325 - MANUEL JOSÉ

Ainda não endoideci de vez! Sei perfeitamente a nacionalidade de Manuel José. Porém, convenhamos, há um português que também pode ser considerado um pouco africano e esse é o técnico algarvio!
O que põe Manuel José no rol de personalidades apresentadas durante este mês, não é o facto de grande parte da sua carreira, e das suas conquistas, ter sido feita ao serviço dos egípcios do Al-Ahly. Como devem estar recordados, o treinador teve a seu cargo a equipa nacional de Angola, quando esta participou na CAN organizada no país dos "Palancas Negros". No entanto, mesmo com prestação dos angolanos no certame de 2010, quando muitos sonhavam com a vitória no torneio, a levá-los apenas aos quartos-de-final, a verdade é que grande parte da sua caminhada como técnico tem sido pautada por grandes sucessos.
Vamos começar um "pouco" antes. Aos 16 anos, um jovem algarvio, médio, chega ao Benfica. Faz aí o resto do seu percurso de formação e naturalmente, após de um ano nas "reservas", começa por ser emprestado. Depois do Sporting da Covilhã e do Varzim, a temporada de 1967/68 no Belenenses, começa a mostrar um jogador suficientemente maduro para, aos olhos do treinador "encarnado" Otto Glória, ingressar no plantel das "Águias" da época seguinte. É assim que, na temporada de 1968/69, apenas alguns minutos em campo, dão o primeiro título a Manuel José - "Joguei mesmo mal. Devo ter sido assobiado pelo público, mas disso nem me lembro (...). Em Abril, acabou o Campeonato e o Benfica fez a festa. A Direcção telefonou-me então para o quartel de Queluz, onde fazia a tropa, a convidar-me para ir receber a medalha de campeão, mas eu não fui. Ia lá fazer o quê? Então joguei 19 minutos, e mal, e ia receber a medalha?"*.
Dispensado do Benfica, a sua carreira começou, a partir dessa altura, a vogar por clubes de menor monta. Talvez por essa razão, apenas com 32 anos e depois de ter envergado as camisolas do União de Tomar, Farense, Beira-Mar e Sporting de Espinho, Manuel José, sem sair dos “Tigres da Costa Verde”, decide encetar a vida como treinador.
Foi o protagonismo ganho no cumprimento das funções de técnico de futebol que, hoje em dia, faz dele um dos nomes mais respeitados da modalidade, a nível mundial. Para isso muito contribuem o rol de títulos conquistados, 23 para ser mais exacto, dos quais podemos destacar, os 6 Campeonatos egípcios, as 4 Ligas dos Campeões Africanos e as 4 Supertaças do mesmo continente, todos ao serviço do já referido Al-Ahly. Claro que, para além do que foi vencendo durante a diáspora, é impossível esquecer todo o trabalho feito, na década de 1990, com as cores do Boavista. Durante os aludidos anos ganhou a Taça de Portugal de 1991/92 e a edição de 1992/93 da Supertaça Cândido de Oliveira. Todavia, há que sublinhá-lo, categoricamente, como o homem que lançou os “Axadrezados” na senda da vitória no Campeonato Nacional.

*retirado do livro “101 Cromos da Bola” (Lua de Papel), de Rui Miguel Tovar (2012)

324 - SIASIA

Depois de ter iniciado a carreira no país natal e de aí ter percorrido o normal percurso pelas selecções jovens da Nigéria, Samson Siasia, acabado de participar no Mundial sub-20, realizado em 1985, na antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas, começaria a ser seguido por emblemas do futebol europeu.
Projectado num destino de excelência, o resultado de tal avaliação levá-lo-ia, em 1987/88, a mudar-se para o Campeonato da Bélgica. Após 6 temporadas a envergar a camisola do Lokeren, a sua capacidade técnica, nomeadamente o drible começariam a fazer dele um jogador muito mais ambicioso e a distanciar-se daquilo que o emblema belga poderia prometer. Para si, começariam a idealizar-se outros horizontes e seria por essa altura que apareceriam dois emblemas na disputa pelo avançado. Por um lado, de Portugal emergiria um Sporting em grande força e a acenar-lhe com a hipótese de títulos. Já de outras bandas, surgiria um promissor Nantes que, com elementos como Ouédec, Makelele, Karembeau e Naybet, começava a olhar para o topo da tabela da Liga francesa. A escolha do avançado recairia no emblema gaulês e não posso dizer que terá sido, de todo, errada, pois, em 1994/95, Siasia haveria de ajudar a conquistar o troféu de campeão nacional francês.
Por altura do título ganho ao serviço do Nantes, já o atacante não era um qualquer praticante de futebol. Para além da conquista em França, o avançado também ostentava outras metas vencidas, como a Medalha de Ouro na CAN de 1994. Por essa razão, o andamento seguinte na sua caminhada desportiva acabaria por ser um pouco estranho e em direcção a Portugal. É certo que se a passada for apenas descrita desta maneira, então a admiração não haveria de ter assim tão grande. Porém, o destino de Siasia não viria a ser um dos emblemas tradicionalmente de maior monta, mas o Tirsense. Em abono da verdade, há também que contextualizar a transferência e, com esse objectivo, não poderei esquecer-me de referir as boas campanhas realizadas pelo conjunto de Santo Tirso, as quais levariam os “Jesuítas” a abeirarem-se dos lugares cimeiros da tabela classificativa. Ora, a busca pelos lugares com direito às participações nas provas sob a alçada da UEFA, passaria a justificar um bom investimento e, a par da entrada no plantel do marroquino Daoudi, surgiria também a contratação do internacional nigeriano.
Por razão do “passo maior que a perna" e falhado o "objectivo europeu", o Tirsense, a sofrer de graves problemas financeiros, entraria em queda livre. Quanto ao jogador, ultrapassada a barreira dos 30 anos de idade, entraria numa fase mais irregular da carreira, que o levaria a mudar várias vezes de clube e a passar por países como a Arábia Saudita, a Austrália ou Israel. Já após terminar o trajecto como atleta, Siasa abraçaria as funções de técnico. Começaria pelas equipas jovens nigerianas, com destaque para o 2º lugar atingido no Mundial sub-20 de 2005 e nos Jogos Olímpicos de 2008. Apesar de algumas acusações a apontá-lo como uma pessoa arrogante, seguir-se-iam as funções como treinador-principal na selecção A da Nigéria, com a qual não conseguiria qualificar-se para a CAN de 2012.

323 - NAYBET

Noureddine Naybet chegou ao Sporting Clube de Portugal como um atleta de qualidades comprovadas e com um currículo invejável. No Wydad Casablanca estrear-se-ia na equipa principal com apenas 19 anos e se algum erro de análise terá levado alguém a pensar que a sua tenra idade seria sinónimo de inexperiência, então o defesa-central depressa trataria de provar o contrário, afirmando-se como um dos titulares. Logo nesses primeiros anos como sénior, ao serviço do arrolado emblema marroquino, o atleta ganharia praticamente tudo o que havia para vencer naquele que era o seu contexto competitivo. Porém, se às vitórias em 3 Campeonatos de Marrocos e à conquista da Liga dos Campeões africana juntarmos a disputa dos Jogos Olímpicos de 1992 e da CAN disputada nesse mesmo ano, então é mais fácil entender que a sua ambição depressa haveria de pôr os olhos no lado norte do Mar Mediterrâneo.
Seria depois da temporada de 1993/94, cumprida ao serviço dos franceses do Nantes, que Naybet chegaria ao Sporting. Em Alvalade, num plantel de enorme qualidade e com ambições ao título de campeão nacional, o defesa-central, ao lado do brasileiro Marco Aurélio, rapidamente tomaria um lugar no sector mais recuado da equipa. Contudo, as duas épocas passadas em Lisboa acabariam apenas por trazer ao palmarés pessoal do atleta a Taça de Portugal de 1994/95 e a Supertaça da campanha seguinte. Ainda assim, a visibilidade ganha de “Leão” ao peito faria dele um alvo muito cobiçado. Por essa razão, a poucos espantaria a sua apresentação, no início de 1996/97, como elemento da agremiação que, em Espanha, mais desafiava a hegemonia do Real Madrid e do FC Barcelona. No Deportivo La Coruña passaria 8 épocas e em 1999/00, a partir de um balneário com nomes como Pauleta, Mauro Silva ou Makaay, o jogador ajudaria o emblema galego a levantar o troféu correspondente à vitória na “La Liga”.
Terá sido, mais ou menos, por altura da última conquista aludida no parágrafo anterior que o assédio de outros clubes haveria de tomar forma. Real Madrid e Manchester United iriam no seu encalço, mas a intransigência do Presidente do "Depor", o qual passaria a exigir uma pequena fortuna pela sua transferência, acabaria por pôr termo à possível mudança. A saída do defesa-central concretizar-se-ia umas épocas mais tarde, contava Naybet 34 anos. Primeiro seriam os "Red Devils" a, mais uma vez, tentar a sua contratação. Todavia, segundo o veiculado na altura, o internacional marroquino viria a chumbar nos testes de aptidão médica e seriam os londrinos do Tottenham Hotspurs a conseguir, em 2004/05, os seus préstimos.
 Dois anos depois da mudança para Inglaterra, Naybet decidiria terminar a carreira enquanto futebolista. Daí em diante, daria um novo rumo à caminhada na modalidade e, nas funções de treinador, aceitaria o cargo de adjunto de Henry Michel, na selecção nacional de Marrocos.

322 - N'DINGA

Há jogadores com episódios caricatos durante a carreira e N'Dinga foi um deles! Todavia, as peripécias na vida deste natural do antigo Zaire conseguiriam, começando logo pelo nome de baptismo, extravasar-se para além do futebol. A primeira história conta-se depressa! Quando Moboto Sese Seko chegou ao poder, uma das medidas que tomou para, de uma vez por todas, acabar com a ligação à antiga potência colonizadora, a Bélgica, foi proibir os nomes francófonos. O azar do pobre rapaz estava no nome próprio e Philippe lá teve de ser alterado para Mboté.
Já no que diz respeito ao futebol muitos ainda têm memória do badalado "Caso N'Dinga". Terminada a temporada de 1987/88, a segunda do médio em Portugal, a tabela classificativa indicava como uma das equipas despromovidas, a Académica. No lugar imediatamente acima, o primeiro antes da "linha de água", e com a agravante de ter os mesmos pontos, estava o Vitória Sport Clube. É então que rebenta o escândalo, com os "Estudantes" a acusarem a colectividade sediada em Guimarães, numa trama a envolver consulados e carimbos falsos, de ter inscrito, de forma fraudulenta, o internacional zairense. A “Briosa” exigiria que os pontos ganhos pelo Vitória, num dos confrontos entre ambos, fossem retirados, devendo-se, por isso, alterar-se a ordem da classificação final do Campeonato Nacional e mantendo-se o conjunto de Guimarães na divisão maior do futebol luso. Depois dos juízos desportivos não terem dado como provadas as acusações, o caso seguiria para os tribunais civis e por entre julgamentos, recursos, decisões e reviravoltas, acabaria por ficar tudo na mesma.
Claro está que N'Dinga não ficará na história do clube minhoto apenas por este episódio. Muito para além das 10 temporadas em que o centrocampista envergou a camisola do Vitória Sport Clube, o seu nome ficou intimamente ligado ao primeiro troféu oficial conquistado pela agremiação vimaranense, já que foi dele um dos golos que derrotou o FC Porto, na disputa da Supertaça Cândido Oliveira de 1988/89. Paralelamente a esse momento de glória ficarão na memória de todos as corridas ziguezagueantes com que avançava em campo, a sua incomparável resistência física, a regularidade com que cumpria todas as temporadas, a sua elástica polivalência e, acima de tudo, a simpatia com que conquistou todos os adeptos.
Depois do derradeiro jogo nas provas portuguesas, onde, tal como na estreia, defrontou o Sporting de Braga, N'Dinga, com um total de 286 partidas cumpridas na 1ª Divisão, recorde absoluto no clube, decidiria retirar-se das lides de futebolista profissional. Ainda voltaria a ligar-se ao colectivo minhoto. Já nas funções de dirigente haveria de passar por mais um capítulo controverso, do qual resultaria uma acesa troca de acusações com o Presidente Pimenta Machado, relativamente ao eventual desaparecimento de fundos destinados a uma transferência.
Hoje em dia, reside no Canadá, onde ainda voltou a calçar as chuteiras para representar o Benfica de Toronto.

321 - AKWÁ

Quantos mais chegarão à Luz, ao estilo de um D.Sebastião regressado, que, vindos de África, mormente das antigas colónias portuguesas, serão baptizados com o epíteto de "O Novo Eusébio"?!
Fabrice Akwá foi um desses nomes que, por razão de um arranque de carreira promissor, logo ficou carimbado com a imagem do “Pantera Negra”. Fosse pelo que fazia no Nacional de Benguela ou pelos 17 anos com que conseguiu estrear-se na selecção de Angola, o futuro do jovem avançado passou a ser projectado com enorme brilhantismo. Porém, a verdade é que no Benfica, talvez pela pressão gerada em seu torno, talvez por falta de um acompanhamento devido a um atleta de tão tenra idade e, com maior certeza, talvez pela grande instabilidade vivida no emblema lisboeta por altura da sua chegada, o atleta não conseguiria corresponder às expectativas criadas.
O trajecto de Akwá em Portugal acabaria por ser um tanto ou quanto cinzento. No Benfica de 1994/95 e no de 1995/96 raras haveriam de ser as vezes em que teria uma oportunidade para mostrar o seu valor. Sobrou-lhe o Alverca, à altura o clube satélite dos "Encarnados", para onde seria enviado com o intuito de ganhar traquejo. Seguir-se-ia, na derradeira temporada do ponta-de-lança em provas lusas, a campanha de 1997/98 com as cores da Académica de Coimbra.
Após quatro anos em Portugal, o avançado tomaria a decisão que viria a mudar o rumo da sua carreira e que ajudaria a consagrá-lo como um dos melhores futebolistas na história do seu país. Muito acima das almejadas contrapartidas financeiras, Akwá encontraria no Médio Oriente, em termos desportivos, uma verdadeira rampa de lançamento para a sua carreira. No Qatar, onde viria a jogar por 7 anos e onde representaria o Al-Wakrah, a Al Ittihad e o Qatar SC, o atacante viveria as melhores épocas do seu trajecto competitivo. Paralelamente aos títulos ganhos, onde estão incluídos os de Melhor Marcador do Campeonato, emergiriam uma série de participações em competições internacionais pela equipa nacional angolana. Nesse sentido, sem querer menosprezar as 3 participações na CAN (1996, 1998 e 2006), o momento áureo ao serviço dos "Palancas Negras" e, porque não dizê-lo, em toda a sua carreira, haveria de estar relacionado com a única presença de Angola num Mundial de futebol.
Tendo como último encontro na Fase de Qualificação para o Campeonato do Mundo de 2006 uma partida no Ruanda e com Angola obrigada a vencer o dito jogo para, à frente da poderosa Nigéria, garantir o primeiro lugar no grupo, tudo nesse cenário revelar-se-ia de capital importância. O encontro desenrolar-se-ia de forma bem mais difícil do que o embate contra o último classificado faria prever. Jogava-se um pouco aos repelões e o futebol, resultado do muito nervosismo, era praticado de forma atabalhoada, demasiado musculado e, por vezes, sem grande sentido. Já com o fim da peleja a avizinhar-se, Akwá, em plena grande área adversária, num pontapé fortíssimo, acabaria a introduzir a bola nas redes da equipa ruandesa, assegurando, com o remate certeiro, a vaga no certame realizado na Alemanha.
Já depois de regressar ao país natal, onde, no Petro de Luanda, viria a terminar a carreira de futebolista, Akwá, sempre com a mente no desenvolvimento do desporto angolano, decidiria dar um rumo diferente à vida. Integraria as listas do MPLA às eleições ao Parlamento e acabaria por ser eleito como deputado pelo seu partido.

320 - EMMANUEL MABOANG

Dos jogos de rua para a equipa do liceu e já ao serviço do clube da sua cidade, o AS Bafia, o futebol de Emmanuel Maboang ia evoluindo a olhos vistos. Sem nunca esperar muito daquilo que, para si, era apenas um prazeroso passatempo, um dia viu surgir a oportunidade para ingressar num dos "gigantes" do seu país - "Nunca pensei que fosse muito avante. Então, um dia, alguém viu-me jogar e tratou de tudo para que eu fosse para Yaounde. Lá cheguei sem nada. Mas, obviamente, eu era um bom jogador e pediram-me para me juntar ao Canon Yaounde, que era uma das equipas topo no país"*.
Desses episódios iniciais à estreia na selecção dos Camarões foi apenas um pequeno passo. Seguiram-se as presenças na CAN de 1990, repetida passados 2 anos, e o Mundial de Futebol disputado em Itália. No entanto, mesmo ao contar com alguma experiência internacional, Emmanuel Maboang, um jovem de 21 anos, tal como alguns dos companheiros de equipa, veria a convocatória para o certame de envergadura global a soerguer algum receio e a estreia frente ao conjunto campeão em título tornar-se-ia numa experiência um tanto arrebatadora – "Lembro-me antes do jogo contra a Argentina. Eu só esperava que o treinador não chamasse pelo meu nome, pois eu estava demasiado nervoso"*.
A prestação dos "Indomitable Lions" haveria de ser excepcional, com a equipa nacional camaronesa, para além de vencer a partida inaugural, a conseguir a proeza de atingir os quartos-de-final, algo nunca antes alcançado por uma selecção vinda de África. Depois dessa gloriosa caminhada, que apenas terminaria aos pés da Inglaterra de Lineker, Gascoine, entre outros, muitos dos nomes que nela participaram, começariam a ser cobiçados no "Velho Continente". Emmanuel Maboang haveria de ser um deles e o médio-ofensivo acabaria a aterrar em Portugal, para ingressar no plantel de 1991/92 do Portimonense.
 Um ano depois da chegada ao Algarve, o atleta rumaria a norte para envergar as cores do Rio Ave. Contudo, apesar do talento, da maneira excepcional como comandava as manobras ofensivas das suas equipas, nada haveria de servir como argumento para que conseguisse chegar ao patamar devido, ou seja, a 1ª divisão. Um pouco desiludido pelo rumo da sua vida desportiva, já depois de participar no Mundial de 1994, realizado nos Estados Unidos da América, Emmanuel Maboang, após uma passagem pelo futebol indonésio e sem ainda completar 30 anos de idade, decidiria pôr um ponto final na sua carreira. “Penduradas as chuteiras” e convencido que a ganância a imperar no futebol tem de ser combatida, o antigo internacional resolveria enveredar pela carreira de empresário e, com tal decisão, passaria a trabalhar pela salvaguarda dos interesses de jovens praticantes em ascensão.

*traduzido do artigo publicado a 11/02/2004, em www.fifa.com

319 - CHIQUINHO CONDE


Ao sair do Maxaquene, o antigo Sporting de Lourenço Marques de Eusébio e Hilário, nem o próprio jogador sonharia que a sua passagem por Portugal iria durar mais de uma década e meia. A sua chegada, em 1987, para representar o Belenenses, encetaria uma belíssima aventura, cujo dado curioso começaria logo por ser o facto de Chiquinho Conde ser o primeiro jogador de Moçambique a transferir-se para Portugal, depois da independência do país. Porém, apesar de um futuro promissor no futebol, o jovem avançado, ao partir para Lisboa, deixaria para trás os estudos no Instituto Industrial de Construção Civil, em Maputo. Por certo nunca terá mostrado grande arrependimento pela escolha, até porque encontraria os "Azuis do Restelo" numa boa fase da sua história, em que a vitória na Taça de Portugal de 1988/89 e as presenças nas provas europeias acabariam por ser prova do sucesso colectivo.
Pela imposição a reger o futebol nacional à altura, ou seja, a lei a ditar apenas dois estrangeiros em simultâneo no campo de jogo, Chiquinho Conde, atrás do intocável Mladenov passaria a ser um dos elementos que, em Belém, passaria a lutar por esse segundo lugar. Talvez por essa razão, o próximo passo do avançado empurrá-lo-ia para uma aventura bem mais a norte. Em Lisboa ficavam os bons resultados desportivos, a boa impressão deixada e alguns momentos curiosos, como o do rigor de John Mortimore a proibir os atletas de usarem calças de ganga! Já no plantel de 1991/92 do Sporting de Braga, a mudança de treinador perto do final da temporada, ditaria a sua dispensa. No entanto, como é hábito dizer-se, "há males que vêm por bem" e o pequeno desaire vivido no Minho dar-lhe-ia a oportunidade para encontrar nova sorte.
A mudança dar-se-ia novamente em direcção à Estremadura, mas dessa feita para a cidade piscatória de Setúbal. No Vitória Futebol Clube a partir da campanha de 1992/93, Chiquinho Conde formaria com Yekini, primeiro no segundo escalão e, já na época seguinte, na divisão maior, uma temível dupla atacante. Com todos os predicados futebolísticos do avançado, isto é, a velocidade, a força e a apetência para bom concretizador finalmente confirmados, o internacional moçambicano passaria a ser uns dos atacantes mais cobiçados. A quem não passaria despercebido seria a Carlos Queiroz que, para a temporada de 1994/95, indicaria o avançado como reforço do Sporting. Nos “Verde e Branco”, muito para além da Taça de Portugal conquistada em 1994/95, o atleta acabaria por ser envolvido na tentativa de apaziguamento da contenda nascida da polémica saída de Mauro Soares do Restelo em direcção a Alvalade. O problema é que, segundo chegaria a ser veiculado, nem o já referido treinador dos “Leões”, nem João Alves, o técnico do Belenenses, chegariam a ser ouvidos no aludido negócio. Como é lógico, o resultado seria negativo e ao fim de uns meses o atacante deixaria os “Azuis” e abalaria, mais uma vez, com destino a Setúbal.
Junto à foz do Rio Sado, Chiquinho Conde veria nova chance a surgir-lhe. A chamada surgiria do outro lado do Oceano Atlântico, mais precisamente nos Estados Unidos da América. Com a viagem, o atleta entraria na edição de 1997 da Major League Soccer, através dos New England Revolution. Porém, muita coisa, desde os métodos de treino ao próprio ambiente vivido no seio das equipas, haveria de parecer estranho ao atacante – "estava na Florida, em Tampa Bay, e fomos jogar a Los Angeles. Fizemos uma viagem de cinco horas, com uma diferença horária de três horas, almoçámos às nove da manhã e jogámos ao meio-dia. Levámos cinco golos e no regresso vinham todos contentes no avião. É claro, não estava habituado àquela situação e disse logo para comigo: «Não, tenho de voltar para Portugal»"*.
Com 32 anos e com a fase descendente da carreira no horizonte, o regresso aos "Sadinos" correria de feição. Mais uma vez a formar uma dupla atacante com Yekini, o avançado ajudaria o Vitória Futebol Clube a atingir os lugares de acesso às competições sob a alçada da UEFA. Já depois de sair de Setúbal, o seu trajecto, ainda com passagens por algumas colectividades, entraria no normal declínio. “Penduradas as chuteiras”, Chiquinho Conde, o primeiro jogador moçambicano a marcar presença em 3 edições da CAN, dedicar-se-ia às funções de técnico, as quais levá-lo-iam, recentemente e após outras experiências, a assinar contrato pelos moçambicanos do Vilankulo FC e, pasmem-se, só por dez anos!

*retirado da entrevista de Paulo Quental, publicada a 05/12/1999, em www.record.pt

318 - LAMPTEY

Tudo no começo da sua carreira prometeria sucesso. Fossem os 16 anos aquando da primeira partida na Liga belga, tornando-se, por essa razão, no atleta mais jovem de sempre a conseguir tal estreia, fosse a conquista do Mundial sub-17 de 1991, onde, com 4 golos e empatado com o brasileiro Adriano, haveria de ser o Melhor Marcador do torneio; fosse ainda pela Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de 1992 ou por razão do segundo lugar no Mundial de sub-20 de 1993, Nii Lamptey tornar-se-ia num dos jovens futebolistas que, no início dos anos de 1990, acabaria empurrado para a ribalta. O destaque seria tanto que haveria de ser apelidado como o "Novo Pelé". No entanto, esse arranque auspicioso não passaria disso mesmo e o primeiro passo em falso terá sido dado, provavelmente, com a decisão de deixar o clube que o albergava desde os 15 anos, o Anderlecht.
O destino levá-lo-ia à colectividade com ligação à Philips, o PSV Eindhoven. A temporada passada pelo médio-ofensivo nos Países Baixos até correria de feição e ajudado pela apetência para o golo, o ganês, depois dessa campanha de 1993/94, rapidamente começaria a ser cobiçado por emblemas de campeonatos maiores. Tendo em conta as boas exibições conseguidas, a transferência para o Aston Villa dar-lhe-ia a oportunidade para disputar a Premier League. Todavia, muito acima da vontade do jogador em mudar-se para outro cenário competitivo, haveriam de estar, segundo o especulado à altura, os interesses financeiros do seu empresário, o qual detinha uma percentagem do seu “passe”. A ida do jogador para Inglaterra, numa senda em que nunca demonstraria o real valor dos seus dotes, encetaria uma caminhada que tomaria os contornos de uma errância gigantesca. Seria durante essa fase, com experiências em diversas agremiações, países e continentes que passaria por Portugal. Tal como nas outras colectividades, na União de Leiria o desempenho de Lamptey seria bastante discreto e a sua passagem pelas provas lusas terminaria com pouco mais de uma mão cheia de partidas.
 Depois de uma vida nos relvados que só não o levaria à Oceania, Lamptey, em 2008, decidir-se-ia pela "reforma". Entretanto passaria a assumir as funções de técnico e actualmente, de volta ao Gana, ocupa as funções de treinador-adjunto no Sekondi Wise Fighters.

317 - N'KONGOLO

Transferido do futebol belga - FC Liègeois - para representar um Sporting de Espinho orientado, na temporada de 1987/88, por Quinito, seriam também as mãos do treinador português que, para o jogador, abririam as portas do Estádio das Antas.
Fascinado pelo potencial físico do defesa internacional pelo Zaire, actual República Democrática do Congo, o referido técnico, que já tinha dado o aval à sua contratação enquanto timoneiro dos "Tigres da Costa Verde", passado apenas um ano sobre a sua chegada a Portugal, veria nele um bom reforço para o acompanhar na aventura pelo FC Porto. Porém, nem mesmo a presença do central na edição de 1988 da Taça de África das Nações, disputada em Marrocos e com o atleta ao lado de nomes bem conhecidos do desporto nacional, casos de N'Dinga, Tueba ou Basaúla, convenceria os responsáveis pelos "Dragões" a dar mais algumas hipóteses ao atleta.
Depois dessa época de 1988/89, onde, mesmo assim, conseguiria disputar, nas provas nacionais, um número bem razoável de partidas, Kalombo N'Kongolo haveria ser considerado como excedentário e seria posto na lista de dispensados. Ao regressar ao Sporting de Espinho, aí disputaria as próximas temporadas até que, para a campanha de1992/93, decidiria rumar a sul e ao Atlético Clube de Portugal. Já ao serviço do clube "alfacinha" aconteceria uma tragédia. Sem grande explicação e sem que nada o fizesse prever, uma embolia cerebral ceifaria a vida deste jovem, contava ele apenas com 31 anos de idade.

CAN & PORTUGAL, parte II

Por razão do acerto de calendário, que pretende evitar a disputa da CAN no mesmo ano em que se organizam os Mundiais de futebol, a Taça de África das Nações volta a realizar-se, depois da edição do ano transacto, em 2013. Aproveitando este facto, o "Cromo sem caderneta" decidiu completar aquilo que em Janeiro passado demos início. 
Deste modo, durante este mês, voltaremos a recordar alguns dos atletas que, tendo disputado a dita competição africana de selecções, também trilharam parte da sua carreira em Portugal. Assim, as próximas semanas serão de "CAN & Portugal"!