336 - JAIME GRAÇA

Cedo, como era apanágio para muitos da sua condição social, abandonou os estudos para, ainda na meninice, passar a dedicar o tempo a aprender uma profissão. Electricista haveria de ser a sua "arte" e que jeito daria essa aprendizagem anos mais tardes. No entanto, o desporto era a verdadeira paixão e muito antes de preferir o futebol como a modalidade de eleição, lá ia dividindo o tempo entre o popular "jogo da bola", as obrigações de aprendiz e o Hóquei.
Sobre os patins, Jaime Graça também mostrava grande habilidade. Os amigos comparavam-no aos melhores craques da época, os patinadores do FC Barcelona e, desse modo, lá colou a alcunha de "Catalunha". Contudo, talvez pela influência do irmão mais velho, o médio internacional Emídio Graça, na altura de escolher uma modalidade preferiu os campos às quadras dos pavilhões. Nos primeiros passos dessa senda, apesar de, primeiro, ter tentado a sua sorte nos "Sadinos", o jovem médio acabaria a envergar as cores do Palmelense. Todavia, com o jeito exibido para o jogo, rapidamente haveria de voltar ao emblema de Setúbal. Aos 17 anos estrear-se-ia com a camisola verde e branca e no Vitória Futebol Clube marcaria uma época. Para ele seria o consolidar das capacidades como atleta, o desenvolvimento do famoso drible, da postura em campo, da maneira intrépida como encarava todos os desafios. Já para a agremiação do Bonfim, com um dos golos a ser concretizado pelo centrocampista, seria a altura de vencer a edição de 1962/63 da Taça de Portugal, o primeiro grande troféu nacional da história da colectividade.
Com toda a evolução demonstrada pelo jogador, ninguém ficaria espantado com a estreia do médio na principal "Equipa das Quinas". Ainda ao serviço dos setubalenses seria chamado por Manuel da Luz Afonso a representar Portugal no Campeonato do Mundo de 1966. Em Inglaterra, chamado a campo por Otto Glória, ao lado de estrelas como Eusébio, Coluna, Vicente, José Carlos, Simões, José Torres, entre tantos outros craques, Jaime Graça acabaria o torneio como um dos totalistas e ajudaria, e de que maneira, à campanha da selecção lusa que, no aludido certame, atingiria o terceiro lugar.
Foi igualmente em "Terras de Sua Majestade" que terá recebido, através de um telefonema da sua esposa, a notícia de que já era atleta do Benfica. De "Águia" ao peito viveria uma amálgama das mais distintas emoções. Primeiro, posso contar-vos a vez em que, com os seus conhecimentos sobre electricidade, salvou alguns colegas da morte certa. Malta da Silva e Eusébio dever-lhe-ão para sempre a vida, depois de Jaime Graça ter conseguido desligar o quadro que alimentava uma banheira de hidromassagem avariada, num acidente que, ainda assim, vitimaria fatalmente o defesa Luciano.
É certo que os feitos desportivos foram igualmente importantes. Pelo Benfica, a conquista de 7 Campeonatos e 3 Taças de Portugal, terão sido, para o jogador, inesquecíveis. Ficar-lhe-ia, no entanto, com uma grande mágoa, a de nunca ter vencido, ao serviço daquela que era uma das maiores potências do futebol europeu da altura, a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Mesmo assim, haveria de marcar presença na final de 1968, frente ao Manchester United. Seria dele o golo que levaria a disputa para o prolongamento. Porém, a sorte não estava do lado dos "Encarnados" e o médio, mais os seus companheiros, sairiam do Estádio de Wembley apenas com o consolo do segundo lugar.

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