240 - ARTUR JORGE

Confesso adepto portista, foi no emblema do "Dragão" que Artur Jorge, depois de uma passagem pelo Académico do Porto, completou a formação como futebolista. Contudo, apesar do jeito incontornável para o "jogo da bola", o seu horizonte ocupou-se sempre com objectivos muito mais amplos do que aqueles que o desporto oferecia. Por isso, apenas um ano após a sua subida à equipa principal do FC Porto, onde acabou por jogar pouco, o avançado preferiu rumar à "Cidade dos Estudantes" para representar a Académica e, desse modo, dar seguimento aos estudos.
Em Coimbra, para além de frequentar a Universidade, Artur Jorge começou a destacar-se nos relvados à custa da capacidade mortífera que tinha para aparecer na área contrária. Na sequência das boas exibições, conquistou a primeira chamada à selecção na temporada de 1966/67. Época que coincidiu com a bela campanha da Académica no Campeonato Nacional, onde os “Estudantes”, ao terminarem a prova apenas a 3 pontos do Benfica, desafiaram os “Encarnados”, até ao último minuto, na disputa pelo referido título.
 Apesar de todos os momentos inolvidáveis passados com as cores da “Briosa”, um dos episódios mais curiosos por que passou, viveu-o na temporada de 1965/66, a de estreia em Coimbra. Num encontro frente às "Águias", chocou fortuitamente com o "Pantera Negra" provocando um traumatismo craniano ao astro benfiquista, que acabou por ser conduzido ao hospital – "(...) foi aí que percebi que o Eusébio era humano”*.
Passados alguns anos e já a jogar ao lado de Eusébio, Artur Jorge conseguiu consagrar-se, nas temporadas de 1970/71 e 1971/72, como o Melhor Marcador do Campeonato Nacional. Seria também em 1972, ainda sob o regime fascista, que, juntamente com outros colegas de profissão, fundou e presidiu ao Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. De resto, na "Luz" viveu os melhores anos como futebolista, conquistando, para além dos prémios individuais já referidos, 4 Campeonatos e 2 Taças de Portugal. Só não foi mais longe, pois as lesões que o apoquentaram antes de atingir os 30 anos de idade – foi operado cinco vezes a um joelho – não o deixariam alcançar o prometido auge. Para cúmulo, seria mesmo uma perna partida durante um treino, representava então o Belenenses, que determinou o fim da sua carreira.
Depois das derradeiras épocas passadas no Restelo, durante as quais fez um pequeno interregno para dar uma "perninha" nos norte-americanos do Rochester Lancers, Artur Jorge assumiu-se como treinador. Ainda com poucos anos de experiência na função, foi contratado para o comando da equipa principal do FC Porto. O risco que Pinto da Costa acabou por correr, ficou mais que justificado, pois, para além dos 2 Campeonatos vencidos, o técnico tornou-se no timoneiro dos "Azuis e Brancos" na vitoriosa campanha que terminou a 27 de Maio de 1987, com o erguer da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Foi a partir dessa conquista que Artur Jorge ganhou alguma projecção internacional, conseguindo, logo de seguida, uma transferência para o Racing de Paris, clube propriedade da marca de automóveis Matra. No entanto, se essa sua primeira passagem pela capital francesa não trouxe troféus, já a segunda, depois do Campeonato ganho pelo FC Porto em 1989/90, acabou por ser bem mais proveitosa. Ao dar continuidade a esse vaivém entre e Portugal e França, já no PSG, venceu uma Taça de França e a Ligue 1. Ainda assim, o acréscimo de notoriedade que as novas vitórias trouxeram à sua carreira, não foram suficientes para sustentar o passo dado em seguida.
Novamente de regresso a Portugal, dessa feita ao Benfica, decidiu orquestrar uma "limpeza" num balneário que acabava de ser campeão. Claro que, com bons resultados desportivos, a sua decisão até podia ter sido esquecida. No entanto, os números foram bem diferentes daqueles esperados com a revolução perpetrada e Artur Jorge saiu do emblema que verdadeiramente o catapultou no futebol, sem glória e, até aos dias de hoje, apontado pela massa adepta como um dos principais responsáveis pelos negros anos que se seguiram na história do clube. Daí para a frente, pouco mais sustento desportivo tirou da sua actividade profissional. Destacaram-se, ainda assim, a presença no Euro 96, à frente da selecção da Suíça, a Taça das Taças Asiáticas que ganhou com os sauditas do Al Hilal e os quartos-de-final atingidos na Can 2006, como seleccionador dos Camarões.

*retirado de “101 Cromos da Bola”, Lua de Papel, Rui Miguel Tovar, Março de 2012

1 comentário:

Nuno disse...

o seu grande 'amor' sempre foi a Académica ... ponto final!