257 - VÍTOR BATISTA

No primeiro dia na "Luz", na apresentação aos adeptos, intitulou-se "O Maior". Já na partida onde marcou último golo pelo Benfica, um monumental remate à entrada da grande-área do Sporting, pôs toda a gente à procura de um brinco perdido durante os festejos, impedindo o normal reinício da partida. Pelo meio, muita luta ao jeito de "Dr.Jekyll and Mr. Hyde", entre uma personalidade conturbada e o génio do futebol.
Nascido em meio desfavorecido na cidade de Setúbal, desde muito cedo começou a sublinhar a sua personalidade. Ora a vaguear pelo meio de prostitutas, para quem, como o próprio contou, era moço de recados; ora a participar em pequenos torneios da bola, o miúdo Vítor já era uma figura de destaque. Quem primeiro deitou a mão ao pequeno craque, foi o Vitória Futebol Clube. No emblema sadino começou a vincar a sua marca no mundo do desporto nacional. A aferir o seu crescimento, logo emergiu a conquista da Taça de Portugal de 1966/67, durante a qual, com apenas 18 anos de idade, teve um papel de grande importância. Por fim, na última época do avançado no Bonfim, o brinde do jogador aos adeptos do emblema setubalense, com os 22 golos concretizados no Campeonato Nacional.
Fez-se sempre acompanhar de uma boa dose de excentricidade e tantas as histórias para contar, como aquela em foi apanhado pelos colegas em frente a um espelho e a perguntar – "Ó meu Deus, porque me fizeste tão belo?"*. Ainda assim, o "gargantas", alcunha ganha por razão de uma imensidão de episódios semelhantes ao relato, começou por ser cobiçado por Sporting e Benfica. Depois de apalavrado com os “Leões”, virou-se para o outro lado da 2ª circular, onde o clube, para contratar o jogador, fez, à altura, o maior esforço financeiro da história do futebol luso. 3 mil contos, mais 750 de "luvas" para o atleta, e a cedência de três atletas – José Torres, Matine e Praia – fizeram o negócio. De seguida veio aquilo que já destapei: lances e golos de levantar estádios, cães presos à baliza durante os treinos, a adoração do público, grandes bólides com "chauffeur", muito futebol e outros tantos vícios.
Foram mesmo as dependências que, após terminada a carreira, levaram Vítor Batista ao mundo do crime. Condenado por roubo, cumpriu pena. Muitos foram os que, por essa altura, tentaram ajudá-lo… em vão! Pouco sobrou do futebolista que, no Estádio da Antas, por marcar 3 golos ao serviço dos "Sadinos", ganhou de aposta o isqueiro de ouro ao seu treinador, José Maria Pedroto. A toxicodependência e o álcool deixaram-no, até à morte aos 50 anos, na maior das misérias. Restou a memória de um enorme futebolista e também, como recordou o seu grande amigo e colega no Vitória de Futebol Clube, Fernando Tomé – "um bom coração. No regresso a Setúbal, depois de jogar no Benfica, não quis jogo de apresentação. Preferiu uma tourada, que ele próprio organizou. A receita, fez saber, seria metade para ele e metade para o Asilo Paula Borba. Mas nunca houve tourada porque se esqueceu de arranjar os touros"*.

*retirado do artigo de Mário Pereira, publicado em Outubro de 2008, em https://www.cmjornal.pt

2 comentários:

charouco disse...

Bem delineada a Historia do Vitor....era bom se calhar acrescentar...que junto á miséria que o levou,iam alguns cheques sem cobertura,desse clube da camisola azul....e o nome de alguns politicos que se aproveitaram do nome dele,para ganhos eleitorais..prometendo-lhe e não lhe dando......DESCANSA EM PAZ..meu velho amigo...sei que não lhes queres mal...e tambem morrem...

cromosemcaderneta@gmail.com disse...

Pelo que tenho lido, principalmente pelos depoimentos de antigos colegas, o Vítor Batista, muito para além daquilo que aparentava para o público em geral, com toda aquela ostentação, era um Homem genuinamente generoso, ao ponto de ser ingénuo. Infelizmente, gente assim, de bom coração, muitas vezes deixa-se rodear por gente impostora que não interessa ao diabo, e que apenas querem tirar para eles alguns dividendos dessas mesmas relações. Pelo o que nos conta, foi isso mesmo que aconteceu ao seu amigo Vítor Batista.