212 - SABRY

Adquirido ao Tirol Innsbruck, andava o extremo há poucas semanas pela Grécia quando ao seu clube, o PAOK, calhou em sorteio, na 2ª ronda da Taça UEFA, o Benfica. A equipa de Sabry, numa eliminatória caricata, acabou por ficar para trás, mas o avançado, ao fazer um golo no Estádio da “Luz” e numa altura em que todos os jogadores que aí marcavam nas competições europeias eram contratados pelo emblema lisboeta, apareceu, logo na abertura do “mercado de Inverno”, de “Águia” ao peito.
Num conjunto que contava com Poborsky na direita, muitos, ao verem a equipa coxa na ala canhota, pensaram na chegada de Sabry como capaz de trazer algum equilíbrio ao ataque benfiquista. De início, a contratação ainda serviu para alimentar tal ilusão. É que, para além de um currículo onde pontuava a vitória na CAN de 1998, o atacante começou por deliciar o público com estonteantes fintas ou com livres-directos certeiros, como aquele marcado a Peter Schmeichel, aos 88 minutos do “derby” disputado em Alvalade e que, ao provocar a derrota do Sporting, adiaria os festejos do título leonino de 1999/00 para a derradeira jornada.
O pior veio depois! Já com José Mourinho a orientar o Benfica, a falta de concentração demonstrada em campo, que, para além de fazer o avançado perder muitos lances, o levava, demasiadas vezes, a ser apanhado em fora-de-jogo, fizeram o treinador português afastá-lo das suas opções. Para juntar a todas as falhas relatadas, episódios como o de Paços Ferreira, em que, como lembrou técnico, “demorou oito minutos a ajustar as caneleiras antes de entrar em campo”*, ditaram o seu fim na “Luz”.
Por Portugal andou mais uns anos, onde, por empréstimo das “Águias” e sem conseguir justificar o regresso à “casa-mãe”, ainda representou o Marítimo e o Estrela da Amadora. Já a carreira terminou-a a rondar os 36 anos, já de volta ao seu país, e onde, por razão de não ter cumprido o Serviço Militar Obrigatório, acabou “forçado” a representar o emblema do Exército, o modesto El Geish!
 
*retirado do artigo publicado em https://www.record.pt, a 11/11/2000

211 - AMUNIKE

Transferido dos nigerianos do Julius Berger, clube pelo qual ganhou o seu primeiro Campeonato Nacional, foi no Egipto, ao serviço do Zamalek, que Amunike despoletou para o estrelato. Três anos de crescimento no seio dum dos históricos balneários africanos, alguns títulos e, principalmente, a presença em certames desportivos de peso, permitiram-lhe consolidar o seu futebol, ao ponto de começar a despertar a cobiça de alguns emblemas europeus.
Segundo consta, foi por essa altura que Sousa Cintra ficou consciente de estar à beira de perder o concurso pelo extremo nigeriano. Como último recurso, tomou a decisão de entrar num avião e ir ao Cairo resgatar o jogador da, quase certa, transferência para um emblema alemão. Para adocicar o episódio, veicularam-se as negociações pela noite dentro, com atribulações pouco normais e perigosos desentendimentos entre os dirigentes egípcios. Depois, já acertado o acordo, o relato de alguns enviados do tal clube germânico que, com uma abordagem feita no aeroporto, teriam tentado desviar o atleta do destino “verde e branco”.
Está bem, os factos até poderão ter sido um pouco romanceados! No entanto, o jogador, tido como a grande revelação de 1994, justificava, sem dúvida, todo o esforço feito pelo antigo Presidente leonino. Com o valor em alta, as razões da sua cotação, por altura da contratação pelo Sporting, já tinham extravasado o seu papel preponderante na conquista do bicampeonato egípcio. Sem diminuir o episódio, importante sem dúvida, para tocar naquilo que realmente catapultou o avançado, há que falar no que alcançou pela selecção. Por um lado, temos a conquista da edição desse ano da CAN, onde, apesar de só ter jogado a final, marcou os dois golos que, na vitória por 2-1 frente à Zâmbia, entregaram o troféu à Nigéria. Temos ainda que recordar o seu papel no Mundial organizado nos Estados Unidos da América, onde disputou todas as partidas e ajudou as “Super Eagles” a chegar aos quartos-de-final.
Foi logo após vencer mais um troféu pela equipa nacional da Nigéria, a Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos realizados em Atlanta, que o avançado deu o grande salto na carreira. No FC Barcelona, na temporada de 1996/97, apesar de cumprido o sonho de jogar por um dos “colossos” mundiais, o avançado, à custa de uma grave lesão, acabou por viver um penoso calvário. A partir desse momento, nunca mais conseguiu impressionar o futebol com a habitual pujança, técnica e velocidade. Em abono da verdade, nem no Albacete, nem nos sul-coreanos do Busan, nem mesmo na Jordânia ao serviço do Al Wihdat, Amunike voltou a ser o mesmo portento de força e talento.
Terminada a sua vida nos relvados e após de ter passado, como "olheiro", pelo Manchester United, Amunike regressou ao país natal para embarcar numa nova etapa, a de técnico-principal de futebol.

210 - ERIC TINKLER

Era praticamente um desconhecido quando, em 1990 e vindo dos "Estudantes" do Bidvest Wits, chegou a Portugal para representar o União de Tomar. Apesar de não ter um grande currículo no mundo futebolístico, o risco de trocar o emblema sul-africano, primodivisionário, por um que jogava na 2ª divisão “b”, era bem representativo da vontade de Eric Tinkler em jogar na Europa. Mais do que ninguém, o jogador conhecia a sua força, a capacidade que tinha para vencer e subir na carreira. Desse modo, 2 épocas passadas no nosso 3º patamar foram suficientes para que a faceta lutadora e poder físico do médio chamassem à atenção de emblemas de maior prestígio.
A ligação que, de seguida, formou com o Vitória Futebol Clube pareceu perfeita. Por um lado, os “Sadinos” ganharam um verdadeiro "pulmão" no centro do terreno. Já Eric, com a chegada a Setúbal, passou a ter uma maior visibilidade em termos internacionais. Com a referida união a dar frutos, o primeiro grande prémio veio em 1994, aquando da chamada do jogador à equipa nacional da África do Sul. No seguimento dessa estreia, já como um elemento nuclear dos "Bafana Bafana", chegou a edição de 1996 da CAN. A titular, ajudou a selecção a galgar etapas no torneio. Sem sair do “onze”, disputou a final esgrimida em Johannesburg e, como pilar do sucesso alcançado, contribuiu para a primeira vitória do seu país no referido certame.
 Após a passagem de um ano pelos italianos do Cagliari e a representar o Barnsley, repetiu, em 2000 e 2002, a participação na Taça das Nações Africanas. Mas voltando atrás, à senda clubística, há que ter em conta que a experiência na Sardenha resultou numa despromoção da equipa para a Serie B. Também a estreia em terras britânicas teve idêntica sorte, com o emblema inglês a terminar a temporada de 1997/98 como um dos nomes relegado ao escalão secundário. Dessa feita, mesmo com a descida, Eric Tinkler acompanhou o grupo e continuou a desempenhar um papel importante no seio do plantel. Porém, a tal preponderância acabou afectada, quando lesões graves, primeiro uma hérnia e depois uma ao nível da tíbia e joelho, afastaram o médio dos relvados, por longos períodos de tempo.
Apesar de recuperado, a direcção do Barnsley achou que a condição física de Eric não oferecia segurança e que não era suficiente para dar continuidade a um dos contratos mais dispendiosos para o clube. Com a dispensa, o centrocampista voltou a jogar em Portugal. O Caldas, entre a temporada de 2002/03 e a de campanha de 2004/05, acabou como a colectividade escolhida para antecipar o derradeiro passo como atleta. O fim da carreira de futebolista foi dado em 2007 e depois de, 2 anos antes, ter regressado ao clube onde tinha dados os primeiros passos como sénior.
Hoje em dia, é ainda no Bidvest Wits que Eric passa os dias, mas agora em outras funções, a de treinador-adjunto.

209 - WILLIAM

Depois de ter conseguido um Campeonato pelo clube da terra natal, o Union Douala, e de uma presença na CAN de 1992, enquanto representava, por empréstimo do clube acima referido, o Olympique Mvolyé, William Andem decidiria atravessar o Atlântico. Ao chegar ao Brasil em 1994, longe estaria o guardião de pensar que o resto da sua carreira, ainda a muitos anos de terminar, a partir dali só avançaria sob a égide da "língua de Camões"
O primeiro passo dessa aventura pela "lusofonia" seria dado em Belo Horizonte, no Cruzeiro. Apesar do salto positivo que a mudança de ares poderia fazer crer, a verdade é que a nova experiência não começaria da melhor maneira. Ora vejamos! Se ter Dida como colega de equipa já é razão para que as oportunidades não sejam muitas, pior ainda quando, ao vê-las surgir, as ocasiões são desperdiçadas naquilo que, para o internacional camaronês, acabaria como um dos episódios mais polémicos vividos nos relvados. Bem, a história conta-se depressa! Numa partida frente o Atlético Mineiro, depois de o árbitro ter interrompido o jogo, um avançado contrário decide fintar William. O guardião, intempestivamente, travaria a provocação a pontapé. Não satisfeito com o acontecido, responderia com um valente soco ao “tirar de esforço” de um dos adversários, deixando-o "knock out"! Como é lógico, expulso, acabaria por sair mais cedo do relvado.
Já a oportunidade em Portugal acabaria por surgir depois uma temporada bem conseguida, mais uma vez por empréstimo, no Esporte Clube Bahia. A chegada à cidade do Porto, logo após a convocatória para o Mundial de 1998, levá-lo-ia ao Boavista. Mesmo com o estatuto de internacional a dá-lo como o favorito ao lugar à baliza, a verdade é que a sua presença no “onze” haveria de ser algo inconstante. William alternaria épocas em que os reflexos e estiradas elásticas fariam dele titular indiscutível, com outras em que o banco de suplentes passaria a ser o seu lugar. Ainda assim, a entrega ao clube “axadrezado” fá-lo-ia, depois da presença na edição de 1996, recusar a participação na CAN 2000 que, ironicamente, consagraria a selecção dos Camarões como vencedora!
Apesar de, periodicamente, ter dado uns "frangos" escandalosos, William tem um lugar reservado na história do Boavista. Nesses 9 anos de "Pantera" ao peito, o guardião teria um papel fulcral nos sucessos do colectivo. Com mais de centena e meia de partidas disputadas no escalão maior, o atleta, para além de fazer parte do plantel que conquistaria a Supertaça Cândido de Oliveira de 1997/98, ajudaria também a vencer, apesar da condição de suplente, o Campeonato Nacional de 2000/01.
William terminaria a carreira, mesmo à beirinha dos 40, na divisão de Honra e ao serviço do Feirense.

208 - MEDANE

A sua baixa estatura, 1,68m, facilmente daria azo a muitas alcunhas. No entanto, não há quem seja apelidado como "O Maradona” apenas por ser pequeno!
A realidade é que a competência de Medane nunca foi, por certo, comparável à forma excepcional do astro argentino. Também não é menos verdade que, desde cedo, conseguiu chamar a atenção da prospecção dos maiores emblemas argelinos. Ora, foi por razão da sua precoce habilidade que, num pequeno torneio de futebol, acabou listado pelos "olheiros" do IR Hussein Dey, como um bom reforço.
Bem cedo, também começou a subir degraus. Nesse sentido, com 16 anos apenas e depois de transferido para o USM El Harrach, Medane fez a estreia no patamar sénior. Mesmo com um começo temporão, o primeiro título da sua carreira só aconteceu, sensivelmente passados 5 anos, aquando da vitória na Taça da Argélia. O troféu conquistado, numa final onde foi do atleta o único golo da partida, acabou por projectar a sua imagem para uns patamares acima. Esse acréscimo no seu valor, juntamente com as internacionalizações "A" que já contava desde os 19 anos, empurrou-o para voos maiores. O salto fê-lo enriquecer o currículo e, em 1991, quando aterrou em Portugal vindo do “gigante” JS Kabylie, o seu palmarés já carregava a participação na CAN de 1986, o 3º lugar alcançado na edição de 1988 do mesmo torneio, 1 Campeonato Nacional e 1 Taça dos Clubes Campeões Africanos.
Como atleta do Famalicão e, posteriormente, numa breve passagem pelo Salgueiros, as suas exibições nunca ficaram próximas daquelas que, no seu país natal, o tornaram numa grande “estrela”. Apesar de continuar a mostrar um técnica bem acima da média, jamais conseguiu, durante os 5 anos que andou pelas provas portuguesas, ser titular indiscutível. Por essa razão, não foi estranha a decisão de regressar ao seu país. De volta à Argélia, acabou a caminhada de futebolista de novo no JS Kabylie, mas, não sem antes ajudar, naquela que foi a última partida da sua carreira, a erguer o troféu da edição de 2000 da Taça CAF.

207 - M'BOUH

Depois de uma bela prestação na época anterior, os responsáveis pelo Vitória de Guimarães decidiram que a temporada de 1990/91 merecia um investimento extra. Para além de reforçarem o ataque com o tunisino Ziad, outro dos nomes sonantes contratados acabou por ser o de Emile M'Bouh, uma das estrelas da selecção camaronesa que, fazia pouco tempo, tinha tido uma prestação brilhante no Mundial de Itália.
O médio era conhecido como um atleta de uma resistência tremenda, como exímio nas transições defesa/ataque, ou seja, um homem incansável, capaz de correr o meio-campo de lés-a-lés. A verdade é que, por estranho que pareça, os bons predicados foram insuficientes. M’Bouh nunca conseguiu impor-se no “onze” vimaranense e nem o facto de ter chegado já depois do arranque do Campeonato pareceu justificar a inaptidão. Pior ainda. Depois de um primeiro ano em que ainda jogou algumas partidas, a perspectiva de uma segunda temporada de melhor nível esfumou-se quando o atleta, por razão do excesso de estrangeiros, viu o seu nome incluído na lista de dispensas. Foi, então, emprestado ao Benfica de Castelo Branco, mas no final da campanha de 1991/92 o centrocampista acabou mesmo por partir sem nunca, em Portugal, ter demonstrado o seu real valor.
Aliás, algo que caracterizou grande parte da sua carreira foi o facto de nunca ter tido, nem em França, nem na Suíça, nem nas suas passagens pelo Qatar, Malásia ou Indonésia, grandes prestações a nível de clubes. Já pela selecção, a história é outra! A constância das suas exibições levou-o a conseguir ultrapassar a barreira das 100 internacionalizações e a envergar a braçadeira de “capitão”. De entre todas essas partidas pelos "Lions Indomptables", destacaram-se as disputadas nos Mundiais de 1990 e 1994 e, ainda, a participação na CAN de 1988, de onde sairia campeão e eleito para o “melhor onze” do certame.
Já depois de ter "pendurado as chuteiras", decidiu manter-se ligado à modalidade. Emigrou então para os Estados Unidos da América e, juntamente com o seu irmão, abriu uma escola de futebol, a "Emile Star Soccer", na qual tem dedicado o seu tempo à formação de jovens futebolistas.

206 - ZIAD

Era já um jogador sobejamente conhecido no seu país quando, no Verão de 1990, aterrou em Portugal. No entanto, não só o facto de ser filho de Abdelmajid Tlemçani, uma das maiores figuras tunisinas da modalidade, conferia ao avançado o estatuto de “estrela”. Também ele já tinha trilhado o próprio caminho no futebol. Com muitos golos marcados e vários títulos conquistados pelo Espérance Tunis – 3 Campeonatos e 2 Taças –, Ziad usufruía da fama de ponta-de-lança implacável.
Aferido como o dono de uma prontidão acutilante, de um sentido posicional raro e de uma elegância singular, todas as suas qualidades, somadas à capacidade de desferir remates mortíferos, eram mais do que suficientes para disfarçar alguma lentidão e uma técnica de finta um pouco aquém do desejado. Ainda assim e com todos os defeitos possíveis, Paulo Autuori já podia contar com o, tão requerido, avançado experiente. Claro está, com o esforço financeiro empregue na sua contratação, as expectativas depositadas em Ziad eram enormes. Mesmo sob uma enorme pressão, o atacante não desiludiu, nem o já aludido técnico brasileiro, nem nenhum dos treinadores que, daí para a frente, comandaram o emblema da "Cidade Berço".
Apesar de uma postura exemplar e da boa relação com todos os que o rodeavam, há um episódio que ficou nos anais vimaranenses. Conta-se que, durante um treino em que o tunisino não estava a corresponder aos pedidos do treinador, na altura Marinho Peres, este último terá dito – "para de moleza Ziad, não és o Maradona”*. Já a resposta do atacante foi – “e tu não és o Zagallo”*.
Com o desentendimento sanado, o ponta-de-lança continuou como um dos indiscutíveis do clube. Todavia o seu estatuto de titular, em Fevereiro de 1995, uma irrecusável proposta vinda da 2ª divisão japonesa, pôs o atleta, que já contava 31 anos, no rumo do Vissel. Com a mudança para a Ásia, o avançado tornou-se no primeiro futebolista africano a jogar no "País do Sol Nascente". Durante 3 épocas encantou os adeptos nipónicos com os seus golos e ao concretizar 25 remates durante a sua segunda temporada, empurraria para a subida ao escalão maior a equipa sediada em Kobe.
De regresso à Tunísia, numa fase em que todos só esperavam o derradeiro passo da sua carreira, Ziad brindaria os adeptos com desempenhos excepcionais. Nessa senda de sucessos, para além da chamada à CAN de 1998, ajudaria, no mesmo ano, o Espérance Tunis na vitória do Campeonato, na conquista da Taça das Taças Africanas e, para embelezar o ramalhete, sagrar-se-ia o Melhor Marcador em ambas as competições.
 
*retirado do artigo de Alberto de Castro Abreu, publicado em http://gloriasdopassado.blogspot.com, a 30/03/2008

205 - TUEBA

Numa altura em que o jogador do Zaire, actual República Democrática do Congo, começava a estar na moda para os lados de Portugal, apareceria no Estádio da "Luz" um jovem médio para treinar à experiência. O seu nome era Tueba Menayane e vinha do AS Vita Club, emblema da capital Kinshasa. Apesar de ser um desconhecido, as suas capacidades físicas, mormente a força e a velocidade, juntas a uma vontade enorme de vencer, convenceriam o técnico britânico John Mortimore, a incluí-lo no plantel da temporada de 1986/87. Contudo, as oportunidades, numa equipa tão rica em jogadores, não seriam muitas. Ainda assim, Tueba, com habilidade para jogar em diferentes posições no meio-campo, saberia aproveitá-las.
Um desses jogos, inesquecível para muitos dos espectadores, seria um Benfica versus FC Porto. A partida, importante por si só, mas agendada 15 dias após a humilhante derrota por 7-1 frente ao Sporting, assumiria um papel de especial relevância anímica. Com Carlos Manuel lesionado, a escolha para ocupar o lugar a meio-campo recairia sobre o zairense. Logo nos minutos iniciais da partida, com uma fulgurante corrida pela ala-direita do ataque benfiquista, Tueba, conseguiria, à linha, um cruzamento certeiro. Rui Águas corresponderia com o 1-0, e o "placard" final, depois do arranque endiabrado, haveria de registar 3-1 para as "Águias".
A jogar em Portugal, Tueba ganharia outra visibilidade na sua terra natal. Com a notoriedade em crescendo, conseguiria ser chamado à estreia na selecção principal. Haveria também de ser incluído nos convocados para os principais certames em que o país participaria. O primeiro, com uma discreta classificação, acabaria por ser a CAN de 1988. Já o segundo, onde o Zaire atingiria os quartos-de-final, seria a edição de 1992 do mesmo torneio.
Por altura da referida última participação na CAN, já Tueba tinha, há alguns anos, deixado o Benfica. No entanto, a paixão pelo país mantê-lo-ia por cá. E se, numa primeira fase, de 1988 a 1993, entre Vitória Futebol Clube, Tirsense, Farense e Gil Vicente, jogaria sempre na 1ª divisão, o resto da carreira, com mais de 10 anos em Portugal, fá-la-ia nos escalões inferiores dos nossos campeonatos.

204 - SYLVANUS OKPALA

Quando a Nigéria decidiu candidatar-se à organização da CAN de 1980, poucos apostariam no nome de Sylvanus Okpala para figurar na lista dos eleitos a participar no certame disputado no país. A verdade é que, com o avizinhar do torneio, o jovem, que já brilhava no Enugu Rangers e até capitaneava a selecção de sub-20, começaria a mostrar-se como uma hipótese a ter em conta. Seria esse valor que levaria o conhecido técnico Otto Glória a incluí-lo na lista dos eleitos. Em boa hora o faria, pois as "Super Eagles" haveriam de vencer o troféu pela primeira vez, reservando, para os membros daquele grupo, um lugar na história do futebol da nação.
Passados alguns anos sobre essa grande conquista, depois de ter vencido Taças e Campeonatos no seu país, Sylvanus decidiria, num tempo em que poucos dos seus conterrâneos tinham tal privilégio, ser a altura certa para tentar a sorte na Europa. A oportunidade surgiria no União da Madeira, emblema que, em 1983/84, disputava a 2ª divisão. Em Portugal continuaria a mostrar ser o jogador que imprimia um ritmo alucinante às partidas, que corria desenfreadamente atrás do esférico e a quem, por essas mesmas razões, carinhosamente baptizariam como "Quicksilver".
Fosse no meio-campo, a atacar ou a defender, ou mesmo no sector mais recuado do terreno, Sylvanus transformar-se-ia no exemplo de uma polivalência bem distante da, tantas vezes alvitrada, falta de categoria. Essas incontestáveis qualidades, passada apenas uma temporada após a sua chegada a Portugal, levá-lo-iam até ao Marítimo. Com um novo contrato, Sylvanus manter-se-ia a jogar na ilha. Aliás, a sua carreira futebolística tem uma curiosidade! É que à imagem de outros atletas, como por exemplo Jokanovic, o internacional nigeriano, por cá, só jogaria em emblemas da Madeira!
Seria mesmo ao serviço do Nacional que, precocemente e com apenas 29 anos de idade, haveria de pôr um ponto final na sua vida nos relvados. Contudo, continuaria ligado à modalidade, como “olheiro” nos mais importantes clubes nigerianos ou como representante de novos atletas. Já em 2011, assumiria as funções de adjunto de Stephen Keshi, na selecção principal do seu país.

203 - KEITA

Espantosamente, logo no ano de estreia pelos seniores do Pionniers Ouolofobougou, o Real Bamako, um dos principais emblemas do Mali, haveria de contratá-lo. Apesar do potencial reconhecido nele, tudo parecia estar a acontecer de forma muito rápida para Salif Keita. A primeira chamada à selecção “A”, no mesmo ano de 1963, só viria acentuar essa ideia. No entanto, o jovem de 16 anos saberia, como ninguém, aguentar toda a responsabilidade e, em abono da verdade, a passos largos, tão depressa quanto tinha aparecido, o seu futebol transformar-se-ia num dos mais cobiçados do seu país natal.
A resposta à sua evolução viria do Saint-Étienne. Mais uma vez, Keita não deixaria atemorizar-se com mudança para o clube, à altura, mais bem cotado de França. Bem, habituado a ganhar já ele estava! Na bagagem trazia alguns Campeonatos ganhos no seu país. Mas tal facto terá ajudado na sua adaptação? Nada indica que não tenha ficado arrebatado com a mudança. Porém, logo na época da sua chegada, para além da forma surpreendente como, com facilidade, conseguiria impor-se no “onze” do emblema gaulês, o avançado tornar-se-ia num dos pilares da “dobradinha” conquistada, nessa temporada de 1967/68, pelos “Verts”.
A sua rapidez, aliada a uma capacidade de drible fantástica, serviam na perfeição um pé esquerdo fenomenal. Nesse sentido, fosse na assistência aos colegas do ataque ou mesmo a finalizar, o jogador, a cada jornada cumprida, tornar-se-ia num dos intérpretes mais importantes das manobras ofensivas da equipa. Com a conquista do tricampeonato gaulês, nos 3 primeiros anos de Keita em França, o atleta passaria a ser muito conceituado. Com tamanha evolução, em 1970 ser-lhe-ia atribuído o título de Jogador Africano do Ano. No entanto, para a consagração ficar completa, faltava-lhe ainda um troféu no contexto das selecções. A tão almejada meta quase que a atingiria, dois anos passados sobre o referido prémio individual e com o Mali a chegar à final da CAN de 1972.
Curiosamente, esse mesmo ano haveria de marcar uma viragem na sua carreira. Acabado de chegar ao Marseille, o excesso de estrangeiros no seio do plantel, faria com que os dirigentes pressionassem o atleta a naturalizar-se francês. A veemente recusa por parte do jogador levaria com que, finda a temporada, Keita fosse transferido, não só para outro clube, como para outro campeonato. No Valência, o começo seria atribulado, com a desconfiança dos associados na sua contratação, a ser alimentada por intoleráveis comentários racistas vindos da imprensa espanhola – “El Valencia va a por alemanes y vuelve con un negro”*. Contudo, toda a polémica seria insuficiente para abalar o seu rendimento. Rapidamente, as boas exibições calariam as vozes reaccionárias que dele desdenhavam e os três anos que por lá passaria torná-lo-iam num dos futebolistas mais acarinhados pela massa adepta.
A última etapa na Europa cumpri-la-ia a convite do treinador inglês Jimmy Hagan. Depois de ter perdido alguma preponderância na equipa “Che”, Keita, já à beira dos 30 anos, assinaria pelo Sporting. Com o objectivo de fazer esquecer Yazalde e perante tão difícil meta, os golos começariam por faltar e a vitória na Taça de Portugal de 1977/78 saberia a pouco. A verdade é que a genialidade do seu futebol vingaria e, ao traçar o seu caminho, acabaria por formar, juntamente com Manuel Fernandes, Jordão e Manoel, um dos melhores sectores ofensivos da história leonina.
Depois de, nos Estados Unidos da América, ao serviço dos New England Tea Men, ter concluído a carreira, Keita regressaria ao Mali. No seu país, continuaria ligado à modalidade, primeiro com a criação do Centre Salif Keita (CSK) e, por fim, após cumprir o mandato como Ministro do Desporto, na Presidência da Federação Maliana de Futebol. Já em jeito de conclusão, só uma curiosidade. Foi da “escola” por si fundada que saiu uma das estrelas do futebol actual, o seu sobrinho e jogador do Barcelona, Seydou Keita.
 
*retirado do artigo de Ricardo Figueiredo, publicado a 08/12/2011, em https://aoutravisao.wordpress.com

CAN & PORTUGAL

Desde de que em 1957, no Sudão, foi, pela primeira vez, realizada a Taça das Nações Africanas, que o torneio é a principal montra do futebol do continente. No certame, muitos foram os jogadores revelados ao Mundo. Outros houve que aí confirmaram todo o potencial. Houve ainda aqueles que, de forma mais discreta, também participaram na dita disputa. Muito desse jogo, na pessoa dos atletas que tão orgulhosamente foram defendendo os seus países, também brilhou nos relvados lusos. É por isso mesmo que, por altura de mais uma edição, dedicamos este mês a alguns dos futebolistas que, ao representar os emblemas portugueses, participaram também na maior competição de selecções da CAF. Assim, passaremos Janeiro a falar de "CAN & Portugal"!