para breve. Por certo, o nome do médio era um dos equacionados por Vítor Oliveira, para o "onze" inicial. Mas uma lesão frente a Académica, num jogo para o Campeonato, ditaria o afastamento do jogador, daquela que seria a primeira participação dos do Barlavento numa competição organizada pela UEFA.
Independentemente desta desilusão, a carreira de Skoda no Portimonense talhou-se pelo sucesso. Para tal, muito contribuiu a sua boa visão de jogo, que, juntamente com uma técnica bem acima da média, permitiam que fosse um dos principais municiadores do sector mais ofensivo da sua equipa. Estas qualidades, e a preponderância que tinha no seio do seu grupo, levá-lo-iam, na ressaca do "Caso Saltillo", a ser chamado à Selecção Nacional. A sua estreia, que por sinal seria a sua única internacionalização, aconteceria frente a Malta, numa das partidas a contar para o apuramento do Euro 88.
O resto da sua vida de desportista passar-se-ia sempre em representação dos barlaventinos. Nove temporadas no total, fizeram com que Skoda se tornasse num dos ídolos predilectos da massa associativa. A sua entrega ao clube, mesmo quando este claudicou e entrou numa fase descendente, fez dele um exemplo a seguir por outros atletas. Essa sua dedicação valeu-lhe a braçadeira de capitão; já os nove anos em que vestiu as riscas verticais do Portimonense, consagrá-lo-iam como o futebolista que, nos campeonatos profissionais, mais vezes representou o emblema algarvio.

541 - GETOV

Foi no início dos anos 80 que no Spartak Pleven, emblema que por essa altura frequentava a divisão maior búlgara, começa a destacar-se um atleta que, sem ter um grande poder físico, brilhava pelas suas qualidades técnicas. A evolução do jogador seria de tal ordem positiva que, a 9 de Março de 1983, para um particular frente à Suíça, Getov faz a sua estreia na lista de convocados para a principal selecção do seu país. Não parecendo contente (apenas) com a sua primeira chamada à equipa nacional, o médio ofensivo, que havia começado o desafio na condição de suplente, haveria de deixar a sua marca no dito encontro. Sai do banco aos 76 minutos, numa altura em que o "placard" dava 1-0 para os adversários, e, bem perto do apito final do árbitro, conseguiria empatar a partida.
Aliás, esta sua veia goleadora haveria de ser uma das marcas mais vincadas na sua carreira. Essa sua aptidão para o golo, ele que, preferencialmente, até se posicionava atrás dos "verdadeiros" avançados, era uma das suas grandes armas. Sabia, sorrateiramente, aparecer na área; sabia, como ninguém, ludibriar as marcações dos seus oponentes; e, acima de tudo, tinha um pontapé terrivelmente certeiro. Todos estes predicados, levá-lo-iam a destacar-se como um dos bons artilheiros na Bulgária. A prova de que, tal "faro", era para ser levado a sério, é que, ainda ao serviço do Spartak Pleven, Getov haveria de conquistar, finda a temporada de 1984/85, o prémio de Melhor Marcador do Campeonato.
Ora, por essa altura já ele era um dos jogadores habituais nas chamadas à selecção. Essa assiduidade faria com que o seu nome, sem qualquer tipo de espanto, aparecesse como um dos eleitos para disputar o Mundial de 1986. No México, o atleta haveria de ser uma das figuras em destaque no seio do seu grupo. Disputaria todas as partidas e, mais uma vez, marcaria um dos golos (desafio frente à Coreia do Sul) que permitiria à sua equipa, na condição de um dos melhores terceiros, qualificar-se para os oitavos-de-final da competição.
Com o estatuto de estrela alcançado, foi normal que um dos maiores emblemas do seu país se interessasse na sua contratação. A transferência para o CSKA de Sofia ocorreria, deste modo, no início da época de 1988/89. No entanto, aquilo que parecia um passo em frente na progressão da sua carreira, acabaria por se tornar num, não direi grande, mas num pequeno desaire. Pouco utilizado, a solução para Getov foi a de procurar um novo rumo para a sua vida profissional. Como já tinha passado os 28 anos, idade mínima estipulada pelo governo para que pudesse ir jogar para outro país, a hipótese "estrangeiro" pôs-se. Ora, seria neste contexto que a meio da dita temporada (há que dizer que o CSKA sagrar-se-ia campeão nesse ano), Getov chega a Portugal.
No Portimonense, emblema para o qual se transferiu, jogaria dois anos e meio. A sua estreia, serviria para provar que, ao Algarve, acabava de chegar um grande craque. Nessa partida frente ao Marítimo, o internacional búlgaro mostraria aos adeptos um dos seus melhores atributos: a marcação de livres! O golo, um dos tantos que marcaria ao serviço dos "alvi-negros", foi uma pequena amostra daquilo que tinha para oferecer. Também é verdade que Getov evitava aquelas disputas onde se adivinhava algum contacto maior; igualmente, não é mentira dizer-se que poderia ter corrido um pouco mais. Contudo, e apesar de lhe serem apontados alguns defeitos, o médio era aquele que mais vezes fazia levantar o público; era o que mais vezes o fazia vibrar; era magia; era a verdadeira paixão do futebol. Por essa razão, e apesar de não ser, nem de perto nem de longe, um dos atletas com mais jogos realizados pelo clube, Getov é, ainda hoje, recordado como um dos melhores futebolistas que passou pela aquela cidade do Barlavento.
Já depois de voltar ao seu país, e com uma idade (34 anos) em que muitos já o consideravam como acabado, Getov mostra o porquê da sua fama. A vestir as cores do Levski de Sofia, acabaria por realizar uma das melhores temporadas da sua vida. Primeiro, com a quantidade de golos que concretizaria, ajuda o emblema da capital a conquistar o título de campeão. Esses ditos golos, 26, fariam com que, mais uma vez, se destacasse como o "rei dos goleadores"... e depois, em jeito de "cereja no topo do bolo", acabaria por ser eleito o Melhor Jogador do Campeonato de 1992/93.

540 - PORTIMONENSE

Foi na loja de Amadeu Figueiras d'Andrade, mestre sapateiro na cidade de Portimão, que um grupo de entusiastas do jogo da bola começou a juntar-se para discutir as incidências dos desafios passados e dos futuros. A localização do dito estabelecimento comercial, com vista privilegiada para o improvisado campo do Aterro do Cais, era, pelo ano de 1914, o sítio certo para os entusiastas do "foot-ball". Ora, tal hábito, com o patrocínio do dono da dita loja, e que víria a ser o sócio nº1 da colectividade, resultaria na fundação do Portimonense Sporting Clube.
Nesse dia 14 de Agosto de 1914, dar-se-iam os passos iniciais daquela que seria a história de um dos maiores clubes algarvios e, porque não dizê-lo, a nível nacional. Mas, se os primeiros anos de existência do clube viveriam muito à custa da carolice dos seus atletas, seria já uma década depois que tudo tomaria contornos mais sérios. Para tal, contribuiria a criação dos estatutos do clube, entregues no Governo Civil de Faro, em 1925. Nesse documento estipulavam-se, entre outras coisas, as cotas de cada associado, o emblema e, claro, as cores e formato do equipamento. Contudo, e apesar do caminho trilhado fazer crer que o Portimonense ia na direcção do sucesso, uma crise financeira quase deitava o sonho por água abaixo. Perder-se-ia a sede, inaugurada em 1923, mas, indo-se os anéis, rapidamente o emblema algarvio voltou a erguer-se.
Outro marco, veio com a construção do estádio, em 1937. Esse empreendimento, materializado no mesmo ano em que o clube se sagra pela primeira vez campeão algarvio, veio trazer aos atletas outras condições de trabalho. Anos mais tarde, já na década de 40, subir-se-ia mais um degrau na vida e progressão do Portimonense, com a chegada do treinador, campeão pelo Benfica e Real Madrid, Lipo Herczka. A contratação do técnico húngaro, com um vasto currículo como jogador e treinador, deu outra dimensão ao clube que, deste modo, e já com a ideia de se juntar aos grandes do futebol português, começa a disputar o campeonato da 2ª divisão.
No entanto, e apesar do perseguição de tal objectivo, o Portimonense apenas se estrearia no principal escalão nacional na temporada de 1976/77. Começa aqui a fase mais brilhante dos do Barlavento, com 13 épocas, excepção feita a 1978/79, de 1ª Divisão. Mas o ponto alto destes anos, seria a inesquecível participação nas competições europeias. Ora, para a temporada de 1984/85, sob o comando de Manuel José, estavam nomes como os de Skoda, Cadorin, Rui Águas ou Simões. Este grupo feito de craques, conseguiria uma campanha, a todos os níveis, memorável. O prémio viria com o 5º posto na tabela classificativa, e com a correspondente qualificação para a Taça UEFA da temporada seguinte.
Já sob alçada de Vítor Oliveira, que entretanto passara de jogador para as funções de treinador, ao Portimonense calha em sorte o Partizan de Belgrado. Com os jugoslavos, a eliminatória até começaria de feição. Vitória por 1-0 em casa, dava à turma algarvia a esperança de continuar em prova. Mas apesar deste alento, um Partizan recheado de internacionais e com alguns nomes bem conhecidos do nosso futebol - Djukic (Farense); Stevanovic (Farense, V.Setúbal, U.Madeira); Zivkovic (Benfica); Bajovic (V.Setúbal); Capljic (Esposende) -, haveria, na segunda mão, conseguir dar a volta ao resultado, com um contundente 4-0.
É já no início dos anos 90 que o Portimonense volta a cair na 2ª Divisão. A esta despromoção não é alheia uma nova crise financeira, que nem a fusão com o Grupo Desportivo Torralta, colectividade associada a um poderoso grupo económico, daria quaisquer frutos. A dita queda levaria o clube a militar, durante uma meia dúzia de anos, pela 2ª Divisão B. A recuperação, depois de a necessária consolidação, começaria já depois da viragem do milénio. Neste caminho, há que destacar nova presença na Liga principal (2010/2011), que, infelizmente, seria de pouca dura. Desde então, com mais ou menos sobressaltos, o Portimonense tem estado presente naquele que é o segundo patamar do nosso futebol. O futuro, num cenário que é o de um país em recessão, é, naturalmente, de contenção. Para já (2014/15), muito para além do que poderia ser um campeonato tranquilo, o Portimonense chega-se aos lugares cimeiros da classificação. Espera-se, para breve, que o mapa desportivo nacional volte a alargar-se a Sul e que possamos contar com os "alvi-negros", de novo, nos palcos principais do futebol.

539 - FLORIVAL

Se já aqui se falou de muitos jogadores, cujo o título de "globetrotters" assenta que nem uma luva, então, Florival é mais um nome a acrescentar a essa lista.
Formado no Vitória de Setúbal, a falta de espaço no emblema da sua cidade natal faria com que, bem cedo, abandonasse os sadinos, em direcção a outras paragens. Essa sua escolha, numa caminhada, como já o referi, feita de diversas mudanças de rumo, levá-lo-ia à União de Leiria. Nos da "cidade do Lis", que por essa altura militavam nos escalões secundários, começa a moldar-se um jogador cuja apetência defensiva era a sua melhor característica. Para isso muito contava a sua veia batalhadora, a maneira como se entregava em cada disputa ou, se quiserem, a bravura que mostrava dentro das quatro linhas. Contudo, e apesar desta ser a melhor maneira de o descrever enquanto futebolista, Florival não era um jogador desprovido de técnica. Essa sua habilidade, fez com que, no decorrer da sua longa carreira, fosse, por diversas vezes, utilizado em lugares mais avançadas do terreno de jogo.
Mas claro, a sua posição natural era a de defesa central ou, também com desempenhos de igual categoria, de médio defensivo. Seria a cumprir estas funções que ganharia notoriedade no seio do mundo desportivo. Ora, essa sua fama, depois de trilhar alguns anos pelas divisões inferiores acaba por fazer com que o Farense aposte na sua contratação. É então, no Algarve que faz, corria a temporada de 1972/73, a sua estreia na Primeira Divisão. Ainda sem grande experiência nos palcos maiores do futebol nacional, Florival acaba por não ter um papel muito preponderante no seio da sua equipa. Joga pouco e só um par de anos depois é que começa a fazer-se notar.
Esse seu, se assim o quisermos classificar, despontar, acabaria por acontecer com a sua transferência para o União de Tomar (1974/75). Nos nabantinos, onde já tinha estado em 1971/72, afirma-se como uma das peças fundamentais na manobra defensiva da equipa. Atravessa, por essa altura, uma das melhores fases da sua carreira e consagra-se como um futebolista de Primeira Divisão.
É derivado a essa razão que, passados dois anos na colectividade da "Cidade dos Templários", e com a despromoção dos mesmos, Florival consegue manter-se no escalão máximo luso. Quem, desta feita, o contrata, haveria de ser o Portimonense que, na época de 1976/77, fazia a sua estreia na Primeira Divisão.
Surpreendentemente, depois de um ano bastante seguro, Florival acabaria por deixar o clube. Não vou dizer que este novo virar de página tenha trazido, desportivamente falando, algo de muito positivo para a sua vida. No entanto, o que se seguiria, ou seja, o regresso ao União de Tomar, faria com que o atleta tivesse uma das experiências mais enriquecedoras da sua vida. Ora, para quem ainda se recorda, a temporada de 1977/78 marca a presença em Tomar, de dois dos maiores astros de futebol português e, porque não dizê-lo, do desporto internacional. Falamos, como é lógico de Eusébio e Simões, que deste modo, partilhariam o balneário com o defesa.
A derradeira presença de Florival na Primeira Divisão, aconteceria ao serviço do Rio Ave. Depois de deixar Vila do Conde no Verão de 1980, a sua carreira entra numa fase, marcadamente descendente. Começa a jogar em clubes de menor monta e terminaria a sua actividade a jogar já bem distante das luzes da ribalta.

538 - FERREIRA PINTO

À beira dos 18 anos, José Ferreira Pinto chega a Lisboa vindo de Angola, de onde é natural. Chega para integrar um plantel dos "Leões" que estava numa fase, podemos assim dizer, entre as gloriosas equipas dos "5 Violinos" e o Sporting que, alguns anos mais tarde, caminharia para a vitória na Taça dos Vencedores das Taças. Desse modo, e num plantel onde pontuavam nomes como os de Vasques, Travassos, David Júlio, Fernando Mendes, Pérides, Hilário, entre tantas outras estrelas, as oportunidades para o jovem atleta seriam muito reduzidas. E se nessa sua temporada de estreia em Alvalade, 1958/59, poucas seriam as partidas onde participaria, então podemos dizer que as restantes 3 épocas de "verde e branco", seriam afinadas, exactamente, pelo mesmo diapasão.
Sem lugar na equipa e, para acumular, com a frustração de no seu derradeiro ano (1961/62), e por motivo de não ter jogado qualquer partida para a respectiva prova, ter ficado de fora da lista dos vencedores do Campeonato Nacional, Ferreira Pinto vê-se no rol de excendentários.
Esta dispensa acabaria por o levar a atravessar o Rio Tejo em direcção à sua margem Sul. No Barreiro, ao serviço da CUF, relança a sua carreira. Joga com regularidade, faz boas exibições, marca golos mas, principalmente, entra nas bocas do mundo do futebol. Este seu caminhar para a ribalta, faz com outras oportunidades acabem por surgir na sua vida profissional. A primeira seria a convocatória para a selecção nacional, onde num particular frente à congénere do Brasil, faz a sua estreia com a principal "Camisola das Quinas". A segunda, acabaria por se revelar com o interesse de clubes de uma outra nomeada, principalmente o Benfica.
Ora, seria a caminho do Estádio da Luz que o médio ofensivo acabaria por se dirigir, na época seguinte. Mais uma vez, para 1965/66, Ferreira Pinto vê-se inserido no seio de um grupo recheado de estrelas. Contudo, ao contrário daquilo que tinha acontecido nos rivais das "Águias", o atleta acaba por assumir um papel bastante importante nessa temporada de 1965/66.
A regularidade com que aparece em campo, faz com que o seu nome volte a aparecer nas listas para os jogos de Portugal. Participa na campanha que qualificaria o nosso país para o Mundial de 1966 e, desse modo, dá corpo àquela que ficaria conhecida como a história dos "Magriços".
Tal como, surpreendentemente, apareceu no meio de nomes como os de Eusébio, Simões, Torres, José Augusto ou Coluna, seria com igual surpresa que, nos anos vindouros, os adeptos do futebol veriam Ferreira Pinto a eclipsar-se. Quase não joga e, tirando o título de campeão nacional que, na temporada de 1967/68, juntaria às suas conquistas, nada mais de relevante se veria do jogador.
Este desaire, dá oportunidade a Ferreira Pinto para fazer parte da consagração de um outro emblema. No União de Tomar faria parte do grupo que, em 1968/69, leva os nabantinos à estreia na Primeira Divisão. Se essa razão já é mais que suficiente para o pôr nos anais do clube, então, o facto de ser ele o escolhido para capitanear a equipa nessa campanha, põe o seu nome, sem sombra de dúvida, como um dos que merece maior destaque nesse pedaço de história dos da "Cidade dos Templários".

537 - UNIÃO DE TOMAR


Os primeiros relatos de disputas com bola na cidade de Tomar, reportam-se, pelo menos, ao ano de 1913. Pois assim, é com naturalidade que, desse grupo de entusiastas por esse desporto, que ainda hoje é conhecido como futebol, alguns quisessem praticar a dita modalidade de uma forma mais organizada. Seria na sequência dessa necessidade que, no seio do sector comercial da "Cidade dos Templários", um grupo de empregados decide-se pela criação de uma colectividade. Baptizada com o nome de Sport Grupo Caixeiros de Tomar, é a 4 de Maio de 1914 que o tal empreendimento começa a tomar corpo.
Só em 1922 é que a referida agremiação passa a ser conhecida pelo nome que a familiarizou. O União de Futebol Comércio e Indústria de Tomar começa, então, por se popularizar nos campeonatos locais, organizados, fase à inexistência de uma entidade competente (a Associação de Futebol de Santarém só seria fundada em 1924) pelos emblemas da cidade nabantina.
Já mais a sério, é na temporada de 1936/37 que o União de Tomar marca a sua estreia nos Campeonatos Nacionais, tomando parte da 2ª Liga. Melhor do que esta sua participação (igualada noutras ocasiões), só mesmo a presença naquele que é o maior patamar do nosso futebol. Como é lógico, essa parte da história do clube começa uns anos antes da dita chegada ao primeiro escalão. A época era a de 1964/65, e depois de derrotar a Ovarense na final, o União de Tomar consegue sagrar-se campeão da Terceira Divisão Nacional. De degrau em degrau, subindo-os, bastaram apenas 4 anos para que a abençoada escalada levasse o conjunto tomarense ao convívio dos maiores emblemas portugueses. Comandados pelo argentino Oscar Tellechea, o União de Tomar, depois do primeiro embate frente ao Atlético, haveria de fazer nessa temporada de 1968/69, uma campanha bem acima daquela que muitos estariam à espera. Um 10º lugar na tabela classificativa, a melhor posição que haveriam de conseguir, acabaria por ser obra de um grupo equilibrado, onde pontuavam algumas figuras que fariam história no futebol luso. Mas se nomes como os de Conhé, Francisco Caló, João Barnabé, José Ferreira Pinto não são desconhecidos dos adeptos do desporto, então, o que dizer de Manuel José, Raúl Águas, Fernando Cabrita, Simões ou... Eusébio???!!!
Pois é, todos estas estrelas passariam pelo União de Tomar, fazendo a vida do clube um pouco mais rica. Contudo, depois de nos anos 60 e 70 o União de Tomar ter vivido, com seis participação na 1ª Divisão, a sua época áurea, os anos vindouros nunca mais puseram os holofotes na direcção dos ribatejanos. Desde então o clube tem vindo a perder alguma preponderância no panorama desportivo nacional. Excepção feita aos anos de passagem entre a década de 80 e 90, onde militou na 2ª Divisão "B", o União de Tomar tem disputado os escalões mais baixos do nosso futebol. Este perder de fulgor acabaria por ser agravado por uma profunda crise financeira, que empurraria, definitivamente, a equipa para os Campeonatos Regionais.
Actualmente, a prioridade dos responsáveis directivos é, de algum modo, estabilizar as contas, permitindo, desse modo, a sobrevivência do clube. Militam na 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Santarém onde, compreensivelmente, os resultados desportivos tenderão, num futuro próximo, a ficar para segundo plano. Contudo, com a memória de um passado e de pergaminhos gloriosos, estamos cientes que o União de Tomar há-de recuperar a chama de outrora e voltará a pôr o Ribatejo no mapa desportivo português.

CENTENÁRIOS 2014

Se é verdade que as instituições serão sempre superiores ao Homem, não é mentira também dizer-se, que, as ditas, nada serão sem as gentes que as fazem correr. Ora, sob este mote, decidimos recordar as histórias de alguns dos nossos emblemas e, como não poderia deixar de ser, dos jogadores que a talharam. Por isso, em Dezembro será o mês dos "Centenários 2014"!!!

536 - JOSÉ COUCEIRO

Quando, dentro do contexto futebolístico, usamos a palavra "polivalência", imediatamente pensamos num jogador que tanto joga numa posição, como noutra. Contudo, para José Couceiro esse conceito de "homem dos sete ofícios" acabaria por ter um horizonte bem mais largo...
No futebol entrou como praticante. Às costas levava um apelido de respeito e, por que não dizê-lo, uma grande cruz! Talvez, por não querer comparações com aquele que no desporto mais avante levou o nome Peyroteo, José couceiro nunca utilizou como identidade futebolística o nome do seu tio-avô. Diferenças entre os dois, muitas haveria para apontar. No entanto, em comum estava a paixão pelo "verde e branco" das listadas camisolas do Sporting. Seria, então, por Alvalade, já depois de também ter feito caminho ao serviço do Belenenses, que José Couceiro termina a sua formação como jogador. Estávamos em 1981 e nos "Leões", para a posição de defesa central, pontuavam nomes como os de Eurico, Bastos ou Zezinho. Como é lógico, com tão forte concorrência, não teve ele outra escolha se não a de  evoluir no seio de outro plantel.
O passo seguinte levá-lo-ia ao Montijo, sendo que a equipa da margem Sul do Rio Tejo militava, por essa altura, na 2ª Divisão. Um ano passado sobre a sua estreia no universo dos seniores, Couceiro muda de camisola, passando a envergar as cores do Barreirense. Mas ao contrário do que, provavelmente, seria o seu objectivo, José Couceiro continuaria a desenvolver o seu futebol no escalão secundário. Aliás, seria sempre nesse patamar que haveria de traçar o seu trajecto enquanto jogador.
Seguiram-se Atlético, Torreense, Oriental e Estrela da Amadora, até que, com apenas 29 anos decide pôr um ponto final na sua passagem pelos relvados. Por esta altura, 1992, a sua ligação com o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol já durava há alguns anos. Tendo tido diferentes funções em direcções anteriores, é em 1993 que Couceiro decide candidatar-se à Presidência do organismo em questão. Vence o sufrágio e pelo cargo, com duas novas reeleições, mantem-se até Janeiro de 1998.
Mais uma vez, o rumo do antigo atleta volta a mudar de direcção. Desta feita, vai de encontro ao desafio lançado por José Roquette, e é nomeado para Director do futebol do Sporting. A ligação ao clube acaba por não durar muito tempo, mas, logo de seguida (Abril de 1999), tomado pelo "bichinho" da gestão, aceita a proposta de Luís Filipe Viera para, no Alverca, ocupar cargo idêntico.
É já no emblema ribatejano que a vida de José Couceiro tem novo volte-face. Em 2002/03 decide-se, então, pela carreira de treinador. Começa, como já o disse, pelo Alverca e, em pouco mais de 2 anos, depois de uma passagem brilhante pelo Vitória de Setúbal, vê a porta do Estádio do Dragão a abrir-se para si. Mas se a sua ascensão acaba por ser espantosa e, de alguma forma, igualmente promissora, já a sua chegada ao FC Porto coincide com a ressaca da vitória na Liga dos Campeões.
Se bem se lembram essa foi uma altura conturbada no clube, em que, na dita época (2004/05), por lá passaram três treinadores. Ora, a instabilidade vivida nos "Azuis e Brancos " acabaria por prejudicar o trabalho de José Couceiro. 

Daí em diante começa um longo périplo que o levaria a diversos países, clubes e selecções. Após orientar a selecção Lituana, os turcos do Gaziantepspor, o Sporting, o Lokomotiv de Moscovo, entre mais alguns, chega esta temporada (2014/15), ao Estoril-Praia. Pela frente terá o fardo de suceder a Marco Silva que, indubitavelmente, foi o melhor treinador da história da equipa da Linha de Cascais. Por outro lado, chega numa altura em que o clube tem uma estrutura sólida, permitindo um trabalho sustentado e com óptimas condições para trilhar um caminho de sucesso.

535 - NASCIMENTO

Tendo começado a prática do futebol em França, país para onde os pais tinham emigrado, o seu regresso a Portugal dar-se-ia pelas portas do Benfica. Contudo, tal como acontece com tantos outros jovens saídos das escolas "encarnadas", Nascimento, na transição para sénior, acabaria por não conseguir garantir um lugar no plantel principal.
Na União de Leiria, o médio faria o seu baptismo na Primeira Divisão (1979/80). Acontece que a prestação da equipa nesse ano, haveria de ficar aquém daquilo que, por certo, seria o esperado pelos seus responsáveis, acabando por cair na despromoção. A descida, negativa como sempre, acabaria, no entanto, por dar um empurrão na carreira de Nascimento. Pouco utilizado nessa sua temporada de estreia, o médio, com a busca de novas soluções desportivas para a equipa, acaba ter um papel importante na recuperação da mesma.
Seria já como o motor do meio-campo leiriense que Nascimento regressa aos maiores palcos do nosso futebol. Possante, combativo e com uma resistência inesgotável, o atleta afirma-se como um dos jogadores mais interessantes do nosso Campeonato. Apesar de mostrar algumas debilidades a nível técnico, a sua postura dentro das quatro linhas permitia disfarçar outro tipo de fraquezas. Ora, essas suas qualidades acabariam por ser determinantes, visto que a União de Leiria voltaria a fazer uma campanha desastrosa (1981/82), para que Nascimento conseguisse manter o seu lugar nos maiores palcos do desporto nacional.
Quem viria a apostar no jovem centrocampista, acabaria por ser o Vitória de Setúbal. No seio de uma equipa que juntava jogadores consagrados (Octávio Machado; Jorge Martins; Jorge Jesus; Baltemar Brito) com um grupo de jovens muito promissores (Edmundo; Sobrinho; Hernâni; Jorge Plácido; Nunes), Nascimento haveria de se mostrar, como para o resto da sua vida desportiva, como uma das peças mais importantes dos "Sadinos".
E se foi na "Cidade do Sado" que Nascimento recebeu o reconhecimento dos seus pares, seria sobre a égide de outro Vitória que atingiria a consagração como futebolista. De malas aviadas para Guimarães, o trajecto do jogador haveria de alcançar os melhores momentos. Seria, então, pelos minhotos que se estrearia nas competições da UEFA; seria, também, durante o tempo que envergou o emblema de D.Afonso Henriques que haveria de ser chamado à selecção "A" portuguesa.
Mas apesar da admiração que conseguiria alcançar entre colegas de equipa e massa adepta, a sua saída acabaria por ficar ensombrada pela polémica. Ora, ao fim de quatro anos como um dos melhores do clube e, ainda por cima, tendo nessa época de 1988/89 envergado a braçadeira de capitão, era lógico que a renovação era uma prioridade para a direcção. O pior é que o atleta, até à data do fim do seu contrato, recusar-se-ia a assinar um novo contrato. Pimenta Machado, o Presidente, considerando tal acto como uma traição ao clube, e acabaria por pô-lo na lista das "personae non gratae" e proibir o seu regresso ao Vitória.
A explicação para este episódio revelar-se-ia pouco tempo depois, quando Nascimento assina pelo FC Porto (1989/90). Mas numa equipa que ainda vivia do brilho da Taça dos Campeões Europeus de 1987, ganhar um lugar no "onze" inicial, não era tarefa fácil. Para Nascimento estas dificuldades reflectir-se-iam na pouca quantidade de jogos em que seria utilizado. Já no final da temporada, o desfecho foi o esperado, com o jogador a ser incluído na lista de dispensas.
Já com 30 anos feitos, e depois da saída das Antas como campeão nacional, Nascimento preparava-se para a última fase da sua vida nos relvados. Ainda na 1ª Divisão, faz ao serviço do Tirsense uma época de bom nível. De seguida vem o escalão secundário, primeiro ainda ao serviço dos "Jesuítas" e, por fim, como uma derradeira "perninha" pelos do Amora.
Foi um curto interregno que separou a sua vida de futebolista com um novo papel no futebol. Daí em diante faria carreira como adjunto. No entanto, ao fim de cerca de duas décadas ao lado de Manuel Cajuda, Nascimento decidiu ser a hora de seguir o seu próprio caminho. Começou nos escalões secundários e, esta temporada (2014/15) abraçou o projecto do Atlético. Na Liga 2, tenta recuperar o emblema lisboeta de uma fase complicada. A nível desportivo, os de Alcântara têm a cabeça à tona da água. Contudo, numa competição tão aguerrida, antevêem-se dificuldades para o antigo internacional.

534 - VÍTOR OLIVEIRA


Nascido em Matosinhos, seria no clube da terra que, depois de terminada a sua formação, Vítor Oliveira fez a estreia nos seniores. A presença do Leixões pela Primeira Divisão, fez com os três primeiros anos da carreira do médio fossem passados entre os grandes palcos do futebol nacional. Durante esse tempo, apesar de contar com um número satisfatório de presenças, o seu lugar no "onze" dos do Estádio do Mar não era algo garantido. Talvez à procura de outra sorte, para a temporada de 1974/75 decide arriscar numa mudança de emblema. A dita transferência acaba por o levar ao segundo escalão do nosso futebol, e a envergar a camisola do Paredes. "Sol de pouca dura", visto que, passado um ano, já Vítor Oliveira defendia as cores do Famalicão.
No novo clube, este com objectivos desportivos ligeiramente diferentes, Vítor Oliveira acabaria por assumir um papel preponderante. A sua importância no seio do plantel seria tal que, nessa mesma temporada de regresso (1978/79), tanto para o atleta como para o clube, àquele que é o patamar máximo do nosso futebol, o centrocampista seria escolhido para, dentro das quatro linhas, capitanear os seus colegas.
Aliás, essa sua veia de líder foi algo que sempre o caracterizou. Ser uma voz de comando durante um jogo, muito mais do que uma necessidade inerente à posição que ocupava, era, acima de tudo, algo de visceral em si. Foi assim na sua passagem pelo Sp.Espinho, foi assim aquando da sua presença em Braga (clube pelo qual disputaria a final da Taça de Portugal de 1981/82) e acabaria por assim ser já no Portimonense.
Seria também no Algarve que Vítor Oliveira viveria, a par da já referida contenta no Estádio do Jamor, um dos momentos mais importantes da sua carreira. Ora, a temporada de 1984/85, acabaria por marcar a primeira qualificação do Portimonense para as competições europeias. Curioso é que, tendo sido Vítor Oliveira um dos atletas utilizados por Manuel José durante essa campanha, é ele próprio que, na época seguinte, toma as rédeas da equipa do Barlavento algarvio e a leva a disputar os jogos da Taça UEFA, frente ao Partizan de Belgrado.
Como já entenderam, é por esta altura que Vítor Oliveira faz a transição entre os relvados e o banco de suplentes. A carreira que aí encetou, levá-lo-ia aos mais diversos clubes nacionais. E se isto nem é para grande destaque, já outro facto acabaria por o caracterizar nestas suas andanças! Ainda não adivinharam? Pois bem!!! Então, e se vos disser que Vítor Oliveira já subiu seis equipas à Primeira Divisão!!! Pois é, durante estes longos anos que já leva como técnico, o antigo jogador parece ter-se especializado na promoção de clubes. A última na lista, que inclui nomes como os do Paços de Ferreira, Académica, Leixões, União de Leiria e Belenenses, foi, na época de 2012/13, com a equipa do Arouca.
Independentemente deste episódios, a verdade é que o trabalho de Vítor Oliveira é caracterizado, pela maioria dos que com ele privaram, como sendo de um profissionalismo inexcedível e, em todos os aspectos, procurando sempre respeitar todos os que o rodeiam. Assim sendo, apraz-me levantar nova questão! Então, porque nunca se terá conseguido afirmar como um treinador de Primeira Divisão???!!!
Dúvidas à parte, Vítor Oliveira assumiu este ano (2014/15) o comando do União da Madeira. Mais uma vez, decorridas que estão 15 rondas do Campeonato da 2ª Liga, a sua equipa posiciona-se nos lugares cimeiros da tabela. A classificação, um 5º posto, e tendo em conta que estão duas equipas "bb" à sua frente, seria mais do que suficiente para promover os madeirenses. Será que se mantêm assim até ao fim??? Será que esta será a sétima para Vítor Oliveira???

533 - BARÃO

Com os amigos do Prior Velho, zona na periferia da cidade de Lisboa, Francisco Barão começa a jogar à bola. Sobre a égide de "Os Guadianas" e treinado pelo seu pai, é numa dessas partidas que acaba por ser descoberto pelos "olheiros" do Sporting. Entra para as camadas jovens do clube de Alvalade e ainda com a idade de júnior, faz a sua estreia pela equipa principal.
É esse jogo da Taça de Portugal (1975/76), frente ao Sesimbra, que acaba por marcar o início de um percurso inesquecível de "Leão" ao peito. Contudo, e apesar de todos os adeptos o recordarem como um bom jogador, a sua vida no Sporting vestir-se-ia de alguma irregularidade. Alternando algumas temporadas de muita utilização, com outras em que parecia vetado ao esquecimento, ainda assim, Barão era um elemento importante dentro do plantel. Uma das características que lhe assegurava esse estatuto, para além da forma incansável como disputava cada lance, era a sua polivalência. Tanto no meio campo, onde começou a ser mais utilizado, como nas laterias da defesa, posições onde se consagraria, Barão era, como já o mencionei, um símbolo de combatividade. Essa sua grande arma acabaria por ser uma mais-valia para o Sporting, entre os finais dos anos 70 e o começo dos anos 80. 2 Campeonatos Nacionais (1979/80; 1981/82), 2 Taças de Portugal (1977/78; 1981/82) e 1 Supertaça (1982/83) seriam o saldo, no que a títulos diz respeito, da ligação de Barão com emblema leonino.
Apesar da sua, aqui referida, inconstante utilização, o começo da época de 1983/84, não deixaria de trazer uma pequena surpresa, quando o defesa decide trocar de clube - "Com a entrada do Manuel José como treinador, no Portimonense foi elaborada uma lista de jogadores como possíveis reforços, dessa lista constava o meu nome. Após várias reuniões chegámos a acordo"*. No Algarve encontrar-se-ia com atletas como Cadorin, Vítor Damas, Skoda, Simões, Coelho, Rui Águas, entre outros. Ora, num grupo tão forte, onde pontuavam tantos internacionais, o triunfo da equipa era algo inevitável. Esse mesmo sucesso acabaria por ser conquistado na temporada de 1984/85, quando o Portimonense, depois de atingir o 5º lugar na tabela classificativa, consegue a qualificação para as provas organizadas pela UEFA. Ironicamente, e se para a equipa tudo corria de feição, para o jogador, principalmente no plano físico, algo havia de assombrar este êxito. Uma grave lesão nos ligamentos e, depois de esta estar sanada, uma outra a nível do menisco, haveriam de o manter afastado dos relvados, nessa mesma temporada de 1984/85, por mais de um ano.
Recuperaria ainda a tempo de, na época seguinte, disputar as duas partidas da eliminatória frente ao Partizan de Belgrado. No entanto, as marcas deixadas por este episódio, fariam com que o atleta, no Verão de 1988, e com apenas 31 anos, acabasse por "pendurar as chuteiras".
Seguiu-se, ainda no Portimonense, a passagem para a vida de treinador. Hoje em dia, já com uma longa carreira na função, feita, essencialmente, de passagens por equipas dos escalões secundários, tem no trabalho o seu maior valor. Apesar de apresentar um trajecto discreto, o reconhecimento como técnico acabaria por no ano passado (2013/14), garantir o regresso ao seu clube de sempre - "Voltar ao Sporting era algo que há muito estava no meu pensamento, pois o meu coração é verde"**. Foi também pela porta dos "bb" leoninos que Barão, já esta temporada, acabaria por se assumir como o timoneiro principal da dita equipa. Contudo, e apesar da inegável paixão com que se entregou à tarefa, o atribulado começo do Campeonato, valeu-lhe nova "despromoção", ocupando, mais uma vez, as funções de adjunto.


* retirado da entrevista ao "Blog do Portimonense" (http://blogdoportimonense.blogspot.com/)
** retirado do "Jornal do Sporting"; a 31/10/2013

532 - RUI VITÓRIA

Rui Vitória foi um médio de carreira modesta. Tão modesta foi que, pouco me admiraria que, mesmo aqueles que acompanham com regularidade o desporto, não tivessem sobre este facto qualquer conhecimento. Rui Vitória nunca jogou em grandes clubes; nunca foi destaque, enquanto elemento de campo, em nenhum pasquim desportivo nacional ou internacional; nunca chegou a passar da 2ª divisão "b".
Fanhões, Vilafranquense, Seixal, Casa Pia e Alcochotense, são os emblemas que representou e que ajudam a sublinhar o quão discreta acabaria por ser a sua vida dentro das quatro linhas. É verdade que posta desta maneira redutora, nada nesta sua caminhada parece interessar para aquilo que é hoje o seu estatuto, e real valia, no seio do futebol português. Claro que só mostrei o seu caminho desta maneira, tentando dar-lhe alguns traços caricaturais, para que agora, de alguma forma, pudesse pegar naquela velha questão de "quanto importa uma carreira como futebolista, para se fazer um bom treinador?". Ora, se a ideia de "grande carreira" é feita, obrigatoriamente, com passagens pelos grandes clubes ou, na melhor das hipóteses, com experiência comprovada nos maiores escalões do futebol, então, digo-vos já que... nada interessa nesse trilho!
Os exemplos disso mesmo são inúmeros, o que, desde já, me assegura algum descanso, perante uma possível contestação a estes meus parágrafos iniciais. No entanto, e sem deixar de assumir o que acabei de escrever, é inegável que todo o trajecto percorrido acaba, de uma maneira ou de outra, por nos influenciar os passos futuros ou, se quiserem, por nos vincar o carácter. É aí que entra aquilo que, para mim, é o mais importante no definir de uma carreira como técnico, ou seja, a postura do mesmo.
Entendermos como se chega a certos pontos ou sabermos como é que, afinal, nos moldámos, pode ser muito difícil. Contudo, é mais fácil constatar que certas pessoas têm determinadas características. No que diz respeito a Rui Vitória, uma que salta à vista de todos é a sua habilidade para comandar Homens. Essa mesma, já vêm em si (lá está!!!) desde os seus tempos de jogador. No emblema de Vila Franca de Xira, onde fez grande parte do seu trajecto enquanto futebolista, a sua capacidade de liderança levá-lo-ia a assumir o posto de "capitão de equipa". Ora, sem sombra de dúvida, este seu capítulo era já o sinal de que Rui Vitória era talhado para outras andanças. Nessas ditas, onde, também no Vilafranquense, deu os seus primeiros passos, acabaria por ser no Benfica, ainda que como treinador das camadas jovens, que o seu nome começaria a ser mais ouvido. Depois veio a emancipação e os anos no Fátima. As promoções do clube à 2ª Liga, levariam o Paços Ferreira a arriscar a sua contratação. Um ano na Primeira Divisão bastou para que a Rui Vitória fosse lançado novo desafio: o de comandar o Vitória de Guimarães. O pior é que o clube, um dos históricos do nosso futebol, assemelhava-se, por razão da grave crise financeira em que estava metido, a um presente envenenado. Se muitos se deixariam atemorizar por tal facto, para Rui Vitória nada disso foi entrave para assumir tamanho risco. Desde então, "sucesso" tem sido a única palavra capaz de descrever aquilo que o treinador tem feito à frente do emblema vimaranense. Se dúvidas houvesse, a conquista da Taça de Portugal de 2012/13, ou as boas classificações na Liga, serviriam de prova.
Por outro lado, maior ainda é o feito, se tivermos em conta que o orçamento do Vitória pouco tem a ver com o daqueles que consegue ombrear. Ora, é por esta razão que o destaque que Rui Vitória tem merecido vai já para além fronteiras; e é por isto tudo que o italiano “Gazzetta dello Sport”, merecidamente, o apelidou de "mágico"!!!

531 - HÉLDER

Se foi no Estoril-Praia que se estreou nos seniores, seria também pelos da Linha de Cascais que Hélder atingiria o patamar internacional. Corria a temporada de 1991/92, a sua primeira no escalão máximo do nosso futebol e a sua terceira como profissional, quando, para um particular frente à Holanda, Carlos Queiroz o leva à estreia na selecção nacional.
Ora, a sua primeira internacionalização acabaria por servir de mote para que, logo na época seguinte, os "Grandes" de Lisboa encetassem uma luta pelo seu concurso. O Benfica acabaria por levar avante esta corrida, e juntaria ao seu grupo de trabalho um dos defesas centrais mais promissores da altura. Forte fisicamente, com um sentido posicional superior, Hélder tinha ainda a vantagem de, ao contrário de muitos dos seus colegas de posição, conseguir tratar a bola com um cuidado excepcional. Estas suas características fizeram com que, rapidamente, conseguisse ganhar um lugar no "onze" das "Águias". Importante na conquista da Taça de Portugal de 1992/93 e no Campeonato Nacional do ano seguinte, o estatuto de Hélder ia ganhando maior destaque com o avançar dos anos. Considerado, com toda a justiça, como um dos melhores centrais portugueses nos anos 90, a importância que tinha no seio da defesa "encarnada" e da "Equipa das Quinas" era fulcral. Por Portugal, ao lado de Fernando Couto, faria parte do grupo que, comandado por António Oliveira, devolveria o nosso país aos principais cenários competitivos. Em Inglaterra, no Euro de 1996, jogaria todas as partidas do torneio. Tais exibições, de portentosas que seriam, acabariam por o pôr nas bocas do mundo.
Com tudo isto, adivinhava-se que a sua passagem pelo Benfica teria, para bem próximo, um fim certo. Com os da "Luz", por razão de severas dificuldades financeiras, a atravessarem uma grave crise, a saída de Hélder para o Deportivo acabaria por ser, muito mais do que um merecido prémio para o atleta, um importante encaixe para o clube. Chegaria a meio da temporada de 1996/97, e em Espanha, sem ser um dos mais preponderantes na manobra da equipa, conseguiria ser um membro muito importante. Contudo, nesta caminhada, uma grave lesão acabaria por arruinar a sua progressão.
Aleijado num joelho, Hélder, por consequência da tal mazela, ficaria afastado dos relvados por um longo período de tempo. Já depois da recuperação, o seu espaço na equipa galega ficaria bastante reduzido. No entanto, a certeza que as suas qualidades ainda estariam intactas, levariam com que outro conhecido do futebol português, ele que na Galiza já havia sido treinado por Carlos Alberto Silva e John Toshack, o escolhesse para reforço do seu grupo. No Newcastle, às ordens de Bobby Robson, faria, por empréstimo, uma temporada. Acabaria por falhar a vitória na "La Liga", arrecadada nesse ano pelos de La Coruña. No entanto, finda essa cedência, acabaria por garantir um lugar no plantel, dos anos vindouros.
Depois de mais duas temporadas no "Depor", deu-se o regresso ao Benfica. Os da "Luz", ainda não refeitos da pior fase da sua longa história, já caminhavam para um lugar mais solarengo. Com Camacho ao leme da equipa, e com Hélder a envergar a braçadeira de Capitão, o Benfica regressaria aos tão almejados títulos. Incrivelmente, essa vitória na Taça de Portugal de 2003/04, precederia nova saída de Hélder.
Sem a renovação do contrato, o defesa acabaria por prosseguir a sua carreira por outras paragens. Depois de defender as cores do PSG e de um "último suspiro" ao serviço do gregos do Larissa, Hélder, em 2006, poria um ponto final na sua vida de futebolista.
Hoje é o timoneiro da equipa "b" das "Águias". Os resultados, num clube que andou, durante demasiado tempo, afastado da sua "formação", são francamente animadores. A equipa secundária do Benfica é uma das mais fortes na Liga 2 (2014/15). Encontra-se nos lugares cimeiros e, com um terço do Campeonato realizado, enche de esperança todos os adeptos "encarnados".

530 - LITO

Falar do nome de Lito é, mais uma vez, ir buscar o nome de uma das famílias que mais representatividade teve (e tem) na história do futebol nacional. Vidigal de apelido, Lito, tal como alguns dos seus irmãos, nasceria ainda em Angola. No entanto, e depois de ainda miúdo ter viajado para Portugal, seria já na sua cidade adoptiva que daria os primeiros pontapés na bola. Ora, por tal razão, foi no "O Elvas" que o antigo médio deu início a um périplo que o faria andar, durante mais de 15 anos, pelos campos da bola. Raçudo, incapaz de virar as costas a uma disputa, logo desde o começo da sua carreira deu a entender que a vontade que entregava a cada desafio, era a sua maior força. Talvez sem os recursos técnicos de alguns dos seus companheiros, o poderio físico que apresentava em campo fazia com que zombasse de muitos que, à partida, se viam melhores do que ele. Sempre nesse estilo de "gladiador", Lito acabaria por trilhar o seu caminho, o mesmo que, alguns anos após ter terminado a formação no "O Elvas", fez com que os "vizinhos" do Campomaiorense olhassem para ele como um belo reforço.
Depois de nesses primeiros anos, ter vogado por algumas equipas alentejanas de ambições mais modestas, Lito via-se agora, com a mudança para os "Galgos", num projecto (não esquecer que foi nos início dos anos 90 que o Campomaiorense começou a sua jornada em direcção à 1ª Divisão) bem mais ambicioso.
Com esta sua mudança, Lito acabaria por merecer, por parte de outros intervenientes no futebol, uma maior atenção. Com a chegada do seu clube aos escalões profissionais, essa projecção tornar-se-ia mais evidente. É então, começava a preparar-se a temporada de 1995/96, que surge o convite de um dos históricos do futebol luso, o Belenenses. Já no Restelo, a sua vida profissional atingira o apogeu. Foram 7 anos com a camisola da "Cruz de Cristo", em que respeito que os adversários ganhariam pelo seu nome, seria equivalente à força do seu futebol.
Com tais exibições, os responsáveis pela  equipa nacional angolana acabariam por endereçar-lhe o convite para que vestisse a camisola do seu país de nascença. Com os "Palancas Negras", o médio defensivo acabaria por chegar aos palcos internacionais quando, em 1998, vê o Prof. Neca a incluir o seu nome na lista dos convocados parar disputar a Taça de África das Nações.
A esta competição internacional, ainda que noutras funções, voltaria 14 anos depois. Depois de ter posto um ponto final na sua vida de futebolista com uma derradeira época ao serviço do Santa Clara (2002/03), a vida de Lito acabaria por encaminhar-se para os "bancos". Como treinador, ainda antes de ter conduzido Angola à CAN 2012, a sua carreira haveria de passar pelo comando de diversas equipas portugueses.
Com fugazes passagens pela 1ª Liga, Estrela da Amadora (onde treinou o seu irmão Vidigal) e pela União de Leiria, o seu currículo como técnico ainda não é dos mais ricos. Contudo, o ano passado (2013/14), o convite de Belenenses devolveu Lito às manchetes dos desportivos nacionais. Após uma bela campanha, em que salvou os seus pupilos de uma descida quase certa, Lito, para a temporada que agora começa, apresenta-se com outro traquejo. Como uma das incontornáveis figuras do Belenenses, nele está reunida toda uma mística, que interessa passar a uma nova geração de jogadores. Interventivo, à imagem daquilo que foi como desportista, Lito tem conseguido dar a força necessária aos seus atletas, decorrido quase um terço do Campeonato, para que a sua equipa se encontre numa das primeiras posições da tabela classificativa.

529 - MARCO SILVA

Apesar de uma carreira bastante longa, Marco Silva nunca chegaria à ribalta do futebol nacional. Com passagens por alguns emblemas com tradição em Portugal, essas mesmas acabariam quase sempre por coincidir com uma fase menos boa desses clubes e, desse modo, longe dos palcos primodivisionários. As únicas excepções nesse seu trajecto, acabariam por ser ao serviço do Belenenses (1996/97) e, anos mais tarde, em representação do Campomaiorense (1999/00).
Se durante esses anos, o seu currículo raramente o mostrou fora de uma segunda linha, seria nesses mesmos escalões que a história de Marco Silva começaria a mudar. Depois de envergar, para além das já referidas, as cores de clubes como o Atlético, Trofense, Rio Ave, Sp. Braga (nunca saiu da equipa "b"), Salgueiros e Odivelas, chega a vez do amarelo do Estoril-Praia. É nos "Canarinhos", clube que representou por mais anos seguidos, que outra característica começa a destacar-se no antigo lateral-direito. Muito para além daquilo que era dentro de campo, Marco Silva mostrava-se, igualmente, como um grande parceiro dentro do balneário. Essa sua camaradagem, a maneira como apaziguava os anseios dos seus colegas, ou, se quiserem, a sua capacidade de liderança, levá-lo-ia a envergar a braçadeira de capitão. Muitas responsabilidades se ergueram nesse novo desafio. Há que ter em conta que o Estoril-Praia, por essa altura, atravessava uma grave crise financeira. Salários em atraso e o descontentamento daqueles com quem partilhava o dia-a-dia, acabariam por ser algumas das dificuldades que haveria de enfrentar.
Mas tão bom foi o seu desempenho como "líder do balneário" que, finda a sua carreira nos relvados, Marco Silva seria convidado pelos da "Linha de Cascais", para assumir um cargo como Director-Desportivo. Pouco tempo duraria nessa posição, pois o despedimento do treinador Vinícius Eutrópio, levá-lo-ia a enfrentar novo desafio. Já como o máximo responsável técnico pela equipa, Marco Silva começa a sair do (relativo) anonimato. Conduz os seus pupilos, nessa temporada de 2011/12, a uma campanha magnífica na 2ª Liga, onde, para além da promoção, conseguiria levar o Estoril-Praia a terminar no primeiro posto da tabela classificativa.
Ano seguinte, novo desafio!!! Ora, para a temporada de 2012/13, aquilo que a lógica ditava, ou seja, a luta por um dos lugares da manutenção, acabaria por se tornar num momento singular para o clube e para si. Ao atingir o 5º lugar, Marco Silva conseguiria garantir o seu lugar na história, como o primeiro treinador a levar os "Canarinhos" a uma prova organizada pela UEFA.
Mais uma época e, mais uma vez, o Estoril-Praia repete o feito, qualificando-se para as provas europeias. Por essa altura, o seu nome já não era o de alguém que, a escassos intervalos, era ouvido. Se havia vaticínios, mormente na comunicação social, era agora para alvitrar qual dos "Grandes" garantiria o seu concurso.
Quem ganharia essa tal “corrida” acabaria por ser o Sporting. Hoje em dia nos "Leões", os desafios que se lhe apresentam são enormes. Primeiro, o de dar continuidade ao excelente trabalho feito por Leonardo Jardim. Segundo, não claudicar perante a ansiedade dos adeptos que, tendo visto o seu clube a atravessar uma fase terrível, querem agora sentir, erguidos que estão de novo, o "sabor" dos títulos.

528 - LOPETEGUI


Promissoras exibições no seu percurso de formação, fariam com que o Real Madrid visse nele uma boa aposta para a construção dos seus próximos planteis. Do País Basco para a capital espanhola, a viagem de Lopetegui levá-lo-ia, já que apenas tinha 19 anos, para a equipa "b" dos "Merengues". Mas se o futuro parecia sorrir-lhe, a verdade é que as oportunidades que se lhe perspectivavam ao início, esfumar-se-iam, acabando, pouco ou nada, por aparecer.
Com escassas chamadas à equipa principal "madridista", e já depois de um empréstimo ao Las Palmas, na carreira do jovem guardião urgia a necessidade de jogar ao mais alto nível, e com uma regularidade diferente da, até então, conseguida. A oportunidade de se relançar surgir-lhe-ia vinda do modesto Logroñés. É correcto dizer-se que esta mudança, apesar do clube estar na 1ª divisão, poderia ter sido vista como um passo atrás na sua evolução. Contudo, a qualidade exibicional que acabaria por mostrar, devolvê-lo-ia à ribalta do futebol espanhol. Ora, esta sua ascensão, acabaria por ter reflexo nas chamadas para a selecção. Seria, então, já na campanha de qualificação para o Mundial de 1994, que Lopetegui faria a sua estreia com a camisola do seu país. Faria, também, na sequência dessa sua chamada, parte do lote de atletas que, nesse ano e com o intuito de disputar o já referido torneio, viajaria para os Estados Unidos.
Com o regresso a Espanha, surgir-lhe-ia nova oportunidade de vingar num dos colossos do futebol mundial. Se da primeira vez a chance tinha aparecido de Madrid, já esta segunda, falando de rivalidades desportivas, viria do sentido oposto. Mas, mais uma vez, a história repetir-se-ia. No Barcelona, desta feita na sombra de Busquets, e, mais tarde, na de Vítor Baía, Lopetegui pouco seria utilizado. Apesar de tudo, o guarda-redes, tal como recorda o antigo "nº 1" de Portugal, mostrava-se uma peça fundamental na dinâmica da equipa - "Além de bom colega, transmitia uma boa energia. Apesar de ser o terceiro guarda-redes, que é uma posição sombra, notava-se que tinha espírito de liderança e peso junto da equipa"*.
Terá sido esta sua característica, isto já depois de, em 2002, ter terminado a sua carreira no Rayo Vallecano, que levaria Lopetegui a decidir-se pela vida de treinador. Curiosamente, a sua primeira experiência com técnico seria um autêntico desastre. Depois deste episódio de apenas 10 jogos, ao comando da equipa onde tinha "pendurado as luvas", seguiu-se, 5 anos depois, a passagem pelo Real Madrid Castilla. O sexto lugar aí conseguido, seria suficiente, com um ano de interregno pelo meio, para que a Real Federación Española de Fútbol visse nele um valor seguro para comandar os destinos dos escalões jovens das suas equipas. Apesar do risco que o seu parco currículo apresentava, a verdade é que Lopetegui mostrou-se como uma aposta segura. Os resultados, esses, vieram com as vitórias, primeiro em 2011, do Campeonato Europeu de Sub-19, e depois com a conquista Campeonato da Europa de Sub-21, em 2013.
É com este percurso que Lopetegui chegou, durante este defeso, ao Estádio do Dragão. É certo, muito devido à sua falta de traquejo com equipas seniores, que o antigo internacional espanhol, tem sido visto com alguma desconfiança. No entanto, há também que assumir que o FC Porto atravessa uma fase de renovação. Esta implica a entrada de muitos jogadores, que, com o habitual "poderio" financeiro dos emblemas portugueses, é feito há custa de atletas jovens. Ora, nesse campo, Lopetegui poderá ser visto como o Homem ideal para a função. E se era uma revolução que pretendiam os responsáveis "Azuis e Brancos", então, essa, o técnico espanhol já pôs em marcha. Os resultados??? O tempo logo o dirá...


* Retirado do artigo do "Expresso" (06/05/14), por Isabel Cabral.

TREINADORES 2014

Nova temporada: esperança renovada, muitas caras desconhecidas... e novos "timoneiros". Esta é uma das receitas que, todos os anos, apimenta o começo de mais uma época futebolística.
É certo que os reforços de campo são importantes. No entanto, quando olhamos para os "bancos", há um tipo de previsão que, recorrentemente, se arrisca. Ao "Quanto tempo se aguentarão?", não vamos dar resposta! Contudo, este Novembro será deles! Por isso, estejam preparados para mais um mês de "Treinadores"!!!

527 - CARLOS XAVIER


Com 18 anos apenas e um golo na partida de estreia com a principal camisola verde e branca, o destino de Carlos Xavier parecia estar entregue ao sucesso. Contudo, e o seu primeiro jogo foi memorável, já a temporada em que tal decorreu (1980/81), compreensivelmente, haveria de ser para si, muito mais discreta. Já o ano seguinte revelar-se-ia de forma bem diferente, com o atleta, muito à custa da seu rigor táctico e da sua, tão apreciada pelos treinadores, polivalência, a ganhar um lugar definitivo no "onze" leonino.
Vencido o Campeonato Nacional, Taça de Portugal e com a estreia na principal Selecção portuguesa, a sua história começava a ganhar contornos de uma verdadeira “estrela”. Por aquela altura mais utilizado a defesa, Carlos Xavier conseguia convencer tanto os seus treinadores, como os adeptos, de que a sua carreira haveria de ficar ligada aos anais do Sporting. Época após época, firmava-se como um dos elementos mais importantes dentro do plantel. Ninguém o via de outra forma, até que, com o início da temporada de 1986/87, o impensável aconteceria. Incompatibilizado com Manuel José, à altura treinador dos "Leões", Carlos Xavier ver-se-ia numa posição menos privilegiada. A solução para o veiculado desentendimento, acabaria por ser o empréstimo à Académica, onde partilharia o balneário com o seu irmão Pedro Xavier.
Uma temporada volvida e Carlos Xavier estava de volta a Alvalade. Continuava preponderante no seio da equipa. Contudo, para quem no início da sua carreira tanto tinha prometido, faltava-lhe ainda um pouco mais para ser esse profetizado craque. Muito se disse sobre isso: alguns haveriam de referir um certo deslumbramento, aquando da sua promoção a sénior; outros apontariam o dedo à instabilidade vivida dentro do clube. A verdade é que, para além da indesmentível qualidade que mostrava dentro de campo, a Carlos Xavier, nesse caminho para um incontestável reconhecimento, faltou sempre alguma regularidade exibicional.
 Apesar destas críticas, a sua capacidade técnica continuava apaixonar muitos dos que estavam ligados ao futebol. Um dos que nunca o esqueceria, seria John Toshack. Por essa mesma razão, ele que já o tinha orientado no Sporting em 1984/85, decide que a sua contratação haveria de ser uma aposta segura. Ora, preparava-se a temporada de 1991/92 quando, para a Real Sociedad, comandada pelo referido técnico galês, parte, lado-a-lado com Oceano, Carlos Xavier. Em Espanha haveria de viver os seus melhores anos como futebolista. Mais utilizado no meio-campo, a sua capacidade técnica veio ao de cima. Uma visão de jogo fenomenal e sua habilidade para o passe, fariam dele o verdadeiro maestro da equipa basca -"Em Espanha senti-me muito mais jogador que no Sporting. Na Real Sociedad éramos tratados como ídolos. Eu jogava livre, na posição que queria. Senti-me jogador"*.
Apesar de tudo, a verdadeira paixão de Carlos Xavier sempre foi o Sporting. Esse motivo levá-lo-ia a regressar a Lisboa, três anos após a sua partida para a "La Liga". A sua inclusão no plantel leonino, numa altura em que o Sporting andava afastado dos títulos há vários anos, haveria de ser como que um talismã para o regresso às vitórias. Ora, logo nesse ano 1994/95, os "Leões", numa final frente ao Marítimo, venceriam a Taça de Portugal. Já a temporada seguinte serviria para que o Sporting, com um golo seu na finalíssima da Supertaça, juntasse mais um troféu às suas vitrines.
Mal sabia Carlos Xavier que este seu golo frente ao FC Porto, haveria de ser um dos últimos grandes momentos com a camisola verde e branca. É que com o defeso, chega a Alvalade o treinador Robert Waseige. O belga decide, então, com o intuito de fazer algumas alterações no plantel, de pôr alguns atletas à experiência. Até aqui, tudo certo. O que não se pode dizer "normal", seria a inclusão nesta lista de jogadores a testar, de nomes como o de Carlos Xavier! Ora, ao saber do pretendido, a reacção do jogador, bem mais do que legítima, seria a de pedir a rescisão do contrato, acabando por terminar ali a sua carreira.

*Retirado da entrevista ao "Jornal i", a 27 Outubro de 2011

526 - PEDRO XAVIER

Após terminar a sua formação em Alvalade, ele que a tinha iniciado ao serviço do Casa Pia, Pedro Xavier vê o seu trajecto futebolístico a ir de encontro aos destinos do Estoril-Praia. Inicialmente com o intuito de ganhar algum traquejo, o atleta acaba por prolongar a sua ligação ao clube da "Linha de Cascais" por diversos anos, acabando mesmo por nunca mais regressar ao Sporting. Seria, então, pelos "Canarinhos", um ano após ter aí ingressado, que o avançado acabaria por fazer a sua estreia na 1ª Divisão. 
Começava aqui, em 1981/82, um trajecto que o levaria a 10 temporadas consecutivas no escalão maior do nosso futebol. Mas se foi no Estoril-Praia a sua estreia, seria por outro emblema que Pedro Xavier acabaria por ver a sua carreira ganhar outra dimensão. Na Académica passaria, como o próprio reconhece, os melhores anos como jogador. As razões? Primeiro posso citar as óbvias: como o número de partidas realizadas, os golos que aí conseguiu e, acima de tudo, a sua primeira chamada à Selecção "A" de Portugal. Depois, temos aquilo que só os atletas que por lá passaram podem entender - "Ser internacional pela Académica significou muito e ligou-me para sempre ao clube e à cidade. Se existe um clube de que, como agora se diz, sou «desde pequenino», esse clube é a AAC [Associação Académica de Coimbra](...). Talvez haja clubes maiores do que a Académica, mas não em amizade e em companheirismo"*.
Depois destes jogos, realizados no âmbito da qualificação para o Mundial de 1986, Pedro Xavier ainda voltaria, por mais duas ocasiões, a envergar a "camisola das quinas". Essas suas derradeiras internacionalizações, seriam conseguidas já Pedro Xavier vestia o equipamento tricolor do Estrela da Amadora. No emblema da Reboleira, o avançado, com outras 3 épocas (ainda faria mais uma pelo clube), completaria o seu percurso no patamar máximo do futebol português. De seguida viriam os escalões secundários e o Campomaiorense, Barreirense e o Olivais e Moscavide.
Numa fase terminal da sua carreira, contava o atacante com 33 anos, e numa altura em que a maioria dos profissionais já começa a pensar nos anos da reforma, Pedro Xavier decide-se por uma nova aventura. Emigra e, pasme-se, em Hong-Kong acabaria por conseguir ter a sua primeira experiência num clube estrangeiro.
Finalmente, corria o ano de 1998, e já após essa sua curiosa passagem pelo South China, Pedro Xavier põe um “ponto final” na sua vida desportiva. Hoje em dia, sem contar com uma, ou outra, “perninha” pela variante de praia, o antigo internacional vive um pouco afastado do futebol. Dedica-se, e com bastante sucesso, ao negócio da restauração, dentro do qual, em parceria com outros dois sócios (um deles é o seu irmão Carlos Xavier) abriu uma tasca de petiscos... a saber, a "Taberna XXL".


*Retirado de "Académica - História do Futebol", de João Santana e João Mesquita