430 - PEDRO ROMA

Apesar de passagens por outros clubes, a carreira de Pedro Roma estará, para sempre, relacionada com a Académica. Passou muitos anos a defender a baliza da "Briosa". No entanto, o que o destacou foi o facto de ter conseguido personificar aquela que é a verdadeira mística dos de Coimbra, o "atleta-estudante" - "Posso confidenciar, e parece modéstia, mas para mim, além daquelas defesas que valeram pontos, permanências sofridas na primeira Liga, «frangos», jogos inesquecíveis, a maior delas todas foi ter conseguido terminar a minha licenciatura".
Foi na Académica que, como futebolista, acabou a sua formação. Depois de um empréstimo inicial à Naval, a volta à "casa-mãe" revelou, na segunda temporada após o seu regresso (1991/92), um guardião superior. Apesar da dita época ter sido passada no segundo escalão, o Benfica, certo das qualidades da jovem promessa, decide nele apostar. Como é óbvio, com concorrentes como Neno ou Silvino, as oportunidades não se perspectivavam as melhores. Se foi esta, ou não, a sua espectativa, não saberemos. Certo é que poucas vezes jogou. Ainda assim, segundo o próprio, "Guardo boas recordações do Benfica. É um marco importante, em qualquer profissional, uma passagem pelo Benfica. É pena que as coisas não me tenham corrido de uma forma positiva, mas é um marco que vou guardar para o resto da minha vida".
Sem espaço no "plantel dos "Encarnados", Pedo Roma começa um périplo de empréstimos que o levaria ao Gil Vicente, Académica e Famalicão. O regresso em definitivo à cidade do Mondego, deu-se em 1996/97 e logo para uma temporada que marcaria, quase uma década depois, a subida da Académica ao escalão máximo do futebol nacional. Seguiram-se 14 temporadas que fizeram dele, muito para além do guarda-redes mais utilizado de sempre pelos "Estudantes", um dos históricos do clube - "Foram 20 anos, muitos jogos - quase 400 -, mais de uma centena deles em que tive a suprema honra de ser capitão de equipa. Como o foram antes Alberto Gomes, Mário Wilson, Bentes, Gervásio, Tomás e Miguel Rocha e tantas outras figuras do imaginário Briosa ao longo de décadas. Nunca me imaginei ao pé de homens tão ilustres. Não dá para equacionar a honra que se sente e simultaneamente a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros".
Foi com quase 40 anos que Pedro Roma decidiu pôr um ponto final na sua carreira. Começou, então, a sua vida de treinador de guarda-redes que, depois dos primeiros anos na Académica, o levou às camadas jovens da selecção nacional.

429 - REDONDO


Quando se completa a formação num dos históricos clubes dos nossos campeonatos e, ainda por cima, sendo o dito emblema um frequentador assíduo da Primeira Divisão, é normal que o atleta em causa ambicione fazer carreira no escalão máximo. Redondo não deve ter passado ao lado de tal sonho. E se o início da sua carreira até lhe trouxe isso mesmo, passada a primeira temporada como sénior, a 1980/81 (durante a qual também jogou pelos juniores), a Académica de Coimbra haveria de o arrastar para a Segunda Divisão. Azar o do clube, azar também o do polivalente defesa que, assim, lá teve que se afastar de um dos seus objectivos principais.
Podia este "mau olhado" ter sido minimizado, caso a promoção dos "Estudantes" tivesse sido garantida no ano seguinte. Mas, tal como, resumidamente, relatámos no cromo anterior, a Académica, por essa altura (1981/82), haveria de estar envolvida num dos mais polémicos episódios do futebol português, o que impossibilitou a sua subida. Posta de parte a ideia da promoção da equipa, e por consequência a do atleta, não houve outro remédio se não continuarem todos afastados dos palcos maiores do futebol luso.
Foi, talvez, com o intuito de regressar à Primeira Divisão, e já depois de representar a União de Coimbra, que Redondo decide arriscar no Beira-Mar. Não fosse a paciência uma virtude e, por ventura, também esta aposta tinha saído furada. A verdade é que o ano de 1988, ao fim de 3 temporadas no Estádio Mário Duarte, marca o regresso dos aveirenses ao almejado escalão máximo. Cumprido este primeiro objectivo, o que daí adveio é, também, fácil de adivinhar: Redondo quereria, com certeza, conquistar a titularidade neste novo patamar. Foi o que aconteceu. Durante as 4 épocas que se seguiram - entre 1988/89 e 1991/92 -, Redondo foi um dos nomes com presença garantida no escalonamento do "onze" do Beira-Mar. Este cumprir de meta fez com que o defesa ultrapassasse a centena de partidas disputadas, o que, naturalmente, o transformou num dos nomes a reter no desporto, entre o fim dos anos 80 e o princípio dos 90.
Saiu do Beira-Mar, depois de um registo de jogos totalmente oposto ao habitual, no final da temporada de 1992/93. A partir de então, ainda assim com nova passagem, ao serviço do Tirsense, pela Primeira Divisão, a sua carreira entrou numa fase descendente. Haveria de pôr um "ponto final" na mesma, em 1997, depois de ter vestido a camisola da Sanjoanense.

428 - SANTANA

Não gosto que uma identidade, por razão da sua ascendência, tenha valor próprio. Acho, igualmente, que cada um deve ser visto pelo caminho que traça e não, em jeito de legado, por aquilo que foram, a exemplo, os seus pais. Contudo é impossível não fazer esta referência e com certeza que, para este antigo jogador, a mesma deve ser motivo de enorme orgulho. É verdade, o Santana que hoje aqui vos trago é filho da antiga estrela benfiquista (bi-campeão europeu) que se apresentava pelo mesmo nome.
Por razão dessa filiação, o seu começo como atleta fez-se, naturalmente, de "Águia" ao peito. Contudo, Santana, ao contrário do pai, preferia a ponta contrária do campo para mostrar as suas habilidades - jogava como defesa.
Nunca chegaria a vestir a camisola encarnada na categoria principal do emblema da "Luz", tendo, ainda como júnior, abandonado as "Águias". Seguiu, então, rumo ao Estoril-Praia.
Se a primeira época entre os seniores, não resultou numa substancial participação em jogos, já a seguinte, depois da participação do jogador no Mundial de s-20, trouxe um Santana capaz de ocupar o lugar titular no centro da defesa. Essa regularidade valer-lhe-ia a transferência para a Académica de Coimbra (na altura denominado por Clube Académico de Coimbra). Passou 2 anos na "Cidade dos Estudantes" e pode-se dizer que viveu por lá um dos momentos mais polémicos do futebol nacional. O episódio conta-se depressa. Num dos últimos jogos do Campeonato da 2ª Divisão de 1981/82, o Académico, que havia descido de escalão na época anterior, preparava-se para disputar, frente à Guarda, os pontos que lhe poderiam garantir a promoção. O golo haveria de ser marcado ao 78 minutos, mas um coro de protestos que, dizem, cercou o árbitro durante mais de 10 minutos, fez com que este o anulasse. Os protestos da "Briosa" fariam com que o jogo se repetisse. Nessa segunda partida, num "ambiente de cortar à faca", o Académico acabaria por vencer. O pior é que o jogo haveria de ser anulado e os "Estudantes" permaneceriam na 2ª Divisão.
Foi a seguir a esta história que Santana se mudou para aquele que viria a ser o clube que durante mais tempo representou. No Rio Ave esteve 6 temporadas, onde disputou largas dezenas de encontros. Por essa razão é normal que maior parte dos adeptos de futebol, associem este antigo profissional ao verde e branco das suas camisolas. Como é óbvio, também são estes números que fazem dele um dos históricos do emblema vila-condense.
Depois do Rio Ave, de onde saiu em 1988, o defesa haveria de vogar, nos seus derradeiros anos de futebolista, por emblemas das divisões secundárias. Após representar Paredes e Olhanense, terminaria a sua carreira, aos 32 anos, no Amora.

427 - ESMORIZ

Longe da freguesia do concelho de Ovar, que lhe dá nome, nasceu este jogador. A sua carreira também passou um pouco ao lado dessa mesma localidade, já que foi em Lisboa, terra da sua naturalidade, que o antigo médio cumpriu grande parte do seu percurso enquanto profissional.
Começou no Atlético e no popular emblema do bairro de Alcântara, iniciou a sua actividade desportista como defesa (salvo erro, lateral direito). Foi nestas funções dentro de campo que deixou o Atlético para rumar aos vizinhos, e talvez os seus maiores rivais, do Belenenses. Traição ou não, a verdade é que seria o clube do Restelo a projectá-lo para uma carreira, não digo fulgurante, mas a muitos níveis, bem interessante. Foram os da "cruz de Cristo" que lhe permitiram grande parte das partidas disputadas no nosso mais importante escalão (a saber, mais de 200); foram eles que o fizeram médio centro (posição onde mais se destacou); foi aí que na temporada de 1975/76, a da sua estreia, venceria a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa; e foi com os "Azuis" que disputou as competições organizadas pela UEFA. Neste campo, o do seu percurso como futebolista, talvez hajam muitas histórias a contar a seu respeito, mas, por certo, essa eliminatória da Taça UEFA (1976/77), contra o Barcelona, é um dos momentos que recordará para sempre. É bem verdade que o Belenenses foi eliminado. Agora, enganem-se aqueles que pensam que o foi sem dar conta de si. Pois é, contra a equipa que contava, entre tantos outras estrelas, com nomes como o de Johan Cruyff e de Neeskens, o Belenenses soube bater-se de igual para igual. O saldo total da contenda foi 5-4, mas para além do empate conseguido em casa (2-2), a equipa "alfacinha" foi a Camp Nou sem qualquer temor, e, espantam-se, só sofreu o golo que decidiria a eliminatória a 3 minutos do fim do tempo regulamentar.
Foi já perto dos 30 anos que surgiu a oportunidade de dar outro passo na sua carreira. O convite surgiu do Sporting e Esmoriz não virou a cara ao desafio que se apresentava. No entanto a concorrência era enorme e o centrocampista raramente teve chance de mostrar os predicados que até ali o tinham levado. Ainda assim, o inglês Malcolm Allison, contratado para a temporada de 1981/82, haveria de o manter no plantel. Quem com ele trabalhou, facilmente compreenderá a opção do técnico, pois Esmoriz era um atleta que, muito para além das suas habilidades técnicas, era muito trabalhador. Foi esse esforço que fez com o treinador lhe desse o prémio de nesse ano, também ele, se juntasse aos nomes que fariam parte do rol de campeões nacionais.
Depois desta vitória, Esmoriz abandonou os "Leões" e deixou também os palcos da Primeira Divisão. Daí em diante vogou pelos escalões secundários onde vestiria as camisolas de Penafiel, União de Leira, Estoril e Cova da Piedade.

426 - FERNANDO PORTO

Já aqui, neste “blog”, falamos de um tempo em que se vulgarizou a contratação, por parte dos emblemas nacionais, de atletas vindos das Ligas espanholas (ver "Armada Espanhola"). Fernando Porto foi um dos que, por essa altura, chegou a Portugal. Veio para jogar no Farense, mas, como é óbvio, para trás já tinha uma carreira firmada no país vizinho. À cerca dessa primeira parte da sua vida profissional, tenho que me referir a ela como peculiar. Não quero que entendam isto como algo pejorativo, mas ao analisarmos esse seus anos, há uma coisa que salta logo à vista. Ora vejamos! No Celta de Vigo haveria de se formar, para depois ser promovido à equipa "B". Apesar de ter sido chamado à equipa principal, o defesa haveria de passar maior parte do seu tempo com o segundo plantel dos "galegos". No entanto, no final dessa temporada de 1993/94, até porque, em abono da verdade se diga, o jovem jogador tinha talento, o Barcelona decidiu apostar nele. Contudo, mais uma vez, o seu destino não foi o esperado e Fernando Porto haveria de ir parar à equipa "B". Apesar de titular, a oportunidade de vestir a camisola na categoria principal nunca apareceu. Conclusão: nova transferência, desta feita para o Numancia. Esta mudança veio vincar aquilo que já aqui foi dito: Fernando Porto era um jogador com qualidades inegáveis. Esse facto, mais uma vez, levou com que outro clube de monta acreditasse no seu potencial. Desta feita no Maiorca, a sua sorte não mudaria. Como já adivinharam, o destino do central foi o mesmo de sempre: EQUIPA "B"!!!
Foi já depois de representar o Legañes que Fernando Porto chegou ao Algarve. Nesse Verão de 2000, o Farense acabava de contratar um defesa forte fisicamente, disciplinado ao nível táctico e que tinha no jogo aéreo a sua maior arma. Talvez a sua falta de experiência nas Primeiras Divisões, ele que a esse nível se estreava, tivesse contribuído para o facto da sua adaptação não ter corrido da melhor maneira. Já a sua segunda temporada por cá, trouxe um atleta mais confiante e capaz de ajudar melhor os seus companheiros. O pior é que, no plano desportivo, o Farense começava a mostrar as debilidades resultantes da grave crise financeira, em que estava mergulhado. Os "Leões de Faro" haveriam de ser despromovidos e Fernando Porto optaria por se mudar para o União da Madeira.
A partir dessa altura a sua carreira perdeu o fulgor que prometeu no início da mesma, vogando apenas pelos escalões secundários dos dois países ibéricos.

425 - ALMEIDA

Variadíssimas vezes internacional pelas camadas jovens da selecção portuguesa, Almeida foi um dos melhores alas direitos que, durante os anos 80, o campeonato português viu jogar. Perguntam, então (e bem!), porque não chegou este craque, nascido em Oliveira do Bairro, à equipa principal das "quinas"? Bem, a resposta não será assim tão fácil de dar e levar-nos-á a muitas especulações sobre o assunto. Uma coisa é verdade: a concorrência que enfrentou durante toda a sua carreira de profissional foi tremenda. Não nos podemos esquecer que o extremo sofreu, na disputa por um lugar na selecção principal, a concorrência de atletas como Chalana, Diamantino ou Jaime Magalhães. Ainda assim, o argumento de que seria menos bom que outros atletas, não é irrefutável. Com isto concordarão todos aqueles que ainda têm memória de o ver jogar. E por isso mesmo, há quem diga que, tendo em conta as suas boas exibições, este boavisteiro de alma e coração, foi, nesse campo, vítima de uma tremenda injustiça.
Independentemente desta questão, uma coisa é certa: Almeida teve uma carreira de que se deve orgulhar. O primeiro motivo para tal, por exemplo, podemos dá-lo pelo facto de cedo, ainda com idade de júnior, ter sido incluído nas contas do plantel principal do Boavista. Mas há mais. Depois de terminada a sua formação na equipa do Bessa, fez com o plantel sénior “Axadrezado”, à excepção da sua passagem pelo Beira-Mar, maior parte da sua vida como "jogador da bola". Foram mais de 150 partidas disputadas para o Campeonato Nacional, com a camisola do xadrez, e que fizeram dele um histórico do clube. No entanto, não é só de números que se faz uma carreira e a de Almeida também teve muitos outros predicados. Bastaria, para provar isso mesmo, falar da maneira como se apresentava em cada disputa. Contudo, o jogador batalhador, com uma técnica muito acima da média, com uma capacidade de passe tremenda e que fazia dos cruzamentos para o centro da área adversária a sua maior arma dentro dos relvados, não se esgotava por aqui. Muito mais do que o futebolista, sempre houve o Homem. E este, segundo quem com ele lidou de perto, sempre foi uma pessoa de caracter modesto, abnegado amigo e muito longe daquilo que foi o querer de algumas estrelas que também brilharam no desporto. Por isso mesmo, Almeida sempre foi um modelo para todos os que com ele trabalharam; por isso mesmo, também, tem sido escolhido para treinador das camadas jovens das "Panteras". Porquê? Esta pergunta, ao contrário daquela com que começamos este "post", é bem fácil de responder! Porque, dentro e fora do campo, Almeida sempre foi, e será, na dedicação com que se entrega, um exemplo a seguir.

424 - MURÇA

Filho de um "homem do mar", que simultaneamente era estrela do Pescadores, Murça haveria de se iniciar, também ele, no emblema da Costa da Caparica. Tal como o pai, a primeira posição que ocuparia no campo de jogo seria a de atacante. Aí, treinado que era pelo "violino" Albano, o jovem atleta rapidamente se tornou num goleador nato. Foi por esta altura que Murça, depois de observado pelo notável belenense Calisto Gomes, ruma aos escalões de formação da "Cruz de Cristo". No Restelo, logo na temporada de subida à equipa principal, haveria de encontrar o treinador que começaria a mudar-lhe a vida de futebolista. Ora se, até então, tinha sido no ataque os seus primeiros tempos de jogador, o técnico espanhol Ángel Zubieta (também ele antigo atleta do Belenenses) achou que posição certa para si, estaria na ponta oposta do campo, ou seja, na defesa. Foi para lá, para o centro da mesma, que Murça haveria de ser recuado. Assim permaneceu até que, numa chamada à selecção de "Esperanças", Fernando Caiado achou por bem deslocá-lo para a esquerda do dito sector. No regresso aos trabalhos do Belenenses, Mário Wilson concordaria com a alteração sugerida pelo seleccionador e, deste modo, até ao fim da sua carreira, aí se manteve.
Se a sua primeira temporada como sénior seria marcada pelo rebuliço que acabei de referir, também a segunda haveria de ter histórias para contar. Deste modo, depois de assegurar a titularidade no Belenenses, o sucesso do jovem Murça haveria de ser sublinhado com a chamada à equipa "A" de Portugal, onde, tal e qual como nos s-21, faria a sua estreia frente à congénere inglesa.
Mas a maneira exemplar como encarava o futebol, onde se caracterizou como um jogador batalhador, mas sempre correcto para com os adversários, desde cedo prometeu a Murça novos e bons horizontes. Deste modo, ninguém estranhou quando, em Agosto de 1974, o lateral esquerdo foi contratado pelo FC Porto. Tal como no Belenenses, rapidamente, haveria de conquistar o seu lugar no "onze". Com a sua maneira abnegada de encarar as partidas, em que o constante vaivém pela sua ala, dava uma vivacidade particular, tanto ao jogo ofensivo, como às acções defensivas da sua equipa, Murça haveria de ser um dos principais responsáveis pelo regresso dos "Dragões" aos títulos. Primeiro, já sob a orientação de José Maria Pedroto, veio a conquista da Taça de Portugal de 1976/77, para nos dois anos a seguir, também ele, erguer o trofeu de Campeão Nacional, algo que, como seguramente se recordarão, já não acontecia nas Antas há 19 anos.
É certo que estes foram os melhores anos da sua carreira, mas já depois de abandonar o FC Porto, onde esteve 7 temporadas, rumou ao Vitória de Guimarães. Nestas 3 épocas no Minho, onde em 1983/84, haveria de partilhar o balneário com o seu irmão Joaquim Murça, o "outro" Murça, o Alfredo, haveria de manter a bitola exibicional ao mais alto nível, isto é, continuando como titular indiscutível.
Já com 36 anos ainda foi jogar para os escalões secundários, onde envergou as cores de Leixões e Tirsense. Aliás seria na terra dos "Jesuítas" que Murça daria início à sua carreira de treinador, que, sem ter grande impacto, ainda o levou ao lugar de adjunto no FC Porto.

423 - PARIS

Quando se nasce no seio de uma casa de futebolistas, qual a probabilidade de fugir a esse destino? Para Paris (este é o António) foi impossível.
Irmão mais novo de Cândido Paris (avançado que passou por Boavista e Varzim, entre outros) e de Manuel Paris (vestiu a camisola do Atlético), foi ele o que se destacou mais na prática da modalidade que apaixonou a sua família, sendo o único a atingir o patamar de jogador internacional.
Natural da ilha de São Vicente, bem distante da capital francesa que lhe dá nome, foi no Estoril-Praia que o defesa haveria de fazer a sua estreia na Primeira Divisão nacional. Apesar de podemos de dizer, acerca destas suas duas primeiras temporadas, ter conseguido alcançar alguma relevância dentro do plantel "Canarinho", a temporada que se seguiria, a de 1979/80, seria feita de uma passagem pelo Nacional da Madeira. Depois de ter "rodado" na cidade do Funchal, o regresso ao emblema da "Linha" trouxe um atleta possante, aguerrido e de uma utilidade tremenda para a manobra defensiva da sua equipa. É assim que o central vê, no Verão de 1982, o Sp.Braga apostar na sua contratação.
Esse primeiro ano passado na "Cidade dos Arcebispos" traz para Paris uma série de novidades na sua carreira. Por um lado começa por disputar um troféu nacional, ao ser escalonado para a contenda da Supertaça Cândido de Oliveira desse ano, que haveria de ser vencida pelo Sporting. Por outro, faz a sua estreia em competições organizadas pela UEFA, ao jogar a ronda inaugural da Taça dos Vencedores das Taças, frente aos britânicos do  Swansea. Claro, não nos podemos esquecer daquele que, provavelmente, terá sido o momento mais alto na sua vida de profissional, isto é, a chamada aos trabalhos da selecção portuguesa, e a respectiva estreia frente à Alemanha (Republica Federal), a 23 de Fevereiro de 1983.
Espantosamente, depois de uma temporada em que se havia de impor como um dos titulares do último reduto bracarense, na que se seguiu, Paris haveria de perder essa preponderância.
Se foi a chegada de um novo treinador (Quinito substituiria Juca), ou outro factor qualquer que provocou este decréscimo de aparições no escalonar do "onze", não sabemos. A verdade é que no final de 1983/84, o defesa sairia para representar o Salgueiros, aliás o seu último clube no escalão maior do nosso futebol.
Existem ainda registos da sua passagem novamente pelo Estoril-Praia e, por fim, no União de Almeirim, não sabendo, também, se esta altura corresponde ao final da sua "vida" nos rectângulos de jogo.

422 - ABRANTES

De Abrantes à localidade capital do distrito das suas origens, Portalegre, distam em linha recta, qualquer coisa como 68,78 km. Também o grosso da sua carreira andou bem longe da terra que lhe dá nome. Depois de ter jogado por emblemas do Alentejo onde nasceu, as suas qualidades, reveladas bem cedo, levaram o Benfica a contratá-lo para os seus escalões de formação.
Motivação não deve ter faltado ao jovem guardião, ou não estivessem os "Encarnados" a atravessar uma das suas épocas de maior glória e o futebol nacional a viver da ressaca do Mundial de 66. Foi exactamente nessa altura que Abrantes subiria, pela mão de Fernando Riera à equipa principal da "Águias". Claro está que, quando no plantel se tem um nome como o de José Henrique, as esperanças de ganhar um lugar como dono da baliza, são muito pequenas. Assim aconteceu com Abrantes, que poucas oportunidades teve na Luz, participando apenas, e em temporadas diferentes, em dois jogos da Taça de Portugal. Aliás, o único trofeu oficial na sua carreira (1968/69), conseguiu-o através de uma destas presenças.
O seu empréstimo foi o passo seguinte, o normal para um atleta promissor, e que até já tinha chegado às selecções jovens nacionais. A Académica recebeu-o. Contudo, se o objectivo da mudança era aprender alguma coisa, grande foi o erro. Primeiro veio a época de 1969/70, onde, peculiarmente, 5 guardiões calçariam as luvas da "Briosa"; depois foi a concorrência de Melo, que o remeteria para o banco de suplentes.
O regresso à "Luz" manteve-o cativo, mais uma vez, da figura principal das redes benfiquistas. Mas é então que se perpetra uma mudança importante na sua vida de desportista. No Barreirense emergia, à altura, um nome que viria a tornar-se mítico do futebol português. O Benfica para o contratar, oferece, entre outras contrapartidas, os préstimos de um dos seus atletas. É assim que Abrantes se vê envolvido no negócio de Bento, e viaja para a margem sul do Tejo. A mudança de que falava, surgiu rapidamente, pois Abrantes conseguiria assegurar o lugar e fazer, pela primeira vez uma temporada como titular na Primeira Divisão. Daí em diante, o seu nome esteve quase sempre associado ao do escalão máximo do nosso futebol. Após representar o colectivo do Barreiro e de outras passagens pelo Sp.Espinho e Montijo, Abrantes chegou ao emblema onde passaria mais anos. Para além de 7 temporadas, pode bem dizer-se que terá sido pelo Estoril-Praia que o guarda-redes viveu um dos episódios mais caricatos na sua vida como profissional - "Eu tinha sempre muito trabalho contra o F.C. Porto mas aquele jogo foi o que mais me ficou na memória. O árbitro marca um penalty contra nós, o Vítor Madeira protesta, vê o segundo amarelo e é expulso. O Gomes mete a bola na marca de penalty mas eu defendo. Quando me levanto vejo que o Vítor Madeira estava em campo. Não sei dizer se nunca saiu ou se tinha voltado a entrar. Mas estava lá e o banco do F.C. Porto estava todo de pé a reclamar. Os jogadores do Porto empurravam o árbitro para a marca do penalty os nossos empurravam-no para fora da área. E ele não tomava nenhuma decisão. Só lhe disse uma coisa [refere-se ao árbitro Graça Oliva]: se vocês não viram se o Vítor Madeira estava em campo, esqueçam lá isso. Eles que joguem à bola que são melhores do que nós. Ele olhou para mim e disse: Tem razão. E o jogo seguiu".

TOPONÍMIA


Se toponímia pode definir-se como a disciplina que estuda os nomes próprios dos lugares, a sua origem e evolução, a pergunta que se apraz fazer é: "mas o que tem isso a ver com o futebol?". Pois bem, todos nós, até os jogadores, têm o seu local de nascimento. Bastaria isto para que conseguíssemos construir algo relacionado com a geografia. Mas longe desta verdade ao jeito de "Monsieur" La Palice, há outra igualmente incontornável. É que ao longo dos tempos, os nomes das cidades, vilas e afins, foram servindo para apelidar pessoas. Claro que é capaz de ter sido exactamente o oposto, mas, também, para que é que isso interessa? Na verdade, o que importa é que este Dezembro, em exclusivo, será dedicado a futebolistas com nome de localidade!!!